Aurora

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“ 2 Meses Depois ”

Eu estava em repouso na casa da minha vó
Havia 2 Meses. Eu estava com 32 semanas de gestação (2 meses antes da data prevista para o parto)

Falava com meus pais por chamadas todos os dias. Todos os dias meus pai me atazanava a vida. Desde que sai do Brasil as únicas pessoas que mantenho contato são meus pais, alínea, Samuel e minha amiga Thay, porque Rayssa simplesmente não fala comigo como antes. Tia Shirley disse que a mesma anda com uns certos comportamentos.

Aurora: Pai, você não pode falar isso. Não é justo.

Ouvia meu pai me chantagear pela a milésima vez. Minha mãe havia chegado ontem de viagem, e tinha deixado ravy com ele. Mordo minha maçã enquanto assisto pela a chamada de vídeo ele fazendo algo pra ravy. Sinto uma dor forte incomoda no pé da barriga. Faço uma careta, meu pai me encara, parando o que estava fazendo.

Dc: Tú e feia com essa cara. Tá sentindo alguma coisa?

Aurora: Não diga isso! Estou sentindo dor.

Dc: Onde que está sua mãe?

Ele tinha um tom de voz preocupado.

Aurora: Ei, calma Sr Diego, está tudo bem. Minha mãe foi até a loja da minha vó, foi conhecer.

Sinto a dor um pouco mais intensa, pra não preocupar Sr Diego aviso que vou desligar a chamada pra ir ao banheiro. Ele reclama mais aceita.

Desligando o skype fui ao banheiro e percebi que deveria ir ao hospital pelo tipo de dor que estava sentindo. Liguei para a minha mãe e ela começou a dar uma surtada que não deveria ter me deixado sozinha. Mas não estava só , estava com a irmã do meu pai. Arrumo tudo com calma enquanto Sabrina surtava, e minha mãe não parava de me ligar.

Sabrina Chamou um táxi, ao meio dia, bem no horário de saída de almoços dos executivos do pico de movimento. Ou seja, ruas com intenso fluxo de carros. Por sorte, o motorista do tocado pela situação, me levou às pressas ao hospital.

Minha mãe me encontrou lá.

Tudo corria bem, não fosse o fato das contrações continuarem. Pouco mais de 36 horas de internação, muitas contrações e o ultrassom indicou grande queda do líquido amniótico. Era chegada a hora.

Meu obstetra passou no meu quarto às 9hs da manhã e disse que ao meio dia meu bebê nasceria. O meu pai estava há mais de  7.312 km de distância, mais a cada meia hora ele me ligava. Xingando até a quinta geração da minha mãe, por ter permitido eu vi para cá.

Eu oscilava entre tranquilidade e ansiedade. Porém, muito confiante nas palavras do meu médico, que para me acalmar, levou ao meu quarto a filha dele, enorme, que era também uma bebê prematura. Pelo ultrassom meu bebê pesava 2,500kg, tinha um bom peso para nascer. Além disso, toda a angústia da gestação de risco acabaria ali, com o nascimento.

Fomos para a sala de parto. Estava tocando Nando Reis. Eu me sentia bem, feliz, com vontade de cantar, mas também apreensiva com o que poderia acontecer. Minha mãe estava junto. E chegou a hora, meu pai ligou bem na hora e confesso que não esperava que ele fosse fazer, ele pediu pra minha mãe por o celular do meu lado, e ficou conversando comigo. Não parecia aquele traficante frio, mas um pai incrível e maravilhoso.

O clima estava ótimo, o Dr. e sua esposa também obstetra estavam serenos, num trabalho de parceria muito bonito. A outra parte da equipe também estava concentrada para que tudo corresse bem.

E foi quando ouvi o som mais lindo de toda a minha vida. O choro do meu bebê.

_ É uma menina amor.

_ puta merda, mais outra pra me dá trabalho.

Ouço meu pai xingando do outro lado da linha assim que minha mãe anunciando o sexo do meu bebê. Uma menina, uma princesa.

Meu bebê nasceu, chacoalhando as pernas, meio reclamando, e teve que ir direto para o oxigênio até que soubessem o real estado de saúde dela. A sensação foi de alegria com alívio. Sabia que minha filha estava bem, sentia que ela estava bem, e eu estava aliviada por ter chegado ao fim a caminhada da gestação. Muito antes do tempo, mas, confesso, essa angústia chegava ao fim.

Ela nasceu num domingo, às 12h04, com 2.350kg, medindo 46cm, cabelos castanhos Claros, meio carequinha e olhinhos bem fechados. Pudemos vê-la bem rapidinho. E ela foi para a UTI neo natal. Minha maior preocupação era se ela estava com a pulserinha de identificação correta.

Quando pude descer para a UTI, ainda não era horário de visitas, então minha mãe não pode entrar. Fui de cadeira de rodas, encaminhada pela enfermeira.

Enfim, pude ter meu primeiro contato com o maior amor da minha vida. A enfermeira que me recebeu, morena, 40 e poucos anos, me recebeu tão carinhosamente.
Meu pequeno milagre prematura estava lá, dentro da incubadora, olhos fechados, chutando, chutando o ar, tentando encontrar o limite que as pernas alcançariam. Quem sabe encontraria a minha barriga? Desde o primeiro instante já segurava forte o meu dedo, como quem diz “estou aqui, de verdade, firme e forte”.

Uma emoção indescritível. Meu coração estava muito apertado. Não pude pegá-la no colo, mas podia tocá-la e acalmá-la. Tão pequena… Era linda! Minha mãe tinha razão, era a mais linda do berçário! Ela era carequinha, com um pouco de cabelo castanho. Ela abria e fechava a boca como se fosse um peixinho ou um pequeno mamífero procurando seu alimento instintivamente. Me emocionei. Muito. Mas não senti medo. Senti que eu deveria ser forte, como ela me mostrava, para juntos sairmos da maternidade.

Voltei para o quarto com minha mãe, feliz por ter conhecido a minha filha.

No horário de visitas minha vó e minha tia pode conhecê-la. Foi lindo… Emocionante! Eu estava com minha filha no colo e liguei pro meu pai. Foi quando Samuel, tio Digão, turco apareceram olhando meu amorzinho.

Alicera: Já tem um nome pra ela?

Minha mãe perguntou enquanto eu olhava ao longe acariciando minha barriga sentindo um vazio.

Aurora: Aisha. “Vida” “viva”, "a que está viva.

Aurora: Perfeito e lindo minha filha. Estou muito orgulhosa de você filha.

Ela me abraça e fica comigo enquanto descanso. Meu coração aos poucos vai se cicatrizar.

O Lado Feio Do AmorWhere stories live. Discover now