capítulo 12

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Julho,2022
Aeroporto internacional de Guarulhos.

Uma garoa fina começava a molhar a janela do avião. Durante as horas de voo, Maraisa não foi capaz de fechar os olhos e descansar. Como diziam os jovens, Fernando tinha alugado um triplex na sua cabeça. Nada que ela fizesse, nada que ela tentasse pensar, tirava os olhos dele de sua mente. Nada tirava o som do seu gemido, nada tirava o jeito como ele tinha a tocado. Fernando a tinha quebrado para qualquer outras possibilidade. E pior de tudo foi saber que ela deu esse poder a ele espontaneamente.

Enquanto esperava sua mala era como se pudesse sentir a presença dele, como se o cheiro estivesse impregnado na sua pele. Ela não queria tirar essa essência.

Quando saiu na área de desembarque, viu seu pai lhe esperando.

Aquilo que precisava agora, seu porto seguro, pois se sentia um barco a deriva. O homem sorriu para ela. Maraisa se aproximou com a mala, logo a soltando para abraçar o pai com força. Marco retribuiu, mas preocupado.

- que bom que está de volta, querida. – ele falou contra o cabelo dela. Quando Maraisa se afastou, sorriu.

- me leva para casa?

Julho,2022
Vinícola Santa Luísa

Casa vazia era oficina para álcool. Sentado em uma poltrona da biblioteca, o copo de destilado forte na mão e uma foto do dia do parto no celular dele. Era incrível como um homem tão poderoso quanto ele poderia se sentir tão vazio das coisas. Sua casa estava muito mais aconchegante com ela ali, mesmo que fosse para passar a maior parte do tempo brigando. Ele preferia as migalhas do que nada.

Ele preferia o milagre do galpão do que nada.

O cheiro dela ainda estava nele. Se fechasse os olhos seria capaz de ver o jeito como ela se contorceu de prazer, o jeito como chamou seu nome, como tremeu contra ele.
Ouviu batidas suaves na porta e viu Sonia sorrindo com piedade para ele. Essa piedade ele merecia mesmo, parecia um coitado com a roupa amassada e o cabelo em desalinho.

- por que não vai dormir?

- não consigo. – Fernando falou, bloqueando o celular e tomando o ultimo gole da bebida.

O homem se levantou para ir até a pequena mesa com as bebidas para se servir de novo.
Sonia se aproximou e o parou. O toque da mulher não foi em tom de reprovação, e sim como uma voz de juízo pedindo para ele pensar de novo.

- sei que está chateado, mas beber não vai melhorar.

- não é para melhorar, é para eu conseguir dormir. – ele riu da própria desgraça.

- Fernando...

- sabe, Sonia... era mais fácil quando eu só a odiava.

Julho,2022
Jardins, São Paulo.

Por mais que seu pai tivesse insistido para ela ir a mansão, Maraisa preferiu seu apartamento calmo e sem vários funcionários andando para lá e para cá. Claro que batia uma certa depressão ao pensar que a filha não estaria mais ali, mas o tempo sozinha seria bom para ela descansar. Colocou a mala sobre a cama e foi para o banho. A agua quente contra a sua pele não fez o milagre que ela estava esperando, na verdade foi até incomoda.

Levemente irritada, a morena saiu do banho com os cabelos molhados e um pijama de bichinhos. Foi para a cozinha, pegou uma cadeira e subiu até o armário do topo onde deixava as coisas que nunca usava.

Basicamente todos os itens domésticos de cozinha já que ela era um terror na culinária.

Mas lá em cima tinha um tesouro para ela.

Uma vida a mais Where stories live. Discover now