17 | Testemunha

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A água que cobre o asfalto da noite chuvosa é jogada quando o carro passa em alta velocidade. A pista agora possui algumas placas de sinalização, que torna mais fácil guiar pela estrada estreita e cercada por pinheiros.

O silêncio era absoluto e imaculado, como se este fosse sagrado, nem ele, tão pouco eu, ousaria a quebrá-lo. Assim seguimos até alcançarmos o caminhão, que entra em outra estrada de chão, dessa vez cercada por árvores e mais uma vez, Harry, reduz a velocidade para tomar distância.

A chuva forte ainda cai, gerando uma leve neblina que nos ajuda a não sermos vistos.

Pelo pouco que me foi explicado ele precisa ser rápido, esperar a oportunidade, armar o dispositivo e sair sem ser visto. Não tem que ser um plano perfeito e sim óbvio, tem que ser óbvio que a explosão não foi um acidente e sim uma ideia orquestrada. Um presente do Zayn.

Posterior a nossa calorosa discussão no pedágio eu ganhei uma braçadeira no meu pulso, em reconhecimento ao meu temperamento hostil de mais cedo. Harry olha para o sangue seco no nariz, através do retrovisor, ele toca na ponta machucada e geme com a dor aguda.

— Foi mal... Pelo nariz. — Digo.

Não aguento mais o silêncio entre a gente e a ideia de voltar sem falar nada me apavora, a minha paz com ele é algo essencial para minha segurança.

Apesar de em parte está por conta própria ter alguém com o histórico de Harry como aliado não me parece tão ruim, entretanto sinto que tenho que ignorar quase tudo o que me cerca. A reflexão seria o meu mal maior, não me sinto tão apta a lidar com a minha atual realidade. As coisas se alteram rapidamente e já nem sei como vim até tal destino.

Ele finalmente me olha. Os olhos estão estreitos e os lábios comprimidos. Ele está com raiva e a mão sobre a arma, agora carregada, indica isso. Eu não gostaria de descobrir se ele seria capaz, embora parte em mim saiba que não. Um corpo a mais para ser descartado vai atrapalhar os planos de Harry

Levo minha mão até a perna dele e em uma fração de segundos, ele agarra a arma e me esquivo antes mesmo que ele a pegue de fato. Harry suspira e finalmente abre a boca depois de horas.

— Estou cansado! Não durmo direito há três noites, não tenho certezas, apenas preocupações e agora arrastei mais uma.

Harry solta um longo e exausto suspiro. O olhar é estreito como se as pálpebras fossem se fechar a qualquer momento.

— Eu realmente estava tentando ser legal com você, Jade, reconheço que é a pessoa errada no lugar errado, na hora errada e na companhia errada. Acho que te dei um pouco mais do que poderia suportar e agora minha consciência me fez te arrastar comigo para cá.

Ele está tenso enquanto fala, consigo ver isso através dos olhos opacos e na tensão de cada músculo do seu braço, que conduz sobre a noite. O que ele está a fazer, uma confissão?

— Claramente cometi um erro e até achar uma forma de me livrar de você terei que aturar sua companhia e você a minha, como João e Maria em busca do pote no fim do arco íris. Não torne isso um martírio, não me faça ter vontade de arrancar meus próprios olhos. Então pare, Jade! Apenas pare de testar a minha paciência.

Estou um pouco perplexa demais para responder. Não sei se ele pensa enquanto fala ou se a exaustão o levou a isso. Então me reservo ao silêncio enquanto o ouço.

— Eu sou apenas um homem que precisa de paz, então pelo amor que há pela sua vida, me deixe em paz e não toque em mim de novo.

Meus lábios entreabertos soltam o ar quando a mão sobre a arma volta a pousar sobre no volante e meu olhar está vidrado no rosto, agora inanimado.

CHELSEA - A Ascenção De Um Narco (H.S)Where stories live. Discover now