Capítulo 7 DÍVIDA DE SANGUE

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Tianjin - China
Ano 1526

---------- Mei LI ----------

Durante o tempo em que estive longe, sob o domínio do meu sequestrador e mestre, fui treinada para aceitar a escuridão. Em fazer dela minha aliada... um refúgio para esconder meus medos.

Dizem que é nas sombras e na escuridão que habitam as criaturas mais assustadoras. Que é durante a noite que elas aparecem para amedrontar a sua alma e corroer seu coração.

O medo é mais intenso e sempre mais forte na escuridão do que na luz... E para poder entende-lo a fim de domina-lo, tive que me tornar uma criatura das sombras. Habitar as trevas e viajar sob ela. Mas ainda assim, mesmo depois de aprender a domina-lo, tudo lá é... confuso.

Existe uma diferença entre entrar na escuridão, estar nela, e ser possuída por ela.
Quando entro nela, me sinto segura, protegida... mas quando ela vem até mim, me sinto vulnerável, presa... dominada.

À noite é onde enfrento minhas piores batalhas, pois tenho medo de dormir. Quando fecho os olhos, e sinto o corpo relaxar, é ótimo! Mas então, a escuridão me domina e passa a me atormentar por meio de meus sonhos... muitas vezes pelas lembranças da vida que tinha antes de meu pai me encontrar.

Tive pesadelos horríveis durante várias e várias noites... durante anos.
Com o tempo, os pesadelos foram diminuindo... substituídos por sonhos agradáveis de uma realidade tranquila que agora vivo. Mas ainda assim, tenho medo que retornem...

Por isso, que já a algum tempo, tenho saído a noite escondida, para praticar minhas habilidades em criminosos e bandidos. Isso me mantinha nas sombras, na escuridão, mas no controle sobre ela.
Mas agora que meu pai descobriu e me proibiu, estou presa às incertezas.

Já é tarde, e todos estão dormindo... menos eu. Estou deitada na minha cama ainda acordada, inquieta. Viro de um lado pro outro, indignada por não poder mais sair. Fico pensando e repensando onde eu falhei... como fui descoberta.

Meu pai voltou para Guangzhou hoje pela manhã junto com o capitão Wei Zhong e Liu Chen. Mas antes de ir, fez questão de reforçar sua ordem de aposentar meu ninjutsu. Pelos quatro dragões, que droga!

Acabo sendo vencida pelo cansaço e a exaustão de mais um dia de treinamento e tarefas domésticas chatas que a madame Xiang insiste que eu faça... meus olhos pesam e minha mente começa a divagar no meu subconsciente. Por mais que ainda relute, acabo me entregando à escuridão relaxante do sono. Luto com minha mente para não remeter às lembranças... E tento me concentrar em algo que me faça me sentir bem.
E por motivos que sou incapaz de entender, Liu Chen e seu sorriso estúpido foi a primeira imagem que me veio... Bem, não é um pesadelo, mas está longe de ser algo que me faça relaxar.

Já se passaram algumas horas desde que peguei no sono. E de repente, sinto algo estranho no ar... uma energia pesada. Meu corpo inteiro arrepia. Mas não vejo nada... não é sonho e nem pesadelo que está me incomodando assim. Começo a suar frio e luto para despertar, achando ser a solução para me libertar dessa estranha agonia.

Então eu abro os olhos e de imediato me arrependo. Saio de uma escuridão e entro em outra pior... pois o que vejo na minha frente é a personificação de todos os meus medos. A treva viva.

— Olá, 'Yuiitsi-no'...

Sensei Sasaki Hanzô?!... Está vivo! Não!...

— Já faz tempo, criança.

Sua voz está diferente... soa como um trovão, misturado ao som de uma besta fera. Cada palavra em japonês que sai de sua boca estremece minha cabeça e faz meu coração acelerar e doer. A escuridão do meu quarto se mescla à sua vestimenta escura. A única coisa que consigo ver nele com um pouco de nitidez são seus olhos que irradiam uma energia vermelha, que clareia de forma espectral seu rosto escondido por uma máscara. Sua imagem se desfoca e estremece, aumentando ainda mais a sensação de pavor. Seu corpo parece se dissolver aos poucos como fumaça.

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