capítulo 11

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Junho,2022
Vinícola santa Luísa

As respirações ofegantes eram o único som dentro do galpão. Fernando tinha desabado sobre o corpo dela. Sustentando a parte de cima do corpo enquanto as pernas recuperavam as forças. Maraisa olhava para o teto em choque. O coração na boca, seu corpo em brasa, o calor do fim.

Involuntariamente a mão dela foi para o cabelo dele, passando as unhas devagar, tentando chamar a atenção dele para a realidade.

- sai de cima de mim. – Maraisa falou tão baixo que temia que ele não tivesse escutado.

Mas Fernando escutou e sem resistência ele se levantou, ficando em pé, nu em toda sua gloria, na frente dela. Maraisa  sentou na mesa devagar, os cabelos em desalinho entregando o crime que tinham feito. Quando seus olhos se encontraram não tinha raiva e nem rancor, mas uma tristeza enorme encobria o escuro dos olhos dela. Os olhos dele, agora claro pelo fim do desejo, absorveu essa tristeza. Eles não podiam ter feito o que fizeram.

- você sabe que isso foi errado. – ela falou

- eu sei. – ele concordou.

Não era sobre o sexo. O sexo tinha sido certo assim como a primeira vez há anos. Errado eram os sentimentos mal resolvidos, errado eram as magoas que ainda tinham que resolver. Errado era bagunçar a vida de Luísa com um vai e vem confuso que nenhuma criança merecia passar.
Se lhe perguntassem sobre Luísa ele não saberia descrevê-la.

Ela era mistura do que deu errado, e ainda assim era o maior acerto dos dois. Não se encaixava na personalidade da mãe e nem no olhar bondoso do pai. Luísa era única, assim como o casamento dos dois tinha sido único. E por ser assim, era a única coisa que ambos temiam perder.

- a gente pode conversar antes de você viajar? – ele perguntou, a surpreendendo.

Ela voltaria para o Brasil hoje. Tinha esquecido completamente.

- vamos nos vestir e você me leva para San Juan, está bem? – ela perguntou já descendo da mesa e pegando sua calcinha. Os filmes de romance nunca falavam da parte humilhante que era se vestir depois.

- claro.

Quando terminaram de se vestir, Fernando se lembrou que ela estava sem casaco. Colocou o casaco dele ao redor dela, apertando bem. Maraisa olhou para ele de um jeito que beirava o desespero.

- o que aconteceu aqui...

- fica aqui. – ele concluiu. – eu não quero te constranger. Não vamos falar sobre isso. E ficou mesmo dentro do galpão.

Quando os dois voltaram para casa, completamente desconectados de si mesmo, Sonia e Emanuel os esperavam aflitos. Fernando desconversou logo dizendo que eles tiveram uma conversa franca no galpão e que por isso ele a levaria para San Juan.

Claro, ela ainda conseguia sentir o toque e o calor da conversa franca que tiveram. Conseguia ver o que a conversa franca tinha  investido muito tempo na academia depois do divorcio. A conversa franca a fez gritar como nenhum outro.

Com a mala na mão, Maraisa se despediu de Sonia e Emanuel. Ela conseguia ver a cara surpresa da senhora ao vê-la de fato indo embora.

Maraisa entendia.

Se ela soubesse do acidente antes ela teria voltado e ficado. Mas saber do acidente agora lhe deu outro sentimento. O de perder algo que ela já tinha mais. E lhe deu medo imaginar que ela poderia perder Fernando tendo ele. Poderia o perder de todas as formas.

Não estava pronta para ficar. Tinha medo de ficar do mesmo jeito que tinha medo de perde-lo.

No carro, Fernando ligou o aquecedor e esperou ela entrar. Fechou os olhos e apertou o volante. O que tinha acontecido no galpão iria lhe assombrar pelo resto da vida. E ao mesmo tempo ele queria repetir isso no galpão, na cama, no chão do quarto, no banheiro. Enquanto ele esperava ela entrar, a observava. Ele não podia prendê-la aqui. ele não tinha a garantia de que seria um bom marido, de que conseguiria ser o que ela merecia.

Uma vida a mais Where stories live. Discover now