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Jade Baldassare

As vezes eu fico refletindo minhas escolhas, a minha vida no geral e pensando se um dia realmente quero ter filhos.

Eu já sabia o que me esperava quando resolvi entrar nesse intercâmbio, mas nada me preparou para a possibilidade das crianças realmente me enxergarem como uma segunda mãe e terem dificuldade em diferenciar o meu tratamento para o tratamento de Mariah.

Como por exemplo, em poucos meses de convívio direto, Cash e DJ já confiavam em mim cegamente ao ponto de irem para a minha cama de madrugada quando tinham pesadelos.

Ou então, mesmo com a presença de Natalie, Edward, Jacob ou de algum dos cunhados eles sempre iriam pedir permissão primeiro para minha pessoa, antes de fazer qualquer coisa.

Mya já estava familiarizada em ser cuidada a maior parte do tempo por mim e passou a me enxergar como conforto, esse conforto que antes ela só enxergava em Mariah e Jacob.

Eu provavelmente já vou estar repleta de experiências, mas será que parir uma criança e cria-la apenas como minha é ainda mais difícil?

A resposta com certeza é sim, então vamos deixar esse assunto de lado por uns bons anos enquanto e me dedico aos sobrinhos da minha namorada.

— Você vai gravar? - Cash perguntou me olhando posicionar o celular no balcão da cozinha.

— Sua avó quer recordações. - Iniciei a gravação.

Cash entrou na frente da câmera e começou a mostrar a língua e depois cutucou o dente mole com o dedo.

— Olha, meu dente tá mole mole! - Ele abriu mais a boca se mostrando na gravação me tirando uma risada.

— São duas e quatorze da manhã, estamos de pijama, vou viajar daqui a mais ou menos três horas e esse ser humano foi me acordar pra arrancar um dente. - Apontei para Cash que parou de mexer a boca para sorrir mostrando seus outros dentes. - Ter filhos deve ser sinistro.

Cash vestia seu conjunto de calça e blusa de manga cumprida do Spider Man e eu uma blusa três vezes maior que o meu tamanho da minha namorada que tinha a capa da trilogia de Scream como estampa, para finalizar, um shorts de moletom cinza que nem aparecia devido o tamanho da camiseta.

Graças a Deus eu havia finalizado e secado meu cabelo com difusor antes de dormir, então ele estava até que bem para uma metade cacheada que nunca dormia com touca de cetim.

O que foi bem inútil já que por ter duas texturas meu cabelo não durava um day after bom o suficiente pra mim, então eu acabaria lavando e finalizando tudo outra vez.

— Você não vai ter filhos, já tem a gente todos. - Ele me olhou parecendo fazer uma lógica extremamente cabível e com uma pitada de ciúmes.

— Realmente. - Concordei e deixei ele se exibir para câmera enquanto eu começava o nó no fio dental.

doendo pra comer tabom gente! - Ele exibiu à infirmação como algo muito importante.

— Pois é galera, estamos no desespero. - Dei uma risadinha não aguentando quando ele afirmou com a cabeça fazendo uma carinha e engraçada.

Nem tinha uma "galera", provavelmente os únicos espectadores dessa filmagem seriam minha sogra e meus cunhados, mas Cash amava gravar vídeos então eu quis entrar na brincadeira.

— Vai doer Jade? - Ele perguntou se afastando quando me aproximei com o fio dental.

— Da outra vez doeu? - Ele negou com a cabeça. - Então, vai ser rapidinho.

Ele começou a ficar com medo, era perceptível pela forma que segurou meus pulsos enquanto eu dava o nó com o fio dental em seu dente que já estava quase caindo sozinho.

Da primeira vez que arrancamos um dente dele juntos, nós amarramos o fio dental na maçaneta da porta e o DJ a fechou, mas com todos na casa dormindo não dava para fazer isso.

— Posso? - Ele negou com a cabeça rapidamente. - Você pode falar, só vou puxar quando você estiver pronto.

— Chama a Nana pra ela ver. - Ele estava mudando de assunto para disfarçar e me fazer demorar mais para arrancar o dente.

— Ela está dormindo, vida. - Suspirei claramente cansada, não dele, mas eu não tinha dormido nada. - Quer deixar cair sozinho?

— Não, não Jajá - Ele afastou a cabeça com os lábios já tremendo indicando que o choro estava querendo vir. - Você tira.

— Vem cá, me abraça. - Ele não protestou e logo agarrou minha cintura a apertando com força. - Você é tão corajoso! Não precisa ter medo.

— Não estou com medo. - Falou trêmulo e eu tive que segurar a risada.

— Ah, então conta até cinco e eu vou puxar, ok? - Ele negou com a cabeça. - Você não confia em mim?

— Confio, mas você conta, você conta! - Ele falou embolado e meio alto pelo desespero e o dente amarrado.

— Tudo bem, respira antes.

Puxei o ar com força e ele me imitou, repeti o "Inspira e Expira" mais algumas vezes e de forma bem lenta para acalma-lo. Demoramos a maior parte do tempo nesse exercício, mas não tinha importância ele apenas não precisava ser traumatizado arrancando o dente.

— Vou começar a contar. - Avisei e ele fechou os olhos com força afirmando com a cabeça. - Um...dois...três... quatro...cinco!

Como combinado, no cinco eu eu já tinha puxado o dente com a mão firme mas sem movimenta-la muito, ele deu um pulinho pela pressão mas não percebeu que o dente já tinha saído.

— Pronto. - Ergui o fio dental com o dente amarrado na ponta e ele abriu os olhos incrédulo.

— Nem doeu! - Cash pegou o dente da minha mão e me soltou ficando na frente do celular novamente. - Olha, meu dente já saiu e eu nem chorei.

— Você foi de mais, garoto! - Fizemos um hi-five e ele lavou a boca na pia.

— Agora vou dormir com a Jadinha. - Ele falou sapeca sorrindo, agora sem um dente, para a gravação.

— Vai nada, sua tia expulsa eu e você da cama. - Peguei o celular do balcão e virei à câmera para o filmar. - Manda um beijo.

Cash beijou minha bochecha antes de mandar um beijo para a câmera e saiu correndo escada a cima.

Após enviar o vídeo para Natalie e Mariah pois eu com certeza esqueceria depois, passei no quarto dos meninos e coloquei Cash para dormir e logo depois finalmente fui deitar com Jenna.

— Estava fazendo o que? - Levei um susto ao escutar a voz rouca da minha namorada. - Não consigo dormir direito sem você.

Jenna se explicou e me abraçou enquanto eu nos cobria novamente com o edredom.

— Arrancando o dente do Cash Money. - Fui respondida com um arzinho no pescoço, ela deu uma risada nasal enquanto se aconchegava ao meu corpo. - Não queria te acordar, desculpa princesa.

— Tudo bem, amor. - Ainda de olhos fechados ela procurou pela minha boca e recebi um selinho carinhoso.

— Escutou alguma coisa? - Ela negou rapidamente.

— Nada, ele não fez escândalo? - Neguei com a cabeça para sua resposta e agarrei sua cintura finalmente encontrando uma posição confortável.

Estávamos com tanto sono que o assunto morreu alí mesmo e dormimos as ultimas horinhas que nos restava até embarcarmos para o Brasil.

Au Pair | Jenna Ortega Where stories live. Discover now