Capítulo 36.

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Passei a mão no rosto para afastar os fios soltos de cabelo que caíam sobre meus olhos e não senti mais a sensibilidade onde antes havia o hematoma. Já fazia cerca de duas semanas desde aquela noite e as marcas físicas se esvaíam aos poucos, mas eu não podia dizer o mesmo da constante ansiedade que me acometia sempre que eu me via fora das nossas áreas seguras.

Aproveitei os poucos segundos de paz que tivemos após exterminar aquela leva de zumbis para tentar acalmar os sintomas de nervosismo. Agradeci por ter seguido minha intuição e não trazer Mei, pois apesar de seu excelente comportamento, aquela situação era muito mais arriscada do que o normal.

Um toque delicado no meu braço me distraiu.

— E você, está bem? — Maitê me olhava com sua típica expressão de cachorrinho. Tinha ao alcance das mãos seu pé-de-cabra modificado, embainhado no coldre.

— Estou sim.

Leonardo também se aproximou para colocar a mão no meu ombro, de maneira carinhosa.

— Você está indo bem. Não se preocupe, todos nós estamos bem atentos. Conseguimos lidar com qualquer coisa que acontecer, entendeu? — Garantiu. Ultimamente, eu e Leonardo conversávamos muito sobre as cicatrizes em nossos psicológicos e nos apoiávamos mutuamente em momentos difíceis. Ele estendeu o cantil para mim e aceitei um gole. — Ótimo, vamos continuar. Estamos a duas ruas. Mantenham a formação.

Apertei meu rabo-de-cavalo (que agora eu era obrigada a fazer, já que meus cabelos estavam compridos o suficiente para passarem dos ombros) e todo o grupo se direcionou para o nosso próximo objetivo: o prédio residencial de vinte andares.

Estávamos na primeira parte do plano, que consistia em fazer um reconhecimento de todas as áreas onde atuaríamos, além de reunir os materiais necessários para proteção, suporte e escavação de trincheiras (matar zumbis não era a prioridade, apesar de ser inevitável). Meu grupo estava encarregado de vistoriar a parte ao sul do hospital, onde ficava o batalhão da Polícia Militar. Já havíamos reunido uma parte das roupas de proteção e o restante estava carregado em veículos, mas a concentração de zumbis era maior do que o esperado e ficou evidente que não conseguiríamos usar as estradas por enquanto. Então passamos para a segunda parte, onde alcançaríamos a cobertura do prédio para ter visão privilegiada dos arredores e decidir como seguir.

O segundo grupo, menor e chefiado por Maurício, estava se expondo menos enquanto traçava rotas para atrair e guiar a horda de zumbis que rodeava o hospital e ruas paralelas. Além disso, preparavam-se para cavar as trincheiras.

Nossa intenção era manusear a horda com milhares de zumbis para separá-los de maneira que possibilitasse o combate. Eles não eram inteligentes ou organizados, mas nos venciam pelo número. Não era prepotência dizer que, reduzido, eles sucumbiam.

Três grupos estariam encarregados de matar os zumbis.

A investida principal seria liderada por Maurício, com o auxílio de Yuri, Salomão e Agata. Divididos em duplas, estavam encarregados de atrair a horda em motos para dois descampados em diferentes extremos da cidade, com a intenção de separá-los. Nestes descampados estariam as trincheiras, por onde só seria possível atravessar com suas motos, enquanto os zumbis seriam atraídos diretamente para os buracos. Contando com a falta de raciocínio ou senso de preservação, nossa estimativa era que a maioria caísse na armadilha, mas os quatro também eram capazes de lidar com possíveis errantes que a driblassem. Quando essa parte fosse concluída, jogariam gasolina sobre as trincheiras para incinerá-los.

Enquanto isso, eu, Leonardo, Paulina, Samuel e Alícia, todos com experiência e prática suficiente em combater zumbis, estaríamos estrategicamente posicionados pelo caminho para cuidar de quaisquer grupos menores que debandassem do principal; além de ficarmos a postos para resgatar os outros no caso de uma falha. Era uma posição menos glamourosa (embora igualmente arriscada), mas pelo menos eu me sentia familiarizada em enfrentar aquelas criaturas no meio da cidade.

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