Capítulo 5 CONTROLE

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Tianjin - China
Ano 1526

----------- Mei Li -----------

— Medo... raiva... angústia... ansiedade... tristeza... sentimentos e emoções que podem facilmente te definir, ou destruir. Mas como lidar com algo que não podemos ver?...

— Controle.

— A habilidade de lidar com as próprias emoções em momentos intensos, sejam eles positivos ou negativos, controlando os sentimentos e expressando eles de maneira adequada em cada situação.

Enquanto ouço as palavras do meu pai, tento visualizar sua posição. Estou vedada... não consigo ver nada.
Ele está andando à minha volta, me circulando. Está segurando um pequeno bastão de bambu. Estamos no dojô.
Na minha mão, também um bastão de madeira. Um treino.
O objetivo: sentir onde ele está e ataca-lo. Mas ele se move como um fantasma... É quase imperceptível. Minha única base de orientação é sua voz.

— Não é fácil lutar contra você mesmo, controlar os sentimentos, manter a calma e o controle...

Ele está na minha frente... mas assim que eu o ataco...
— Heeeya!... — acontece como das outras vezes... eu acerto só o ar... — Aaaii!  — ... e ele me bate. Dessa vez uma pancada fraca na testa. Eu massageio a área dolorida e volto a me posicionar.

— Veja a raiva, o ódio, por exemplo... você esteve prisioneira deste sentimento por vários anos, filha... Foi submetida a situações propositadas que contribuíram que o ódio se engrenhasse em seu íntimo.

Sinto ele à minha esquerda... espero ele continuar falando pra me certificar.

— Infelizmente, esse sentimento passou a te cegar diante de situações que poderiam ser resolvidas de maneiras complacentes... ou seja...

Eu me viro rápido e desfiro um golpe lateral.

— Haaah!... Aa-aaaw!!... — e de novo ele desaparece como fumaça, e me acerta na bunda e na nuca.

— ... a raiva não te dá o controle da situação, ela tira a situação do seu controle. Não permita que emoções e sentimentos negativos controlem sua mente... o dano emocional não vem dos outros, ele é concebido e desenvolvido dentro de nós.

Este treino consiste em não só conseguir ataca-lo, mas também ouvir e gravar cada palavra de sabedoria que sai de sua boca.

— Quanto mais você disciplinar a mente, mais a terá sob controle.

Ouço a bastão dele raspar levemente o piso de madeira atrás de mim. Viro o bastão na minha direção e golpeio estucando pra trás. Em seguida eu o giro e tento acerta-lo com um golpe duplo lateral... e nada.

— Oourh!... — ai, essa doeu... me acertou bem nas costelas.

— Somente os tolos acham que o ódio é uma marca das pessoas fortes... aqueles que usam o ódio e a raiva como uma escalada para sua grandeza, vivem uma mentira. O ódio é o recurso dos covardes.

De repente sinto outra presença... não é meu pai, e não é humana. É uma... um tipo de energia. Algo intenso e forte.

— Aai!  — levo uma pancada leve na parte de trás da perna.

— Concentre-se, Li!

Estou tentando... mas essa energia está confundindo meus sentidos. Minha mente está divagando... flashes de memórias passada invadem meu cérebro. Vejo imagens espaçadas de um outro mestre... Um calafrio sobe pela minha espinha.

— Autocontrole... esse é o preço da sabedoria.

Tento me concentrar na voz do meu pai, mas não consigo. Ao invés disso, ouço a voz dele...

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