Capítulo 6

491 51 28
                                    

Junho, 2022
Vinícola Santa Luisa

No café da manhã, Luisa conseguiu tirar varias historias do passado. Fernando e Maraisa tentavam contar da melhor maneira possível, e na troca de olhar eles ainda eram capazes de conversar para tirar os detalhes tristes. Por mais estranho que fosse, falar sobre aquilo também era colocar panos quentes nessa ferida aberta. Se eles falassem sobre isso, talvez fossem capazes de seguir em frente de coração aberto.

Deus sabe como Maraisa queria conseguir seguir em frente. Depois do divorcio algo dentro dela tinha sido quebrado. A habilidade de confiar estava morta. Quando Danilo entrou em sua vida foi um baque. Se encontrava com ele as escondidas como se ainda fosse casada, mentia sobre ele como se cometesse um crime. Danilo era um homem incrível. Alto,moreno, dos olhos castanhos, que eram capazes de enxergar sua alma.

Uma mulher como ela deveria se apaixonar por um homem como ele.

Mas simplesmente não conseguia.

Depois do café, Sonia chamou Luisa para ficar na cozinha com ela. Enquanto Maraisa pensava que a menina poderia se tornar medica, Fernando tinha certeza que ela abriria um restaurante. Ele voltou para o escritório. Maraisa ficou sozinha na sala por um tempo. Olhava através da janela ampla como o chão estava branco. Parecia um sonho, que ao mesmo tempo remetia para seu pesadelo.

A fim de se distrair, Maraisa caminhou para o lado da casa que conhecia muito bem. La ficava a sala de tv, jogos, uma pequena sala de ginastica e a grande biblioteca. Enorme mesmo. Ela sempre ficaria chocada sobre como o pai de Fernando tinha sido capaz de construir algo tão bem organizado. Era ali que no passado ela buscava refugio. Sempre tinha gostado de ler e por isso aquele era seu lugar favorito da casa.

Caminhou devagar, respirando fundo para aquele cheiro de livro invadir seu corpo. Passou os dedos por eles, avaliando cada titulo. Tinha boas memorias aqui.

Flashback on:

Agosto, 2012
Vinícola santa Luisa

Ela pegou a edição sem acreditar no que via. Quem passasse por ela não diria, mas Maraisa já tinha discutido essa revista em aula extra da faculdade, aberta a todos os alunos sobre literatura erótica na Inglaterra lá para o meio de 1800. Não conseguia acreditar que Fernando tinha essa relíquia aqui. abriu a revista e começou a ler.

The pearl era ousada para aquela época. E até hoje ainda fazia as pessoas corarem, assim como Maraisa estava no momento. O jeito que o narrador tocava a mulher, como lhe dava prazer. De fato muitos homens devem ter  aprendido a dar prazer a uma mulher, o que justifica famílias de muitos filhos.

Ela sentou na poltrona mais próxima, entredita demais com a leitura, e só percebeu seu erro ao escolher o assento quando Fernando anunciou sua presença atrás dela minutos depois.

- não sabia que gostava desse tipo de leitura. – ele sussurrou em sua orelha.

Maraisa pulou da poltrona e levou a mão ao coração, externalizando seu susto com um som agudo. Fernando riu enquanto a mulher recuperava o folego para se justificar.

- meu Deus... Fernando. -ela suspirou. – chegou tarde, não é?

- eu disse que a reunião acabaria mais tarde, os funcionários do presidente checam as garrafas centenas de vezes. – ele sorriu. – não tente desviar o assunto.

Maraisa olhou para a revista com o titulo estampado na capa e se perguntou porque não usou outro livro mais... puro para cobrir essa pouca vergonha. Olhou para o marido.

- eu que me pergunto o que esse tipo de coisa faz aqui.

- minha família coleciona livros e mais livros há gerações... isso ai pode estar no acervo há anos, ou meu pai mesmo comprou em uma de suas aventuras por bibliotecas do mundo.

Uma vida a mais Where stories live. Discover now