Capítulo 4 ESTRANHA ATRAÇÃO

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Tianjin - China
Ano 1526

----------- Mei Li -----------

Ninguém merece...
Falo pra mim mesma enquanto me olho no espelho. Estou parecendo uma boneca de porcelana... meus cabelos estão presos em um coque, enfeitado com um broche de pérolas e um grampo adornado com flores de Jade. Meu rosto parece o de um fantasma por causa do pó de arroz... em volta dos olhos, uma tonalidade azulada da cor do céu e nos lábios, um vermelho forte com sabor de morango e framboesa. Nas minhas orelhas, dois pesados brincos de ouro e pedras de jade.

Meus cílios estão pintados e duros... está incomodando bastante. Estou vestindo um irritante hanfu vermelho e branco, que é uma roupa de seda que consiste em um tecido de várias peças: um manto solto com decote aberto, uma saia longa, um vestido aberto dos lados, uma peça enrolado na cintura e mangas largas.

Fui torturada por quase uma hora pra me produzirem assim.

Pelo reflexo do espelho vejo minhas maquiadoras saindo do meu quarto e a madame Xiang parada na porta.

— Preciso ir à cozinha cuidar da distribuição da comida. Por favor se apresse e desça, senhorita Li. Os convidados já estão à mesa e seu pai aguarda sua presença.

Eu suspiro alto enquanto ainda me olho no espelho. Eu puxo uma pequena mecha de cabelo e a deixo pendurada na frente do meu rosto. Uma forma de manter minha identidade rebelde...

No caminho para descer a escada, eu passo pelo quarto do meu pai e paro no corredor. Sinto algo estranho vindo de lá e então retorno e afasto a porta de madeira revestida de papel. Eu entro olhando pro corredor pra me certificar de que não há ninguém.

Dentro, um local pequeno mas aconchegante. Vejo sua cama ao chão e duas mesinhas em cada lado. Um pequeno santuário no canto leste com velas e uma pintura de minha mãe. No lado sul, bem a minha frente, uma mesa com papéis, pergaminhos, pincéis e tintas. Ao lado, sua armadura e capacete de general descansa sobre um suporte de madeira. E em cima da mesa, uma pequena estante horizontal com ela pendurada em um suporte... A espada de meu pai. Uma Longquan. Forjada por Qin Zhao Han. Ela é linda... seu cabo é de bronze revestida com couro e possui um formato meio espiral em forma de dragão que envolve o início da lâmina. Há uma descrição prateada entalhada em seu aço... 'Jiānhùrén'... Guardiã.

Uma vez ouvi meu pai dizendo que ela foi forjada manualmente e possui uma lâmina de aço dobrada afiada em 12 processos de afiação.

Porém, o metal que foi feita não é deste mundo... é um aço azulado desconhecido, único. Foram preciso 5 dias numa fornalha superaquecida para derretê-lo. É indestrutível... místico.

Ouvi histórias de que meu pai derrotou mais de 50 guerreiros hunos sozinho em uma única batalha com essa espada.

Eu me aproximo dela e sinto uma estranha atração... sinto sua energia... o frio do seu aço... sinto como se estivesse me chamando.
Eu me aproximo mais e estendo a mão para toca-la... Vejo meus olhos refletidos na lâmina e sinto os pelos do meu corpo arrepiar. Por um momento, vejo ela trepidar em resposta ao avanço de minha mão. E então...

— Senhorita Li!
Eu me assusto e me viro rápido na direção da voz. A madame Xiang está na porta do quarto do meu pai de braços cruzados com as sobrancelhas baixas e olhos apertados.

— O que está fazendo aqui?! Estão todos te esperando. Seu pai está ficando impaciente! Por favor, vamos!

Eu assinto com a cabeça e volto a olhar pra espada. Aguardo alguns segundos só para ter certeza se estava imaginando coisas ou não, ao vê-la se mexer...

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