CAPÍTULO- NOVE

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Uma hora de angústia e aflição pairava sobre o hospital, envolvendo toda a atmosfera num manto de tristeza. O Chiamaka, considerado o maior hospital do Ruanda, era uma instituição de saúde prestigiada, localizada na cidade de Kigali. Sua sede, o imponente edifício Tchiaka, de estilo neoclássico, era um marco histórico-arquitetônico nacional desde 1981.

Como o maior e mais antigo hospital público do país, o Chiamaka era referência em cuidados gerais e diversas especialidades, desde tratamentos complexos até a maternidade. Apesar da segurança e qualidade dos serviços oferecidos, Sekane não conseguia conter o medo pela vida de seu primogênito. Ele se sentava, levantava e caminhava de um lado para o outro, suspirando enquanto observava o relógio, ansioso por notícias desde que o médico saiu.

As palavras da enfermeira ainda ecoavam em sua mente, causando-lhe dor de cabeça e tortura mental.

— Mas que merda! — Ele gritou, transtornado. — Eu quero notícias da minha esposa! — Disse ele, andando de um lado para o outro, passando a mão pelos cabelos desgrenhados.

Ao ver uma enfermeira passando, Sekane se colocou à sua frente, interrompendo seu caminho.

— Senhora, me diga como está minha esposa. Em que quarto ela está e onde está meu filho? O QUE ACONTECEU? — Ele perguntou, sacudindo a pobre mulher, que arregalou os olhos assustada.

Sekane estava extremamente agitado, e suas reações estavam deixando as pessoas ao redor assustadas.

— O que está acontecendo? Está louco? Solte-a! — Interviu Cláudia, se levantando e empurrando-o para longe.

Aterrorizada, a mulher saiu apressada dali. Sekane lançou um olhar raivoso para Cláudia, que permanecia neutra diante da situação. Sua respiração se acalmou a cada inspiração, mas seu rosto estava fechado enquanto se virava de costas para ela.

— Droga! — Ele praguejou, socando a parede.

— Controle-se, este é um hospital. — Alertou Cláudia.

— Cale-se.

— Olha, Sekane, estou aqui não por você, mas sim pela minha amiga, a propósito, você a abandonou. — Acusou Cláudia, apontando o dedo para ele.

Sekane se virou para ela, seu rosto desfigurado pela dor, seus olhos lançando um olhar frio e sombrio. Cláudia podia sentir a tensão funesta no ar.

— O que você disse? — Ele perguntou entre dentes. Antes que pudesse fazer qualquer coisa, o médico responsável por sua família surgiu, chamando a atenção de ambos.

Com uma expressão sombria, ele respirou fundo e olhou para Sekane e Cláudia. No olhar, Sekane podia ver sua alma sendo arrancada do corpo, seu coração afundando em um mar negro de desespero e angústia. Cláudia levou a mão à boca, incrédula com o que poderia vir.

O silêncio voltou a reinar, mas foi quebrado quando Sekane caiu de joelhos no chão e gritou.

— Não!

— Sinto muito, senhor, infelizmente não conseguimos salvar o bebê. — Disse o médico, engolindo em seco.

Sekane olhou para o homem de bata branca, os olhos marejados, e avançou nele. Agarrou-o pelo colarinho, enraivecido.

— Você sente muito? Você sente muito, é isso? — Sekane socou o médico sem pensar duas vezes, fazendo-o cair ao chão.

Cláudia saiu do choque e seguiu até Sekane.

— Se acalme.

— Me acalmar? Ele disse que meu filho estava bem. O que aconteceu, o que ele fez com meu filho? — Sekane berrou, tentando se soltar dela.

— Me larga, droga. Eu não quero saber.

— Senhor, por favor, tente se controlar, este não é um lugar para escândalos. — Advertiu o doutor, levantando-se do chão e limpando o canto da boca onde saía sangue.

Ainda mais enfurecido, Sekane tentou avançar no médico novamente, mas Cláudia não permitiu.

— Como? Como? — Perguntou Sekane, derrotado pela dor profunda em seu coração.

— Senhor Zaire, sentimos muito pela sua perda. De fato, o bebê nasceu bem, mas houve complicações com a hipóxia, uma condição em que não chega oxigênio suficiente às células e tecidos do corpo. Infelizmente, não conseguimos salvá-lo. — Explicou o médico.

Sekane sentiu seu mundo desmoronar, seu sonho de ser pai agora havia sido roubado. Como poderia conviver com essa dor, com a angústia de saber que não teria seu filho consigo? Tudo em sua vida parecia estar dando errado, como se fosse uma maldição ou um feitiço lançado contra ele. Mas por quê? Um homem tão bom para a sociedade, que nunca fizera mal a ninguém, por que tirarem dele sua descendência? Não era justo.

— Eu... Eu posso vê-lo? — Perguntou ele, após se soltar de Cláudia, que também estava devastada pela notícia.

Apesar da má relação entre eles, Cláudia sentia compaixão pelo colega, principalmente pela sua esposa, que era sua amiga.

— Claro. Venha. — Respondeu o médico. Os dois seguiram pelo imenso corredor até o necrotério, o local mais afastado das outras áreas por segurança aos pacientes.

Ao chegar, o médico indicou onde estava o bebê, deixando Sekane sozinho. Pela janela de vidro, ele observou seu filho sendo preparado. Incapaz de conter as emoções, Sekane desabou em lágrimas compulsivas. Sem saber o que fazer, ele saiu do local, pois não conseguiria suportar vê-lo assim. Não era assim que quereria ver seu filho pela primeira vez. Não, não era assim. A vida mais uma vez lhe tirara a oportunidade de ser feliz, mas uma vida sua se fora.

Sua alma chorava e clamava por justiça, por uma justiça que trouxesse felicidade. No entanto, apenas a desgraça parecia acompanhá-lo, impedindo-o de viver plenamente.

Sekane refazia o caminho, mas não para onde saíra inicialmente. Seu trajeto mudou em direção à saída do hospital. Precisava de um tempo sozinho para conseguir entender tudo. Custava-lhe a acreditar no ocorrido. Já dentro de seu carro, partiu sem olhar para trás. Os sentimentos de tristeza e ansiedade não lhe permitiam enxergar nada ao seu redor. Sekane conduzia sem rumo, incapaz de pensar com clareza diante da avalanche de emoções que o assolava.

Tantas perguntas,  surgem  colacando sua todas suas razões de viver  em dúvida.  Pois  do que adianta estas vivo se não pode ser feliz? Se e a felicidade não consegue alcançar? Não  ha motivo para tal.

O Mascarado |Dark Romance |Where stories live. Discover now