Pájaro

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Beatrice desceu do avião cinco horas depois. Aquele sensação do avião decolando lhe causava uma impressão de fuga. Era como se fugisse de todos os seus problemas e de todas as coisas ruins que viveu e que gostaria de não só esquecer, mas de mudar. De nunca ter vivido.

Quando o avião pousava, todas as sensações e experiências voltavam. Era como se Beatrice se tudo acontecesse novamente. Ela podia inclusive sentir todas as dores, todos os socos que levou em seus treinamentos para que hoje fosse quem é. Além das dores físicas, as dores emocionais também invadiam seu corpo e sua mente.

Era um novo país, uma nova cidade... Uma nova oportunidade de fazer tudo diferente. Era isso que no fundo Beatrice queria. Esquecer! Mudar! Era isso que ela iria buscar dali em diante, mas antes precisava resolver o problema jogado em suas mãos algumas horas atrás.

Beatrice lembrava de Ava todos os dias e todos os dias trocavam mensagens sobre diversos assuntos. Ava adorava falar sobre a floricultura, seus cursos de jardinagem e de florista, assim como a saudade que sentia do filho.

Como Beatrice também era amante da natureza, buscou o bairro mais arborizado da cidade do México. Um pensionato que pertencia a uma senhora de uns 60 anos. Uma idosa simpática e cheia de alegria, que cultivava suas plantinhas e mantinha sempre o ambiente repleto das mais diversas flores.

-Boa tarde! - Beatrice disse ao chegar ao balcão.

-Boa tarde, minha querida! - A senhora que estava sentada atrás do balcão respondeu.

-Fiz uma reserva pela internet. Vou ficar alguns dias. - Beatrice falava e olhava para todos os cantos daquela sala onde ficava a recepção, admirando a decoração do lugar.

-Que bom. Deixa só eu chamar a minha neta pra ela ver essa sua reserva porque eu não entendo muito dessas coisas de internet. - A senhora deu as costas e se dirigiu a parte de dentro do pensionato, voltando em seguida com sua neta, Carol.

Carol era uma mulher de 25 anos, formada em ciência política, mas que trabalhava apenas com internet, em casa, o que lhe permitia ajudar sua avó nas atividades do pensionato.

Beatrice olhou nos olhos delineados da mulher que surgiu em sua frente e desceu os olhos por suas tatuagens, que não eram poucas.

-Olá, sou Carol! - A neta da dona da pensão se apresentou.

-Oi, Carol. Eu sou Beatrice. - Bea lhe entregou um documento para que buscasse suas informações da reserva.

-Aguarda só um instante, por favor. - Carol buscou as informações de Beatrice, confirmou a reserva e recebeu o pagamento referente a uma semana.

-Obrigada! - Beatrice disse ao receber a chave do quarto.

-Está a passeio? - Carol ficou curiosa. Não era comum receber pessoas asiáticas na pensão.

-Mais ou menos isso. Estou tentando encontrar um lugar bacana nesse mundo louco. - Beatrice disse, colocando as mãos em cima da mala.

-Nosso planeta é enorme. Tenho certeza que você vai se encontrar em algum lugar. - Carol indicou por onde Beatrice deveria seguir.

O quarto de Beatrice além de ter várias plantas, tinha uma vibe budista. Em uma das mesas de cabeceira havia um incensário. O aroma de incenso também era intenso. Na outra mesinha ao lado da cama, uma pequena fonte em formato de buda.

Uma das coisas que Beatrice não abria mão, era que houvesse uma varanda em seu quarto. Beatrice gostava de um lugar calmo, onde pudesse ver as paisagens, fossem elas naturais ou não, e também pudesse ler seus livros favoritos, que também lhe acompanhavam em todas as suas viagens.

Quando terminou de desfazer a mala, Beatrice ouviu alguém bater em sua porta. Ao abrir, não havia ninguém, mas sim um livro deixado em cima do tapete. "Antes que o café esfrie". Esse era o título que estampava a capa do livro ali deixado. Junto do livro, um pequeno postite escrito "É um excelente livro pra quem quer se encontrar. Espero que aproveite nossas almofadas na varanda."

Beatrice pegou o livro, leu seu prefácio, sorriu e o colocou em cima de seu travesseiro. Com toda certeza iria ler nas próximas horas, mas antes, precisava fazer uma breve pesquisa sobre o alvo que deveria executar.

Tudo que Beatrice precisava, era confirmar que tudo não passava de um engano e nenhuma das informações passadas por Suzanne sobre aquela freira eram verdade. Precisava ver, precisava sentir. Precisava estar errada. Existiam sim mais pessoas boas do que ruins e aquela irmã iria lhe provar isso.

Beatrice procurou o endereço do orfanato que a irmã trabalhava, pegou um táxi e foi até o lugar. Chegando no internato, Beatrice se deparou com um ambiente sem cor, sem vida. Era de longe um lugar atrativo para crianças órfãs.

Ao ver aquele ambiente, Beatrice lembrava de seus primeiros dias no centro de treinamento, para onde foi levada após a morte de seu pai. Por mais que não tenha tido a melhor infância e adolescência do mundo, Beatrice tinha certeza que não queria ter o suposto destino de algumas crianças daquele lugar.

-Boa tarde! - Beatrice cumprimentou uma freira que estava logo depois da entrada.

-Oi, minha filha. Boa tarde! - A freira cumprimentou de volta.

-Soube que esse orfanato irá promover um evento para arrecadação de fundos daqui dois dias. Gostaria de conhecer o lugar antes disso.

-Ah, sim. Deixe que eu chame a irmã Francis. Ela está a frente disso. - A freira saiu em busca da irmã Francis e deixou Beatrice no jardim.

Beatrice continuou andando e encontrou um menino apático chamado Diego, que estava sentado em um banco, com um livro de desenhos em cima do colo.

-Olá, garotinho! - Beatrice o cumprimentou.

-Olá! - O menino a olhou e voltou os olhos para o desenho rapidamente.

-O que está desenhando? - Beatrice viu, mas decidiu perguntar afim de que lhe contasse o significado do desenho.

-Un pájaro. - O garoto foi direto.

-Você gosta de pássaros? - Beatrice queria que o garoto se aprofundasse.

-Ele me lembra minha melhor amiga. Ela era um pájaro, só que preso. - O menino falava sem olhar Beatrice.

-Ela era? Não é mais?

-Está morta! A irmã Francis diz que ela era uma inútil e que agora está no inferno. Disse que ela se matou, que teve uma overdose de remédios, mas eu não acredito nisso. - O menino fincou os olhos em Beatrice. - Ela era tetraplégica. Como poderia cometer suicídio?

Beatrice olhava incrédula para o menino. Dava pra sentir seus olhos se encherem de raiva depois de ouvir as palavras pronunciadas.

-Olá! - Irmã Francis se aproximou. - O que você está fazendo Diego? Não importune nossas visitas.

Diego levantou, entregou o desenho a Beatrice e saiu correndo.

-Olá, irmã Francis! - Beatrice a cumprimentou apertando sua mão com os olhos cerrados.

...

Vou fazer a Bea arranjar mais uma paquerinha (sim, eu tenho 70 anos) só pra matar vocês do coração 🤭

Avatrice - Assassina De Aluguel Where stories live. Discover now