19• Alicera

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Deixei as crias na escola e corri pro Embarcadero. Havia Marco duas grandes cirurgias para hoje.

Cheguei com minha equipe minutos antes de começar a cirurgia, para nos preparar.
Hoje era o terceiro dia seguido que estava de plantão. Amo estar presente, amo cuidar de perto dos meus pacientes.

Terminou era quase nove horas da noite, eu tava cansada, mortinha de vontade de ir pra casa mas a galera enrolou conversando mais.

Sílvia: Fica ruim pra você alicera, tú vai lá pro lado da Rocinha, vai dar essa volta toda? Relaxa, a gente vai de uber, se preocupa não.

Renata: O uber tá dando baratinho e eu já vou pedir um que tá a poucos minutos daqui.

Havia oferecido carona as minhas enfermeiras e colegas de trabalho.

Alicera: Vocês que sabem, vou seguir então! Até segunda feira meninas.

Falei tirando meu celular do bolso, elas se despediram e eu fui atrás do meu carro, já vendo o tanto de chamada perdida que tinha dos meus estresses.

Trabalhei hoje mas que uma condenada, mas a partir do momento que chegou em mim que a bala tava comendo sem dó na Rocinha, meu coração só faltou parar!
As meninas me pediam calma mas como gente? Com meu marido no meio trocando tiro? Meus filhos não estavam lá, nem minha irmã. Mais meu marido, amigos no meio desse inferno.

Mandava mensagem toda hora pra Shirley pra saber se alguém morreu. Se estava tudo bem, ela estava intocada no banque.

Fui ter uma sinal de vida do Diego já era tarde, ele me enviou uma foto sentado numa maca com o braço enfaixado. Avisando que tinha levado um tiro, porém havia sido de raspão. E Samuel tinha quebrado o braço, caiu não sei da onde com essa de ficar pulando de laje em laje igual macaco.

Graças a Deus né, menos mal. Nesse momento já relaxei, ele me tranquilizou dizendo que não tinha sido nada grave, que era pra mim ir ficar com as crianças e a alínea na casa do asfalto. Seria melhor, as ruas estava cheio de barreiras. Mais tu deu ouvidos? Nem eu.

Alicera: Amor, to dirigindo, não posso retornar ligação agora! (Áudio)

Falei assim que parei no primeiro sinal.

Conheço a peça que sou casada, ele deve tá espumando de ódio da minha cara, mas compromisso é compromisso, não desliguei o celular mas silenciei, nem senti ou vi que ele tava ligando.

Ele quer morrer quando me liga e eu não atendo, mas posso fazer o que? Ele sabe que eu estou ocupada e que dificilmente atendo chamadas quando tenho cirurgias agendadas.

Passei pela a barreira que estava fortemente armada.

_ E aí patroa.

Os meninos em cumprimentaram, só acenei fechando os vidros do carro e subi as ruas. Estava uma zorra de coisas queimadas, barreiras.

Chegando em casa entrei com o carro na garagem e desci com a minha bolsa, liguei o alarme do carro, assim que entrei já vi ele sentado no sofá, maior cara de cú quando virou pra mim, tô bem ligando. Deixa ele começar com graça.

Alicera: Boa noite amor. O que foi que tu tá parecendo um baiacu?

Perguntei como se nem soubesse, tirando meu sapato e a blusa.

DC: Não sei pra que porra tu tem um celular alicera, por que quando te liga tu nunca atende, só vai responder duas horas depois. Acho bem maneiro isso, teu marido no meio do fogo cruzado e tu nem aí porra.

Alicera: Eii, baixa a bola aí Sr. Dono da razão. Não me xinga não , que eu não vou entender legal não. E tá todo fudido porquê tava caçando arte, se tivesse em casa guardado tava bem! Tú sabe disso.
Eu estava muito ocupada , não tinha como atender! Não viu minha mensagem? E outra, não sabia de nenhuma operação não.

DC: Tô só observando tuas caminhada.

Era nítido que esse corno tinha usado as merdas dele.

Alicera : Observa ué, pode observar, tô atrás de macho nem viçando não. Muito menos tava vagabundando ai pela rua não! Me estressa não. Eu tenho que atender na hora que tú liga mas o bonitão sempre me atende na hora que eu ligo né?

Diego sabe ser um cú, ele sabe tirar qualquer um do sério. Sai de perto dele putassa, tomei meu banho, fui procurar o que comer e ele lá parado no mesmo lugar. Não disse nada, e eu vou dizer? Ele que lute. To é cansada pra bater boca.

Amanhã já era sábado, não trabalharia , era dia de dormir até tarde, vou ir até na praia só pra tirar estresse.

DC: Quero remédio, tô com muita dor.

O bonitão resolveu tirar a cara de cú e me pedir remédio. Levanto do sofá sem bater de boca com ele e vou até o armário onde guardo os medicamentos e pego um analgésico pra ele e entrego.

DC: Já falou com os meninos?

Perguntou de olhos fechados.

Alicera: Véi, tu é muito cara de cú Diego, tava todo enfezado agora a pouco. Agora tai igual quenga me perguntando as coisas como se nada tivesse acontecido. Falei sim, eles estão bem, vão ficar lá até amanhã.

Ele segura no meu braço me puxando pra cima dele. Me desequilibrei e cai em cima dele. Ele me puxa me segurando contra seu peito.

DC: Porra mulher, eu fiquei fudidamente com medo hoje. Achei que não ia ver mais os meus crias, nem tu. E quando os cara me ligaram falando que Samuel tinha caído. Porra na moral, já achei que tinha sido pego, ou que tinha levado a pior.

Vejo seus olhos ficando molhados. Passei a mão secando as lágrimas.

Alicera: Eles estão bem. E infelizmente, você sabe que esse caminho que o Samu escolheu, infelizmente não tem outra. Eu não desejo mau jamais Deus me livre, assim como oro pra Deus lhe guardar, e guardar meus filhos. Faço o mesmo com ele, Samuel é irmão dos meus filhos, vi esse abençoado crescer. Só que você precisa avaliar, vale a pena insistir pra ele entrar nessa vida amor?

Ele não disse mais nada, apenas me puxou e ficou me segurando contra si, me acomodei em seu peito e liguei a central puxando o edredom nos cobrindo e ficamos quietinhos um do lado do outro.

O Lado Feio Do AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora