Capítulo 8 MENTIRAS

22 2 46
                                    


Litoral de Yaluijiang - província de Liaoning. China
Ano 1526

---------- Mei Li ----------

Estou no alto de um pequeno penhasco. Lá embaixo, as ondas do mar se chocam com violência contra as rochas. O dia amanheceu e faltam poucos minutos para o sol nascer. Mas já é possível ver alguns raios surgir no horizonte, colorindo algumas nuvens em um tom rosado.

O vento que vem do mar é forte e gelado, mas eu gosto... a visão do nascer do sol e o barulho das ondas me acalma e me faz relaxar por alguns instantes. Gostaria de ter mais tempo para aproveitar... principalmente sem ninguém esbravejando no meu ouvido.

Aqui é onde me encontraria com sensei Hanzô depois que saísse da muralha. Estou ferida e sangrando. Meu joelho está destruído. E pra piorar, não estou conseguindo me curar... sim, eu possuía essa habilidade também. E por motivos que não entendo, eu o perdi assim como perdi a habilidade sombra.

Mestre Hanzô continua falando e reclamando desde que cheguei. Está muito irritado por eu ter sido descoberta e alardeado os chineses na muralha. Ele está atrás de mim gesticulando e esbravejando em japonês achando que falhei em minha missão. Eu reviro os olhos e luto pra não me jogar deste penhasco, só pra não ter que ouvir mais sua voz.

Então eu me viro, com a mão sobre a ferida do braço e jogo o objeto estranho pra ele. O amuleto com o cristal vermelho.

Foi engraçado ver a reação dele ao se dar conta que, apesar de tudo, eu tive sucesso. Ele sorri e o suspende na altura dos seus olhos pra analisa-lo melhor. Eu pergunto o que é essa coisa mas ele não me responde.

De repente, diversos homens montados em cavalos se aproximam rapidamente de onde estamos. Estava distraída e não os notei. E acredito que Hanzô também não. Olho pros lados e vejo que não tenho como sair daqui a tempo. Eu coloco a máscara e cubro a cabeça com o capuz. O sensei permanece apenas com o capuz.

Eles param quando chegam perto e percebo enfim quem são... hunos! Deve haver uns 15 deles... o dia hoje está cheio de surpresas... e nenhuma delas tem sido boa.

O que eles estão fazendo desse lado da muralha? Como conseguiram atravessar?

Alguns descem dos cavalos e um deles se aproxima. É uma mulher... Ela tem duas espadas nas costas e também está com um capuz cobrindo a cabeça. A cicatriz em seu rosto chama a atenção. Percebo que somente dois continuam montados nos cavalos. Um está vestido com um manto velho e desgastado e um capuz grande que esconde todo o seu rosto. O outro é enorme... enquanto o encaro, ele olha pra mim. Eu me arrepio quando vejo seus olhos negros... e percebo enfim quem é...
Khar Takhal! O Peste Negra!

Eu nunca o vi antes... mas pela descrição que outros já fizeram, é ele!
Eu faria um favor pra toda a China se o matasse agora. Mas ferida e sem minhas habilidades, minhas chances são bem baixas.

— Olá velho... — diz a mulher quando chega perto. Ela também fala japonês... Ela tira o capuz e seus cabelos negros e curtos esvoaçam sobre o vento. — E então?...

Sensei permanece em silêncio por alguns segundos, e encara Takhal. Ele põe a mão sobre as costas e os hunos se assustam e ficam em alerta, apontando as flechas em nossa direção.

Então sensei pega o amuleto e o entrega a mulher. E fala desconfiado.

— Cumpri com a minha parte, Narat... espero que cumpra com a sua.

Ela sorri pra ele e depois olha pra trás e sinaliza pra um dos hunos, que se aproxima e lhe entrega algo. A mulher se vira novamente para o sensei e lhe joga um saco de tecido fechado com uma fina corda. Ele a abre e põe a mão dentro puxando e deixando cair novamente seu conteúdo que tilinta. Moedas de ouro.

TIME ANGELS Where stories live. Discover now