Capítulo 44

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A familiar letra de Dulce escrita a tinta risca o papel com um número: 2010. Viro as primeiras páginas. Não são livros. São diários. Diários de Dulce. Um para cada ano, desde que chegou à Norta e nos casamos. Treze diários, para treze anos de nosso matrimônio. Pego todos, tranco o compartimento outra vez e penduro a chave em meu pescoço.

...

Nas próximas semanas, minha vida se resumia a três atividades: meus compromissos de Rei, dar atenção às minhas filhas e a leitura cuidadosa dos diários de Dulce. Com eles, podia estar perto dela de alguma forma, para além de estar todo o tempo possível ao lado de sua cama, naquele quarto. Quando ela acordar, quero que saiba que estou ali. Porque sei que ela vai acordar. Quase ouvia sua voz ao lê-los, sentia todo o amor que um dia pensei ter morrido dentro de mim ali, explodindo em meu coração. Como um dia pude pensar que não a amava?

Os últimos três diários me enchiam de dor, angústia, e ódio de mim mesmo. Sentia cada lágrima dela, cada vez em que dei um golpe em seu coração. A dor da perda de cada um de nossos filhos, seus medos, esperanças... seu amor por mim. Tudo estava ali naquelas páginas.

Quatro meses tinham se passado desde o fatídico dia.Aquela noite de terror em que pensei que ela estava morta, caída na neve. A primavera já havia chegado, e a neve derretia, enquanto Dulce permanecia ali, imóvel. Até que escuto um movimento na cama. Penso estar delirando, mas acontece de novo. Olho para ela. Dulce está de olhos abertos:

Ucker: Dul? Pode me ouvir?


P.O.V. Dulce

Meus olhos estão pesados quando começo a piscar, e minha boca está seca. Onde estou? Minha cabeça está doendo, demoro um instante para perceber que é o quarto do hospital. Como vim parar aqui? Minhas lembranças estão embaçadas:

Ucker: Dul? Pode me ouvir? - afirmo com a cabeça, confusa. Ele parecia cansado, exausto até. Havia círculos escuros ao redor de seus olhos, que estavam vermelhos e inchados. A barba estava por fazer, e sua roupa desalinhada. Seus cabelos estavam uma bagunça, como se tivesse passado as mãos mil vezes neles. - Dul... - os olhos dele estão marejando - fique acordada, por favor. - DOUTOR!

Poucos segundos depois, uma equipe entra ali e passa a me examinar. Respondo a perguntas balançando a cabeça, e o médico me pede para ficar acordada a todo custo, o que é um tanto difícil, meus olhos parecem pesar uma tonelada, mas me esforço. Não entendo bem o que dizem, e meus pulmões queimam quando o tubo que estava usando para receber oxigênio é removido por minha garganta, fazendo lágrimas arder, o que é até bom, pois lubrificam meus olhos. Depois do que me parece uma eternidade, todos saem dali, vejo o médico trocar sussurros com Christopher, que apenas concorda com a cabeça. Ele vem até mim, e eu tenho um milhão de perguntas:

Ucker: Como se sente?

Dul: Por que estou aqui?

Ucker: Você não se lembra?

Dul: Me lembrar do que?

Ucker: Eu te encontrei caída na neve, no meio da tempestade. Você estava desmaiada... - enquanto ele fala, flashes disparam na minha memória. Eu perdi meu bebê... estava tão triste... eu sai andando, meio desnorteada. Estava escuro e muito frio. Não há mais lembranças depois disso. - Dul, querida? Se lembra?

Dul: S-s-sim, me lembro.

Ucker: Você ficou gravemente doente, Dul. E-eu quase perdi você. Por que, Dul? Por que fez aquilo?

Dul: E-eu não sei bem. Só estava tão... - sinto minhas lágrimas brotar.

Ucker: Não, não chore. - ele envolve minha cabeça em seus braços me abraçam. - Está tudo bem agora. Estou aqui com você.

Como DueleWhere stories live. Discover now