TIME ANGELS

Capítulo 10 A PREPARAÇÃO

Deserto de Gobi - Sul da Mongólia.
Ano 1526

Sentado sob o topo de uma das inúmeras colinas rochosas que cercam um enorme pátio de areia e pedras, Khar Takhal observa em silêncio, uma grande multidão de guerreiros hunos festejar em torno de uma enorme fogueira. Eles bebem vinho e comem da carne de ratos e antílopes, enquanto dançam e cantam como se estivessem comemorando uma grande vitória.

Cerca de 2.400 guerreiros estão compartilhando o espaço entre a enorme área externa e a gigantesca caverna. Todos tomados por um frenesi bárbaro e selvagem, divididos entre a embriaguez, e duelos sanguinário em disputas por mulheres ou glória.

Há poucos minutos atrás, seu líder havia acalmado o ânimo dos famigerados guerreiros que demonstravam impaciência e extrema ansiedade de invadir e lutar contra os chineses, na expectativa de recuperar as terras que um dia pertenceu ao seu povo.

Khar Takhal tratou de lembra-los o qual habilidosos são diante de qualquer soldado que exista no mundo. Que Gengis Khan e Átila haviam deixado um enorme legado, ao ensinar o poder da lâmina e da flecha de um guerreiro huno. E que tal legado deve ser carregado e demonstrado não apenas com força, mas com sabedoria.

Lembrou-lhes da fraqueza dos chineses em subestima-los, achando que a quantidade de seu exército, poderá superar a qualidade dos guerreiros hunos. A vitória é certa e chegará no momento certo.

Para os hunos, a felicidade consiste em vencer os inimigos, em vê-los de joelhos à sua frente, em tirar-lhes suas propriedades, em saborear seu desespero, em ultrajar suas mulheres e filhas.
Mas para alcançar esse êxito, muitos sacrificarão suas vidas na batalha. Por essa razão, Takhal ordenou que comemorem enquanto ainda estão vivos. Pois quando estiverem no inferno, não haverá tempo para isso.

Como sempre, Narat está ao lado de Khar Takhal observando também a agitação lá embaixo. Ela está de pé com os braços cruzados e percebe quando uma figura se aproxima lentamente por trás deles.
Narat se vira, e enquanto fala, o ar que sai de sua boca rapidamente se transforma em vapor, sinalizando o frio seco e cortante comum das noites escuras do deserto de Gobi.

— Você realmente é muito confiante de si, bruxo... a sua ousadia está próximo de acabar, acredite.

A figura estranha trajada com um longo e desgastado manto com capuz que encobre e esconde todo o seu corpo e rosto ri discretamente das palavras venenosas da guerreira.

Ele então para na frente dela que o impede de passar e se apoia em seu cajado. As sombras que recai sobre ele, cria um aspecto sombrio, fazendo-o parecer fantasmagórico. Ele ergue um pouco a cabeça, e um olhar cinza claro surge da sombra criada pelo seu capuz, e passa a encarar Narat.

— Você está certa, minha cara... meus objetivos aqui estão chegando próximo ao fim. Mas não se preocupe... como disse, não represento ameaça a vocês. Seu mestre sabe disso, pois do contrário estaria morto à essa altura, não acha?... Sou, digamos... uma solução viável e eficaz pro que seu povo quer.

Narat cospe no chão e resmunga algo em silêncio. Ela nota que Khar Takhal a olha por cima do ombro e prontamente entende que ela deve deixar o forasteiro passar.

Ele se posiciona ao lado de Takhal, e após alguns segundos de silêncio, resolve falar.

— Acho interessante como você consegue convencer essa gente, apenas com poucas palavras... Vocês me chamam de bruxo, mas é você quem enfeitiça essas pessoas com promessas de uma vitória quase impossível. Eles o seguem e confiam em você cegamente, sem sequer questionar as possíveis probabilidades negativas que esta investida trará.

Khar Takhal continua em silêncio olhando abaixo da colina enquanto o estranho permanece do seu lado o encarando e falando.

— Existem praticamente um milhão de soldados chineses espalhados pelo território chinês. Só na cidade Imperial, na muralha e arredores de Pequim, acredito haver um pouco mais de 400 mil. Isto sem contar com a habilidosa guarda imperial comandada pelo temido general Fei Huang.