3. Dos Melones

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03 de outubro de 1994

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03 de outubro de 1994

Mais depressa!

Corra!

Corra e não olhe para trás!

Não pare!

Corra, corra, corra!

As solas dos meus sapatos estavam tão quentes que queimavam os meus pés, e a sensação era parecida com a de andar sobre pedras quentes em uma festa havaiana. Os meus pulmões pediam socorro, ardendo conforme eu ia aumentando o ritmo da corrida.

Não posso parar.

Tinha de correr até chegar em algum lugar que fosse seguro.

Não olhe para trás.

Não olhe para trás!

Olhei para trás.

Os homens de preto estavam cada vez mais próximos; uma rajada de vento e areia se chocou contra mim, bagunçando os meus cabelos e atrapalhando a minha visão. Pisei em falso.

Eu não devia ter olhado para trás.

No segundo seguinte eu estava rolando ladeira abaixo. Senhorinhas gritavam desesperadas pelos vasos quebrados e por conta das barraquinhas destruídas.

Por eu estar bem quente, não senti inicialmente a dor da queda, mas eu sabia que no dia seguinte, — se eu ainda estivesse vivo — não daria conta sequer de levantar o dedo mindinho.

Levantei-me atordoado, sentindo o gosto metálico na boca.

Sangue.

Olhei para os lados, vendo que tudo parecia rodar. Mas isso não me impediu de tentar voltar a correr. Eu já estava na Ciudad Juarez, em Chihuahua, que era uma divisa com o Novo México. Só mais um pouco e eu chegaria a tempo na rodoviária.

Contudo, eu tinha de despistar os homens do Morello antes.

E foi quando eu virei em uma esquina que recebi um soco bem no meio do meu nariz.

O baque do ônibus foi tão grande que eu acordei assustado, sentindo cada centímetro do meu corpo doer. Coloquei a mão sob o peito e tentei me sentar.

Tentei enxergar as horas em meu relógio de pulso, mas ele estava trincado e eu não ficaria surpreso se estivesse quebrado por dentro. Em resumo, não tinha como eu saber mais ou menos que horas chegaria ao estado de Oklahoma nos Estados Unidos.

Tossi sentindo o meu peito doer, me odiava por ter pegado um resfriado naquele trágico momento, deitei a cabeça em uma das malas que me aparentava ser menos desconfortável.

Fechei os olhos pensativo. Onde será que o ônibus já estava? Que horas eram? Eu precisava de um banho, de roupas limpas e de remédios.

Passei a mão no rosto dolorido e inchado, puxando os meus fios para trás e amarrei o cabelo com um pedaço de pano que estava dentro do meu bolso.

Fantasmas Sobre RodasWhere stories live. Discover now