capítulo 24

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Agosto,2022
Hospital Bela Vista

- como assim?

- Marilia... é como se eu... eu não sei...

Um pouco apreensível, Marilia se aproximou para tentar pegar Antônio de volta, mas Maraisa olhou para a amiga e a medica não viu fragilidade e nem uma depressão residual da morte de Marco.

- eu quero adotar esse bebê.

Marilia sorriu desacreditada. Ou os dois amigos tinham enlouquecido, ou eles estavam achando que agora um bebê era como um cachorro.

- como é? Amiga... com todo respeito, mas você acabou de perder seu pai e eu sei que os sentimentos estão a flor da pele.

- isso não tem nada a ver com meu pai.

- então por que a urgência?

- porque esse bebê é nosso. Fernando tinha razão

A medica olhou intrigada e fez um gesto para pegar Antonio de volta. Maraisa devolveu o bebê para a amiga, que o colocou no berço. A morena colou ao lado do abrigo de Antonio, não conseguia parar de olhar para ele. Marilia tocou seu braço. Chamando sua atenção.

- vamos conversar na minha sala?

Chegando no consultório de Marilia, Maraisa estava pronta para ouvir o discurso de que estava ficando doida da cabeça, de que o luto pelo pai tinha mexido com seus miolos. Talvez a medica tivesse um pingo de razão, mas isso não aniquilava o fato de que Maraisa sentia. Ao tocar em Antonio ela sentiu.

Era estranho, ela não era do tipo que acreditava em vida após a morte, mas um pedaço dela estremeceu.

- Maraisa, me explica.

A morena olhou para a amiga e não viu o julgamento que esperava.

- eu não consigo explicar. É como se ele tivesse saído de mim. Eu sei que parece loucura, e deve ser mesmo, mas...

Marilia suspirou preocupada.

- o desejo de vocês adotarem esse menino é lindo, mas me deixa preocupada.

- a gente esta se acertando de novo. – Maraisa falou rapidamente. – e eu sei que processos de adoção demoram um pouco, isso nos dá um tempo.

- não é sobre isso. Existem milhares de casais na fila da adoção. Ainda que vocês se cadastrem com a assistente social do hospital, existe uma burocracia enorme.

A burocracia significava um comprometimento, uma aliança. Seria um um ultimato.

- converse com Fernando, ao menos.

Agosto,2022
Jardins, São Paulo.

Luísa olhava atenta para a mãe. Maraisa passou a ultima hora falando com a filha, explicando a que pé ela e o pai estavam para que ela pudesse entender que talvez, apenas talvez, um bebê chegasse em casa. A mini Maraisa não reagia, e isso fazia Maraisa falar mais, explicar mais, suavizar mais as mudanças.

- a gente vai sair dessa casa? – ela perguntou olhando para o quarto.

- eu... eu tenho que falar com seu pai para definirmos os detalhes.

- não quero morar em Mendoza. – Luísa falou firme. – Minhas amigas estão aqui.

- achei que gostasse da casa do seu pai.

- para férias. – ela falou como se fosse obvio.

Maraisa tocou os joelhos da filha como sinal de apoio aos sentimentos dela. Seriam mudanças, e mudanças eram desconfortáveis, principalmente para crianças.

Uma vida a mais Where stories live. Discover now