Capítulo 19

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P.O.V. Dulce

Não conseguia acreditar. Meu bebê estava morto. Dentro de mim. Christopher saiu com o médico, e uma equipe de enfermeiras com olhares piedosos de repente estava na maca, colocando um acesso para medicação. Até aquele momento, não consegui ter reação alguma. Mas, no instante em que senti as familiares dores de contração, fui puxada de volta à realidade:

Dul: O-o que é isso? - gaguejei.

Enfermeira: Nós... teremos que fazer o processo de expulsão, Majestade. - Christopher e o médico voltaram à sala, em silêncio. Outra contração me fez me contorcer. Era como se o bebê estivesse prestes a nascer.

Dul: O que isso quer dizer? - perguntei, entre lágrimas de dor e desespero - Eu não entendo. - Olhei para todos os olhos à minha volta, à procura de uma resposta. As enfermeiras desviaram o olhar, e Christopher se limitou a abraçar meus ombros e esconder o rosto entre meus cabelos. Ele estava soluçando. - Mais uma contratação, gemi de dor.

Médico: Nós... teremos que fazer o parto, Majestade. Sinto muito. Vamos começar uma dilatação e evacuação para remover o feto. O medicamento colocado é para ajudar a abrir o colo do útero.


P.O.V. Ucker

Diferente de um parto normal, foi tudo muito rápido. Em menos de 20 minutos, aconteceu. Dulce estava chorando como nunca vi, mas recusava-se a abrir os olhos. Eu ainda estava apoiado em sua cabeça, chorando silenciosamente enquanto ouvia minha esposa sentir dor:

Médico: Passamos pelo primeiro estágio, Majestades. - ele disse, de modo respeitoso. - Teremos que... fazer uma curetagem por sucção para remover a placenta. - um tubo flexível foi inserido no útero de Dulce e conectado a uma máquina de sucção elétrica, que aspirava o tecido.

As enfermeiras ajudaram-na a se levantar e, pela primeira vez, nossos olhos cheios de dor encontram-se. Foi muito difícil não desabar, nem abraçá-la até extinguir seu sofrimento, mas antes que pudesse fazer algo, ela foi levada para se lavar.

Médico: Ministraremos alguns remédios para dor e prevenção de hemorragia. Mais uma vez, sinto muito por isso, Majestade. Perder o Príncipe é um sofrimento à toda Norta.

Ucker: Era um menino? - perguntei, muito baixo, pois sentia não ter voz. Ele afirmou com a cabeça. - Posso vê-lo? - ele hesitou, mas me levou até onde eu queria. Meu filho tinha menos de 30 centímetros, e com certeza devia pesar pouco mais de meio quilo. A pele cinza-azulada era um lembrete de sua situação. Os olhos fechados. Escorado na parede, deslizei até o chão, enfiando o rosto entre as mãos para chorar.

Hakon: Christopher... - nem o ouvi chegar - Eu... eu sinto muito. - Ele me ajudou a levantar e me abraçou, permitindo que eu chorasse.

Ucker: Olhe pra ele... era tão pequeno... como logo tão ruim pode acontecer a um bebê?

Hakon: Tenha forças, meu amigo. - chorei por mais alguns momentos, então engoli a dor.

Ucker: Ninguém, absolutamente ninguém, entra nos aposentos Reais. Eu solicitarei as refeições e o que mais precisar. Nem mesmo minhas filhas. Não quero que vejam a mãe nesse estado. Você me substitui nas reuniões nos próximos dias. Apague qualquer incêndio necessário, Hakon. Minha esposa precisa de mim agora.

Hakon: Pode contar comigo. - me despedi com um aceno, fui ao meu aposento particular, tomei um banho e deixei as lágrimas serem levadas pelo ralo, então me dirigi até o quarto que divido com Dulce. Respirei fundo.

Minha esposa estava sentada no centro da cama, olhando fixamente para frente. Com cautela, deslizei com ela por baixo do edredom e trouxe seu troco para perto de mim. Então ela se permitiu chorar. Apenas a abracei e acolhi, ouvindo seus soluços por muito tempo, até ficarem baixinhos e ela adormecer pela exaustão.

Não dormi naquela noite, porque tinha medo. Quando acordasse, sabia que toda dor apagada por algumas horas me atingiria outra vez. E temia sobre a maneira que isso afetaria Dulce quando ela despertasse.


P.O.V. Dulce

Despertei nos braços de Christopher. Ele estava parcialmente sentado, deve ter pegado no sono há pouco. A dor da perda me atinge como um soco quando ponho as mãos sobre a barriga e lembro que meu bebê não está mais ali. Levanto cambaleante, sem acordá-lo, e caminho até o banheiro. Preciso de um banho. Tem muito sangue, um lembrete constante de que eu falhei. Tentava não sentir culpa, mas era incapaz. "Essas coisas acontecem", disse o médico ontem. Mas me culparia para sempre pela perda do meu bebê. Tirei as roupas e ia entrar no chuveiro, mas não conseguia avançar. Fiquei ali, nua, parada em frente ao vidro do box, olhando para o sangue que escorria:

Ucker: Dul? - ele chamou, mas não me mexi. Suas mãos alcançaram meus ombros. - O que está fazendo?

Dul: E-e-eu ia tomar um banho. - As lágrimas vieram como uma torrente, meu corpo soluçava e tremia.

Ucker: Tudo bem. - ele disse, num sussurro. Christopher ligou o chuveiro, tirou rapidamente as próprias roupas e entrou no banho comigo, permitindo que me escondesse em seu peito e chorasse, enquanto a água escorria. Não sei quanto isso durou, me me lembro de muito depois disso, além de ele me secar, vestir e levar para a cama. - Vamos comer? - balancei a cabeça negando. - Tudo bem. Deite aqui. - Voltei a chorar até dormir.


P.O.V. Ucker

Os dias foram passando, mas Dulce continuava mal comendo e chorando quase todo o tempo. Estava muito preocupada com ela. Por diversas vezes a flagrei apenas olhando para o sangue que ainda saía dela. Precisava cuidar da minha esposa:

Ucker: Meu amor?

Dul: O que? - ela disse baixinho, quase sussurrando.

Ucker: Eu... vou mandar servir nosso café da manhã aqui.

Dul: Está bem.

Ucker: Podemos comer juntos. - ela negou.

Dul: Não estou com fome.

Ucker: Tudo bem. As meninas vem aqui hoje.

Dul: Elas vêm?

Ucker: Sim. Que tal se... você comesse algumas frutas, para incentivar a Zahra? Sabe... só um pouquinho.

Dul: Talvez... talvez seja uma boa ideia. - suspirei, aliviado. Ela arrumou os cabelos e se endireitou enquanto mandava trazer nossas filhas e a refeição. Ela conseguiu sorrir quando nossas filhas subiram na cama, beijando-as várias vezes.

Astrid: Oi mamãe.

Zahra: Saudade, mamãe.

Dul: Eu sei, mas agora estou bem aqui, com vocês. - ela sorriu para mim, e seus lábios formaram um "obrigada", só para que eu visse. Respondi com um "eu te amo".

Ela tomou o café da manhã.

Como DueleWhere stories live. Discover now