Capítulo 20

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Sete meses depois...

P.O.V. Dulce

Estava recuperada. Foram tempos difíceis, mas uma Rainha não se pode dar ao luxo de parar sua vida por seus sentimentos. Norta precisava de mim, não deixaria o Reino na mão. Concentrei minhas tristezas em trabalhos de caridade ao povo, doações de brinquedos e roupas a orfanatos e outros projetos que melhorassem a vida dos súditos, porque esses muito me importavam. A felicidade de um bom monarca deve vir se um povo feliz.

Embora minhas filhas não pudessem deixar o palácio fora de ocasiões oficiais, por questões de segurança, percebi que o povo era muito curioso em relação a vida das princesas, e decidi que seria adequado promover interações curtas, ainda que via internet, com outras crianças, seria bom para elas também. Astrid e Zahra frequentemente falavam em vídeo chamadas com crianças em sala de aula, compartilhando momentos de sua infância e trocando palavras com pessoas de sua idade.

Gyda: Majestade? - ela chama, tirando-me do devaneio.

Dul: Desculpe, estava distraída. O que disse?

Gyda: O Rei solicita vossa presença no escritório dele.

Dul: Claro. Estou indo. - O que será que Christopher queria falar que não poderia esperar o anoitecer? Ando até lá.

Ucker: Entre. - ele sorri ao me ver passar - Olá, meu amor. Venha. - Me aproximo, e ele se levanta, dando a volta na mesa para me receber.

Dul: Você mandou me chamar?

Ucker: Sim! - ele segura minhas mãos e as beija, depois me puxa para si. - É redundância falar de sua beleza, mas sou incapaz de me calar.

Dul: Obrigada. - Me afastei para olhá-lo nos olhos. - Aconteceu alguma coisa? - Sua expressão ficou um pouco mais séria.

Ucker: Sente-se, minha rainha. - Ele apontou a cadeira à nossa frente, e aceitei seu convite. Ele contornou sua mesa, ocupando a cadeira do lado oposto. Juntando as mãos e respirando fundo, ele começou a falar. - Meu amor, estamos casados há seis anos. Temos agora 26 e 24 anos, e juntos conquistamos muito mais do que qualquer outro casal de Monarcas na história dos Treze Reinos realizou, sendo tão jovens.

Dul: Mas...?

Ucker: Direta. Certo. Também serei. Nós precisamos tentar ter outro filho, Dul. Preciso de um herdeiro ao Trono.

Dul: Christopher... - tinha medo de que esse assunto viesse à tona, pois no fundo não estava pronta para falar sobre isso. - Eu não sei se estou pronta para isso.

Ucker: Entendo que tudo que passamos tenha sido difícil, mas é algo no qual devemos pensar. Como Monarcas. - Seu modo calmo e metódico de falar estava conseguindo me tirar do sério.

Dul: Então, como Monarca, você achou que seria prudente trazer sua esposa para um escritório e tratar o assunto de conceber uma criança como se fosse uma reunião comum? - perguntei, com a voz saindo mais irritada do que gostaria.

Ucker: Dul, eu só estou tentando me distanciar das minhas emoções para focar na parte prática.

Dul: Focar na parte prática? Acha que estamos falando de construir uma rodovia? E desde quando nos tornamos o tipo de casal que resolve coisas pessoais numa sala de reuniões?

Ucker: É algo que precisamos fazer! - sua paciência parecia estar se esgotando

Dul: Para você é fácil falar! Não é você quem carrega uma criança ou sente as dores de trazê-la ao mundo!

Ucker: Eu perdi um filho também, Dulce!

Dul: E você se esquece que eu também perdi? Eu tive que dar à luz uma criança morta, Christopher! Não estou preparada para outra gravidez!

Ucker: Já faz muito tempo! E é sua obrigação! - arregalei os olhos, chocada demais com o que tinha ouvido.

Dul: Minha obrigação? Acha que essa é minha única função como esposa e Rainha? Gerar crianças quando for da sua vontade?

Ucker: Você deve me dar um herdeiro! Não vê? Da última vez que começamos a tentar demorou quase um ano para que você ficasse grávida! Deus lá sabe quanto mais pode demorar! E se tivermos uma menina? Não há tempo a perder! É sua obrigação! - Me levantei, num sobressalto.

Dul: E a sua obrigação é me respeitar! - fui em direção a porta.

Ucker: Não me dê as costas!

Dul: Vou para meus aposentos privados, Christopher. E sugiro que não resolva me importunar mais. - Bati a porta com força e saí quase correndo.

Me joguei de costas na cama, um misto de sentimentos me dominavam. Raiva? Desespero? Rancor? Tristeza? Não sabia dizer. Como Christopher podia ter falado comigo daquele jeito? Me joguei de costas na cama do quarto que fora meu quando cheguei a Norta. As lágrimas escorriam do meu rosto em direção aos travesseiros, por muito tempo, até que o sol deu lugar à lua e eu adormeci.

Christopher não me procurou nos próximos dias, nem mesmo fizemos nossas refeições juntos. Soube que ele também estava dormindo em seu antigo quarto, nosso leito conjugal permanecia vazio. Me recusava a falar com ele, não ia me arrastar atrás de alguém que tinha gritado comigo, conhecia minha posição dentro da Realeza e jamais me rebaixaria. Continuei minha rotina habitual, dividindo meu tempo entre meus trabalhos e minhas filhas, que eram minha maior alegria nesse mundo:

Hakon: Majestade? Posso entrar? - ele disse, colocando apenas a cabeça do lado de dentro do meu escritório.

Dul: Claro. - ele pára em frente à minha mesa, fazendo uma breve reverência. - Em que posso ajudá-lo, Hakon?

Hakon: O Rei me pediu para chamá-la. Preparou um carro para Vossa Alteza encontrá-lo.

Dul: Pois diga ao Rei que estou ocupada. - disse, mexendo em alguns papéis em cima da mesa.

Hakon: Devo insistir, minha Rainha. - o encarei, e vi que ele exibia seu sorriso bondoso. - Se posso dar minha opinião, acredito que vá gostar muito de juntar-se ao Rei. - ponderei sobre o que ele disse, parecia saber mais que eu. Me levantei, contornando a mesa.

Dul: Nesse caso, vou seguir seu conselho. - gostava de Hakon, e não queria que se desentendesse com Christopher por minha causa. - Onde está meu carro?


P.O.V. Ucker

Estava tão nervoso que minhas mãos suavam. Dulce aceitaria meu convite? Sabia o quanto a Rainha podia ser geniosa quando irritada, e não podia culpá-la por isso. Mas, se Dulce não aparecesse me sentiria ridículo, parado junto àquela árvore no meio de seu campo de flores, com tudo que preparei para nós dois. Quer dizer, uma tenda e um piquenique ao ar livre são bem românticos, certo? Quando fui avisado via mensagem por Hakon que Dulce estava a caminho, quase pulei em euforia. Ela se aproximou, havia uma expressão indecifrável em seus olhos:

Dul: O que é tudo isso? - sua voz não indicava raiva, o que era bom.

Ucker: Eu preparei, para nós dois.

Dul: Por que?

Ucker: Porque quero me desculpar pelo modo como falei com você, dias atrás. - dei alguns passos, eliminando a distância que havia entre nós. Os olhos de Dulce me examinavam. - Nada justifica a forma como falei com você, Dul. Eu te amo tanto! E você me faz muito feliz. Não quero que se sinta pressionada, nem que sinta nada de ruim. Meu papel é de proteger você, não te afastar. Pode me perdoar? - Dulce soltou um longo suspiro, olhando em volta mais uma vez antes de encontrar meus olhos.

Dul: Como poderia dizer não a você? - seu sorriso suave era o indicativo de que tudo ficaria bem, e pude finalmente sentir-me aliviado. Sem querer passar mais nenhum segundo longe da mulher que amava, segurei sua nuca e a puxei em minha direção, provando seus lábios doces.

Como DueleWhere stories live. Discover now