2 | O homem à porta

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Estou a horas deitada no fino colchonete no chão e me remexo umas mil vezes antes de fechar meus olhos. Sinto-me vigiada, a cada uma hora um homem pálido e de cabelos negros sobe para verificar a gente. Dizem ser para nossa segurança, eu diria que o motivo é para que ninguém saia pela noite, visto que durante esse horário este lugar costuma ser bem movimentado, mas de uma forma estranha, entre sussurros.

Me remexo mais uma vez e abro meus olhos. À frente vejo Cece na cama, mexendo no celular. O cheiro mofado fechou meu peito e mal consigo respirar. O nariz entupido me condena ao não sono e insistentemente volto a apertar meus olhos.

Preciso descansar. Entretanto logo salto assustada com o barulho abrupto. Em total alerta, me agarro aos lençóis.

Os olhares estão atentos e o barulho volta. O som de cachorros latindo me faz engolir em seco. Esse seria um ótimo momento para o cara que nos visita aparecer. Roubos deste lado da cidade é frequente, uma janela aberta e um convite está feito.

── Fala sério. ── Paula murmura ── Ninguém dorme nesse lugar, amanhã eu trabalho, porra.

── Todo Mundo, Paula. ── Responde Cece.

Todas nós nos olhamos, esperando que a primeira se levante a fim de verificar o que está acontecendo do lado de fora. Olhos bem abertos que encaram a varanda e o barulho volta, desta vez mais fácil de ser identificado, parece ser um carro. Portas de carro batendo.

── Giulia se você sabe de algo... ── Diz Paula encarando a garota de cabelos negros. A mesma que conversava com Nancy mais cedo. — Seria ótimo compartilhar.

── Seria ótimo alguém levantar. ── Retruca Cece e bufo.

Me levanto e vou até a sacada e minhas mãos tocam o vidro da porta, minha respiração se suspende e meus batimentos vão ao alto quando vejo uma caminhoneta preta parada em frente à casa. A porta está aberta e um homem caminha com calma até o porta malas, as mãos sujas de sangue o faz grunhir ao arrasta algo para fora ou.... Alguém.

Um homem é jogado na rua, como nada ele é deixado ali, ferido. As portas se batem e o provável agressor vai embora, tão rápido que me fez questionar se de fato vi o que vi; Pensaria que foi um vulto, um vislumbre se não fosse... O rapaz debruçado e ferido no chão. Por mais comum que isso possa parecer por aqui, confesso que ainda não tinha tido contato com algo minimamente parecido.

── Gente... ── Falo, me aproximando mais do corrimão para ver se não estou louca e as meninas me acompanham em seguida. ── Desovaram uma pessoa, aqui na porta.

Giulia se aperta entre as meninas para alcançar a sacada e ela para ao meu lado o observando. Os pulmões dela sugam todo o ar ao redor, os olhos castanho de Giulia estão tão saltados que poderiam pular das pálpebras e ela leva a mão até a boca.

── Porra! ── Ela pragueja direcionando-se de volta ao quarto e corro a acompanhando. ── É ele... É o Harry! ── A voz fina de Giulia é carregada e ela parece aflita.

O pequeno quarto fica movimentado, dentre semblantes interrogativos e preocupantes. Elas se entre olham, como aquelas pessoas que sem dizer uma única palavra se comunicam entre olhares sorrateiros. Me encosto na parede, estou dispersa a respeito do que e de quem se trata.

── De novo?! Achei que dessa vez tinham conseguido pegar ele. ── Paula esbraveja aparentemente irritada e alguns olhares de desaprovação recaem sobre ela. ── Com ele morto ou vivo, amanhã eu trabalho. Seja o que for não é da nossa conta. ── Ela se direciona para a cama e volta a deitar.

── Não acho seguro...──Diz Cece olhando para Giulia que se cobre com um sobretudo vinho, escondendo o fino pijama listrado.

Giulia calça os chinelos gastos e amarelados e caminha determinada até a porta, pouco antes de correr para fora do quarto e sem pensar muito ou me questionar a respeito vou logo atrás.

CHELSEA - A Ascenção De Um Narco (H.S)Where stories live. Discover now