Capítulo 23

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Julho,2022
Hospital Bela Vista

Marilia colocou o frágil bebê nos braços de Fernando. A principio ela ficou surpresa com o pedido do homem, mas se lembrou que  contanto pele a pele para um bebê era muito bom. E observar o jeito como os olhos dele brilharam foi como o dia em que colocou Luísa nos braços do pai. Marilia ficou admirada e Fernando ficou boquiaberto.

- ele é lindo, como a família não quer saber dele?

- ela era minha paciente na rede publica, a família não a apoiou durante a gestação e ela passou a morar em um abrigo. O pai sumiu no mundo.

Fernando olhou para o pequeno Antônio com a sensação de já ter segurado esse menino antes. Os olhos estavam fechados, o bebê em um aconchego em seus braços. Se Fernando fechasse os olhos, ele poderia ser transportado para um tempo que não havia vivido, mas parecia muito real. Um quarto escuro, muitas pessoas, uma mulher cansada na cama. Fernando já segurou esse menino antes e ao mesmo tempo era tão inédito.

- para onde ele vai agora?

- ele vai ficar aqui no hospital por um mês mais ou menos, ele é um bebê frágil e a gente precisa fazer mais alguns exames. A assistência social do hospital vai entrar em contato com a lista de possíveis responsáveis para adoção.

De repente ele foi tomado por um sentimento de posse. Apertou mais o bebê contra ele. Sentiu o celular vibrando no bolso, olhou para Marilia.

- se importa? Deve ser a Maraisa. – ele pediu.

Quando Maraisa entrou no berçário, sentiu o coração afundar. Lá estava Fernando com um bebê nos braços, com Marilia conversando com ele. Ver o homem com um pedaço de vida nas mãos, ao mesmo tempo em que Maraisa digeria a morte, era conflitante. A vida de Fernando não iria parar, e a dela estava em stand-by e de repente os planos pareciam não muito importantes.

Marilia a abraçou e lhe ofereceu os sentimentos. Depois disso Fernando pediu com o olhar para que a medica se retirasse. Maraisa viu a amiga se afastar e olhou para o homem.

- o que está fazendo aqui, quem é esse bebê e de quem é?

- esse bebê se chama Antônio.

Aquela era a primeira vez que Fernando olhava para ela.

Os olhos dele pareciam um rio de emoções, com um brilho especial e completamente diferente de todas as outras vezes que ela o viu feliz. O nome do bebê, porém, a fez desestabilizar um pouco.

- como?

- Marilia me disse que não foi no velório do seu pai porque estava trazendo esse garotão ao mundo. – ele falou, olhando para o menino novamente. – a mãe dele infelizmente faleceu e a família não quer... ele vai para a adoção.

Maraisa tentou racionar as informações que ele trazia.

Estreitou o olhar.

- você não esta sugerindo o que eu acho...

- não.. não estou falando nada, mas... ele precisa de um lar.

- Fernando... – ela levou a mão ao rosto. – Fernando, pelo amor de Deus.

- eu sei! Eu sei que parece loucura, mas quando eu segurei esse bebê eu soube... ele já foi nosso...

- nosso? – ela olhou para ele como se fosse louco.

Ele se levantou com o bebê e olhou para ela.

- segura o Antônio e fecha os olhos, eu tenho certeza...

- Fernando, você está delirando, precisa dormir, vamos embora. – ela falou seria. – nós já temos uma filha, ela está em casa, e se você não consegue se lembrar, ainda estamos divorciados.

Uma vida a mais Where stories live. Discover now