XII - Em menos de 24 horas

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Ivey

A última chance de sucesso pairava a metros de distância. Enquanto o garoto do 10 saía do palco, ela sentiu as pernas se movendo como se tivessem vida própria. Sua cabeça estava fora do ar, o corpo no automático para sorrir e andar. 

Lembrou-se de Mel dando conselhos durante o dia: não seja rude, cause impacto, encante-os. Parecia simples na teoria, porém, ao se sentar na poltrona com milhares de olhos a observando, a prática parecia impossível. Pelo menos, conseguia esconder o nervosismo muito bem.

–Ivey, pequena Ivey, ou será que devo chamá-la de Encantadora de Feras? – Caesar Flickerman possuía a habilidade de transformar qualquer um em uma estrela. Com ele conduzindo as perguntas, não precisava se preocupar no próximo assunto. Só tinha de se concentrar nas respostas, o que de alguma forma era ainda pior.

–Não sei se um cavalo dócil como aquele pode ser considerado uma fera, mas fico honrada com o apelido – replicou com um sorriso tímido e, ainda assim, confiante. 

Chamar o animal de dócil alfinetava diretamente o garoto do 1, que matara um dos equinos com a desculpa de estarem descontrolados. Com o passar dos dias, Ivey foi cada vez menos com a cara dele: arrogante, insensível, grosso, desnecessário; a lista só continuava. Ainda por cima, ele atingiu a maior nota daquele ano, enquanto ela conseguiu a menor da história. 

–A senhorita é mesmo muito corajosa, devo dizer – Caesar a interrompeu de seus pensamentos, obrigando-a a voltar à entrevista. Ela fez uma expressão de lisonjeio, apesar de concordar completamente com ele: reconhecia que era corajosa. – Vai ser preciso muita coragem e determinação para vencer esses Jogos, mas tenho certeza de que você consegue.

Ela fitou seus olhos com lentidão, transbordando insanidade com as pálpebras levemente arregaladas. Ele engoliu em seco.

–Eu não estou aqui para ganhar, Caesar, não. Já aceitei que vou ter uma morte lenta e dolorosa. Agora, só tô aqui pela diversão, pra quebrar o máximo de regras que conseguir. – E virou o mesmo olhar para a plateia, que de repente ficou tão quieta que era possível ouvir um alfinete cair. – Não acho que vou sair da arena, mas prometo uma coisa: comigo, vocês jamais vão ficar entediados. 

O Mestre de Cerimônias ainda estava paralisado, perplexo, mas a multidão foi à loucura. Afinal, isso era a única coisa que queriam: entretenimento. 

Por um momento, parou para imaginar como estava sua casa. Eles estariam na praça, assim como todos do Distrito 11, assistindo as entrevistas forçadamente. O que estavam pensando dela? Talvez estivessem desapontados por ouvirem-na dizer que não tem esperanças, talvez estivessem orgulhosos que ela estava se destacando. Nunca saberia. 

Aumentou o sorriso meio doido.

–A não ser que vocês gostem das regras quadradas, de tudo igual está sendo há 72 anos, dos finais previsíveis – contrapôs, ainda virada ao público. Mais gritos animados vieram. – Vou levar isso como um incentivo pra continuar, ok?

–E continue mesmo, acho que todos já percebemos o espetáculo que você é capaz. 

–Ah, mas não sou eu quem faz espetáculos. Não, os responsáveis por esses são os nossos queridos Idealizadores – e virou para olhar à área elevada da plateia onde os mesmos se encontravam. Com a distância, não podia dizer com certeza, mas imaginava que eles estivessem zangados. Bem, desejava que estivessem zangados. Mandou um beijo na direção deles. – Espero que eles tenham uma consideração especial comigo. 

–Falando nisso, sabia que você fez história? O primeiro tributo a zerar completamente o teste. Mas tenho certeza de que foi pura estratégia, não estou correto?

it's time to go - jogos vorazesWhere stories live. Discover now