— Se resolvermos a questão do shopping, você deixa a Rebeca ir?

— Que questão do shopping? — perguntei.

— Um destacamento do grupo de busca se separou do resto do pessoal em uma parte movimentada da cidade, há mais ou menos um mês — Samuel quem explicou, enquanto Pantera permanecia em silêncio. Sua expressão era difícil de decifrar. — Foram cercados por zumbis e acabaram se refugiando no shopping. O problema é que, durante a fuga, precisaram atirar em alguns zumbis, o que só atraiu mais até que tudo fugisse de controle.

— E como sequer sabem que eles estão vivos?

Pantera finalmente se pronunciou:

— Eles conseguiram chegar até o shopping, mas perderam quase tudo... mochilas, armas, aparelho de comunicação. — Ela suspirou. — Nos "comunicamos" com eles com cartazes e binóculos. Estão bem e têm suprimentos lá dentro, mas todo o estacionamento em volta do shopping está dominado por zumbis. Eles não conseguem sair e não conseguimos entrar.

— E as duas últimas tentativas de resgate foram falhas. Pessoas morreram. — Samuel falou e Pantera o fuzilou com o olhar de novo, como se não quisesse que ele continuasse. — Agora o grupo está na berlinda... arriscar outra operação com ainda menos gente ou, bom, deixá-los para morrer.

— Eles não ficarão lá para morrer! — Pantera ergueu a voz, mas quase imediatamente pareceu se arrepender. Então voltou ao seu habitual sibilo: — Vamos resolver isso com outra operação, mas como você pode muito bem perceber enquanto bisbilhota por aí: as pessoas estão passando fome e essa é a nossa prioridade!

Diante daquilo, não fui capaz de controlar qualquer impulso:

— Eu posso resolver. — Adiantei-me um passo para frente, mas dessa vez não queria criar mais confusão. — Posso resgatá-los. Já lidei com hordas de zumbis diversas outras vezes.

A forma como Pantera me encarou, sem qualquer fé no que eu dizia, me fez tropeçar nas palavras.

— E você pretende fazer isso sozinha? — sussurrou, ameaçadora. — Porque, como eu disse, temos outras prioridades.

— Não pretendo apenas resgatar as pessoas presas, mas também limpar completamente. Vocês terão acesso a tudo que tem lá. — Insisti, numa mistura de euforia e nervosismo. Eu nem sabia se era capaz de entregar tudo o que eu prometia, mas só queria aquela possibilidade, mesmo que ínfima, de ir embora dali e finalmente continuar a buscar pelos meus amigos desaparecidos. — Seria um grupo pequeno para executar, eu e Samuel...

— Você deve estar sonhando que acha que Carol vai deixar o filho dela sair numa missão suicida dessas.

— Isso é um problema meu e da minha mãe. — Meu amigo interrompeu.

— É? Você que acha. — Ela deu um sorriso irônico para ele.

Dei mais um passo em direção a Pantera, voltando para tão perto quanto eu estava enquanto ela segurava a gola da minha camiseta. Mei estava deitada perto de nós, mas ergueu as orelhas com a minha movimentação. Eu só queria recuperar a atenção da líder.

— E se eu fizer isso? Se eu conseguir resgatar aquelas pessoas e conquistar o shopping para você, eu posso ir embora?

A mulher ergueu uma sobrancelha, mas afinal cruzou os braços e me encarou de cima abaixo. Seu olhar não parecia muito impressionado, mas não era com ela que eu precisaria lidar, e sim com uma horda de zumbis.

— Já parou para pensar no que acontece se você não conseguir?

Lutei contra a vontade de morder o lábio inferior e olhar para Mei. Blefei, sabendo que era apenas graças ao álcool que me desinibia:

— Aí você tem um problema e uma boca para alimentar a menos. — Tentei transparecer confiança. Então, Mei se ergueu para se espreguiçar e sua movimentação chamou a minha atenção. Voltei os olhos para Pantera. — E ganha um cachorro novo.

Com aquilo, consegui pelo menos arrancar uma risada pouco impressionada dela. Mesmo que ela não estivesse mais me ameaçando com um bastão, a tensão no ambiente ficava palpável toda a vez que Pantera estava presente e temi que estivesse apenas testando sua paciência, até que ela finalmente me respondeu:

— Você é completamente lunática, mas como pretende encontrar outros também dispostos a jogarem a vida fora com você?

— Isso vai ser meu problema — respondi, mas imediatamente quis retirar aquelas palavras. Ela franziu as sobrancelhas, provavelmente incomodada com a minha petulância. — Estou te garantindo que você vai ter um shopping center até o final da semana que vem.

Pantera me encarou por longos segundos, então virou o rosto para observar também Samuel. Sua expressão ficou fechada por todo aquele tempo e, quando finalmente se abriu, foi para deixar escapar aquela risada de escárnio.

— Temos um acordo. — A mulher estendeu a mão calejada na minha direção. Tudo parecia tão irreal que até tive tempo de reparar em uma cicatriz no seu dedo indicador. — Se você convencer Ana ou Igor a te acompanharem, com um destacamento escolhido por eles. Então, vai ser uma honra ver você tentar não morrer com essa maluquice.

Quis franzir as sobrancelhas com aquela condição, mas não podia me dar ao luxo, agora que, pela primeira vez, tinha uma chance de realmente ir embora. Sustentei o olhar dela e estiquei meu próprio braço para aceitar o aperto de mão.

— Vai ser uma honra provar que você está me subestimando. 


✘✘✘


Nota da autora:

Boa noite, amigos 🖤

Um capítulo mais curtinho porque a mulher que voz fala acordou com uma virose e mal conseguiu sair da cama (apenas, claro, para concluir o capítulo). Daqui, vou direto descansar.

Espero que tenham gostado e a cada dia fico com mais medo do quão grande esse livro vai ficar...

Não sejam mordidos, pois ainda precisamos de mais tempo para descobrir✨

Em FúriaWhere stories live. Discover now