Capítulo 2

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Janeiro,2017
Vinicola Santa luísa

Maraisa esperava ansiosa o marido voltar. E quanto mais o tempo passava mais a raiva ia tomando conta da ansiedade. Ela não conseguia acreditar que ele tinha esquecido. A verdade era uma só: Maraisa estava segurando esse casamento por uma corda que se arrebentava aos poucos. Do outro lado quem puxava eram as brigas, a arrogância , o orgulho, os desencontros. Ao olhar para o lado sentia que Fernando não fazia força alguma para vencer das adversidades. Em que momento dessa jornada eles tinham se desencontrado? Ela sempre prometeu a si mesmo não cometer o mesmo erro de seus pais, mas hoje passava a entender cada dia mais os dois adultos.

Era difícil abrir mão do que se amava tanto, ainda que estivesse amando sozinha. Por vezes compreendia sua mae cada vez mais. Almira amou sozinha, e isso a deixou louca. Louca o suficiente para Marcos Cesar ter que sair de casa com dois filhos pequenos. Sua mãe desenvolveu o alcoolismo em poucos meses, perdeu trabalho e começou a viver em lares da prefeitura. Recusava qualquer ajuda que seu pai tentava lhe dar depois. Dizia que se ele não voltasse para ela, de nada adiantaria. Maraisa e Cesar Filho  não conheceu sua mãe. Almira morreu de cirrose poucos anos depois.
Marcos Cesar nunca escondeu a verdade dos filhos, e saber que sua mãe se perdeu por amar demais a moldou em uma personalidade diferente. Ela amava, mas amava com os pés no chão. Por isso que amar Fernando a tirava do eixo. Sempre foi avassalador amá-lo.

Isso muitas vezes podia não ser tão bom assim.

Ela odiava as reuniões de negócios dele. Odiava como ele chegava tarde sempre. Odiava como o trabalho sempre parecia ser a coisa mais importante que ele tinha. Como pai ela não tinha como reclamar, Luísa o adorava. Mas Maraisa era mulher, e o queria como marido. Ele não estava presente aqui. voltava das viagens com joias e roupas, mas ela queria a presença. E quando ele estivesse presente, não queria que brigassem. Suspirou cansada, se levantou do sofá. Fechou o robe para esconder a vergonha que sentia por achar que dessa vez seria diferente.

Junho,2022
Hotel Park Burak.

- você só pode estar brincando! – ela exclamou com o telefone na mão.

- senhora, já viu o tempo lá fora?

Maraisa olhou pela janela. Não via nada demais além de uma ventania e uma tempestade branca. A neve castigava a região. Seu voo estava agendado para hoje, um dia depois de ter pisado nesse lugar já não via a hora de ir embora. Imagina sua surpresa ao ter o voo cancelado por uma simples... chuva!

-srta. Maraisa, mesmo que eu quisesse te ajudar, não poderia! Parte da estrutura do aeroporto de San Juan saiu voando! O aeroporto está fechado!

- tem que ter outra saída, não está me dizendo que vou ficar presa nesse lugar até essa nevasca passar!

Ela só podia estar vivendo um pesadelo. Tudo de novo.

Junho,2022
Vinícola Santa Luísa

- aqui, suco de uva feito especialmente por mim para a minha princesa. – Fernando falou, colocando o suco na mesa e sentando para tomar café com a filha.

- obrigado, pai. – a menina falou, pegando logo o croissant e o doce de leite.

Fernando olhou para fora. As grandes janelas de sua casa davam para o gramado que  a essa altura estava coberto por neve. Voltou a atenção para suas frutas e olhou para o pijama que a filha usava.

- não está com frio?

- a casa está quentinha.

- mas trouxe casacos pesados, não é? Essa nevasca pelo visto vau durar uns bons dias.

Uma vida a mais Where stories live. Discover now