Capítulo 9

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Junho,2022
Vinícola santa Luísa

Dormir naquela noite foi impossível. Para os dois. Queria dizer que ele havia ficado mais afetado do que ela, afinal ele que tomou a iniciativa do beijo, mas Maraisa estava tão no chão quanto qualquer um que fosse arrebatado pelo desejo. Fernando era sua pedra no sapato. Falando sobre sexo, ele havia sido o melhor. E ela sabia o porque. Havia amor em cada detalhe. No beijo na nuca, no tocar das mãos, no puxar de cabelo, até mesmo no tapa mais ousado. Só com ele Maraisa tinha conseguido ser livre de varias tabus. Se sentia segura com ele.
O beijo na cozinha era um exemplo disso. Como ele conseguia desarmá-la com tão pouco. O odiava por isso. E para além de tudo ainda tinha a confissão. A casa ainda era dela. A vinícola ainda era dela.

Maraisa se lembrava ainda no curto noivado que tiveram, o dia em que Fernando chegou em São Paulo de surpresa com um documento nas mãos. Ela brincou, perguntou se já eram as contas para pagar, mas ele apenas lhe entregou aquilo. Lá estava: ela havia se tornado dona de 51% da vinícola. Eles sempre discutiram sobre 50/50 que todos os aspectos da vida tinha de ter, mas Fernando queria que ela tivesse tudo. O 1% que ele lhe dava significava mais do que milhões, significava a vida dele.
O homem que sempre se considerou um lobo solitário, dava a mulher que amava o bem mais precioso que tinha. E dava sem preocupações . considere o bem mais precioso o coração ou a vinícola, os dois eram dela.

No divorcio, a primeira coisa que ela quis devolver foi isso. Maiara fez os papeis sem questionar, Maraisa assinou e os documentos foram enviados para Argentina. A partir dali ela não tinha mais nada dele, apenas Luísa.

Por Deus...

Maraisa tinha que se recompor. Na cozinha seu cérebro foi tornado pela jovem aventureira que topava tudo, mas essa Maraisa de hoje. A herdeira de 33 anos com uma filha para criar, não podia se dar o luxo de aventurar. Não era só a vida dela e de Fernando na reta. Luísa estava envolvida, e confundir a cabeça de uma criança era a ultima coisa que ela gostaria.
Mendoza mexia com ela.

Acabava com o orgulho. Lhe deixava exposta.

Exposta, aberta, pronta... para ser possuída na mesa da cozinha.

Ela respirou fundo, se encolhendo na cama, fechando os olhos com força na tentativa de apagar as imagens de mais cedo.

No dia seguinte Fernando acordou mais leve do que esperava. Nunca pensou que um beijo pudesse não lhe trazer dor de cabeça. E que sorte era essa que teve, beija-la duas vezes no mesmo dia. Ele passou a mão pelo rosto antes de levantar.

Onde estava com a cabeça, beijar Maraisa só lhe traria dor de cabeça. Ele não podia esquecer que ela era mulher que foi embora há anos, levando sua filha e seu coração junto. Ela estava na sua casa como hospede e misturar as coisas só... só bagunçaria ainda mais os sentimentos que ele socava para dentro do armário com força.

Para ele se conheciam de outra vida, e nessas horas se perguntava se em outra vida as coisas tinham sido tão complicadas quanto agora.

Tinham uma filha, não podiam confundir as coisas.

Maraisa descias as escadas quando ouviu a voz familiar de Gilda entrando na casa. Luísa já estava de pé e aparentemente pronta para sair. A morena se aproximou da mais velha, que conversava com Sonia,e sorriu. Gilda olhou para ela como se visse um fantasma.

- é um prazer revê-la, Gilda. – Maraisa falou um pouco receosa.

Não sabia como a mulher iria lhe receber, ainda mais cuidando de Fernando desde sempre, devia achar Maraisa uma megera. Porém, a mulher puxou Maraisa para um abraço forte. Surpresa, a morena a abraçou de volta. Quando se afastaram, Gilda sorriu.

Uma vida a mais Where stories live. Discover now