Capítulo 1

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Isadora Fonseca Diniz

04 de março — 05:12
Sábado

    A cidade passava em câmera lenta pela janela, encostei a cabeça na do Samuel e respirei fundo tentando pensar positivo. Agora será uma nova fase, longe de tudo que nos machucava.

Espero que nossas vidas mudem para melhor.

    Quando conheci o Ricardo achei que ele era meu príncipe encantado, a adolescente de quinze anos achou que seria uma boa ideia começar a namorar com alguém maior de idade, ir morar com ele e o pior, se afastar de todos que falavam que esse relacionamento não estava certo.

    Minha mente era fraca, quando se mora em uma cidade apenas com os pais, e ambos não te dão atenção, é na rua que você acha, e na maioria das vezes nunca dá certo. Eu me apaixonei logo de cara por Ricardo, não percebia seu jeito manipulador até o primeiro tapa, foi com meus dezesseis anos, depois disso nunca parou.

    Sempre chegava bêbado, com cheiro de perfume feminino e descontava tudo em mim, me manipulava, dizia que me amava e que mudaria por nós dois, e mais uma vez por não ter a atenção de ninguém, eu me deixei levar por um relacionamento abusivo.

    Meus pensamentos só mudaram quando eu engravidei do Samuel, fiquei totalmente perdida e sem saber o que fazer, quando contei para o Ricardo pensei que ele iria me matar, por pouco não perdi meu filho durante a gravidez, foram os piores meses da minha vida. Assim que ele nasceu eu me entreguei para o desesperada, cai na real de que o que eu vivia não era amor, muito pelo contrário, não queria que acontecesse o mesmo com meu filho.

    Consegui o celular da vizinha emprestado e comecei a procurar por alguém da minha família, por sorte consegui encontrar meu primo por parte de pai, contei para ele sobre tudo que vivi e aqui estou eu, voltando para minha cidade natal e fugindo do terror que vivi nesses quatro anos.

    Se tenho medo de Ricardo nos achar? Com certeza, mas não vou ficar em Manaus esperando algo pior acontecer comigo e com meu filho.

   Tem quase três dias e meio que estamos viajando de ônibus, com um bebê de quatro meses é muito difícil mas foi a única forma que conseguimos.

    Até eu conseguir um emprego e uma casinha para morarmos, vamos ficar na casa do meu tio. Olhei o relógio em meu pulso e faltam cinco minutos para chegarmos na rodoviária, a ansiedade começou a tomar conta do meu corpo.

   Faz anos que não os vejo, que não falo pessoalmente com eles, não sei como vai ser esse encontro e tenho medo de ser mais uma mentira. 

Não seria a primeira e nem a última.

    Senti Samuel se remexer em meu colo, choramingando um pouco. Seus olhinhos castanhos me encararam.

— Bom dia, filho. — Sorri cheirando seus fios de cabelo levemente cacheados. — Já estamos chegando.

    Ele continuou a resmungar, o endireitei em meu colo e respirei fundo ao ver que mais uma vez o casal da frente iria reclamar dele. Não os culpo, é estressante viajar por três dias com um bebê chorando.

— Fica quietinho, por favor, meu amor, nós já vamos chegar. — Sussurrei em seu ouvido. Coloquei um pano sobre meu peito e comecei a amamentar o Samuca. 

— Você precisa de alguma coisa? — Olhei para o lado ao ouvir a voz da senhora. Dona Cida foi um anjo nessa viagem, me ajudou com o Samuel o tempo todo. — Posso pegar algo para você.

— Estou bem, obrigada. — Sorri cansada.

      Graças a Deus o restante do caminho foi tranquilo, mais uma vez Samuel dormiu. Senti meu corpo inteiro doer, meus braços dormentes de o segurar a viagem inteira. Respirei aliviada ao perceber o ônibus parando, as pessoas começaram a se levantar e como sempre eu fiquei por último, precisava pegar a mochila e o Samuel ao mesmo tempo.

Amor que curaWhere stories live. Discover now