A verdade II

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Beatrice estava de costas para Ava e o único barulho que podia ser ouvido era da gaveta da mesinha se abrindo.

-Eu prometi pra você que não ia mais mentir, e não vou. - Beatrice sabia que dali em diante, tudo poderia ficar ainda pior, mas eu realmente não posso deixar você em perigo.

Ava perdeu as forças do corpo, sendo impedida pelos braços de Beatrice de entrar em atrito com o chão.

-Desculpa por isso. - pediu Beatrice, enquanto os olhos de Ava se fechavam aos poucos. - É só um tranquilizante. - Completou.

Depois de deitar a mulher desacordada na cama, Beatrice retirou um celular de dentro de uma maleta que tinha guardada. Segundos depois, a voz de Vincent saia pelos fones.

-O que houve? - A voz do homem era preocupada. Ele sabia que Beatrice jamais lhe ligaria, a menos que Ava estivesse em risco eminente.

-Ela descobriu tudo. Ela sabe de mim e provavelmente o Duretti sabe onde ela está.

-Você precisa tirar ela daí. - A ordem foi clara.

-Eu sei. Preciso de um avião em uma hora e meia.

-Vou te mandar a localização. Beatrice, ela está bem?

-Fisicamente, sim. Tive que apagá-la ou ela iria atrapalhar tudo e se colocar em risco.

-Claro. Eu confio em você.

Em quarenta minutos, Beatrice deixava a pensão com uma enorme mala sendo empurrada.

-Pra onde está indo? - Dessa vez era Carol. A mulher perguntava depois de ver o empenho de Beatrice com a mala e a chegada de um carro a frente do pensionato.

-Ah, não. Só vou levar essa mala para uma pessoa conhecida. Comprei algumas coisas aqui no México e vou ter que enviar. No começo da noite estarei de volta.

-Que bom. Espero que fique um pouco aqui na pensão. Você nunca mais quis saber da gente. A vovó estava sentindo sua falta.

-Até o jantar, então. - Beatrice beijou o rosto de Carol e saiu em direção ao carro que lhe aguardava.

Carol esperou por Beatrice a noite inteira. Realizou algumas chamadas para o telefone da mulher, porém, sem sucesso.

Dentro do avião, Beatrice olhava para a tela do telefone chamando, com o nome de Carol estampado na tela.

Oi, aqui é a Beatrice. Tive que viajar com urgência e não poderei atender sua ligação. Deixe recado!

Foi essa a mensagem que Carol ouviu, já por volta das 23h, quando Beatrice gravou uma caixa postal.

-Nao acredito nisso. - Carol estava chateada com o que tinha acabado de acontecer. Beatrice tinha mentido de forma desnecessária. Era isso que ela pensava.

-Filha, você não vai dormir? Não se preocupa, ela deve estar bem. - A avó de Carol apareceu na sala, já vestida em seu pijama e com suas pantufas nos pés, preocupada em ver a neta daquele jeito.

-Sim, vovó. Ela está bem. Teve que viajar e não sabe quando volta. - Carol colocou o celular no bolso, beijou a testa da avó e foi para seu quarto. -Boa noite!

Dali em diante, Carol deitou em sua cama e chorou por alguns minutos, até que levantou e foi ao quarto de Beatrice.

O quarto estava impecável. Parecia que ninguém havia estado ali há muito tempo. Tudo que remetia a Beatrice era o leve cheiro de seu perfume que ainda perdurava naquele espaço, sobrevivendo, assim como o amor que Carol sentia machucar seu peito.

A cama estava lá, com os lençóis esticados, sem uma dobra sequer. A mulher com o corpo coberto por tatuagens deitou ali, cheirando o travesseiro, o molhando com suas lágrimas, até que o sono falou mais alto.

O sol já estava forte quando Carol acordou daquela noite. Um banho rápido, roupas limpas, e em pouco tempo ela estava de frente a floricultura que estava com as portas trancadas e um anúncio de venda colado a frente.

-Nao acredito! - Carol falou em voz alta.

-Nem eu! - JC falou ao seu lado.

-Você precisa de flores? - Carol perguntou.

-Preciso da florista. É uma pena.

-São amigos? - Carol não escondeu a curiosidade em saber qual a relação de Ava com aquele homem que pela voz, parecia estar interessado em mais que uma amizade.

-Desde que uma pessoa metida cruzou nosso caminho. Mas eu vou resolver isso.  - JC se aproximou da porta lateral e tocou a campainha.

-Acho que você não vai conseguir falar com ela. - Carol já tinha suposto que Beatrice não viajaria sem Ava, e ao ver aquele anúncio de venda, teve ainda mais convicção.

-Por quê? - Não passava pela cabeça de JC que Ava pudesse ter ido embora com Beatrice. Não depois de tudo que ela tinha descoberto.

-A namorada dela. Da florista. Ela foi embora. Suponho que esse anúncio aí na frente signifique que as duas foram juntas.

Carol se assustou ao ouvir o estrondo causado pelo soco que JC desferiu contra o portão fechado.

-Merda! - O ódio tomava de conta do homem e mil pensamentos inundavam sua mente.

-Calma! - Carol disse assustada. -Você não pode sair por aí quebrando o patrimônio dos outros.

-É melhor você não se meter. A cretina da Beatrice me paga.

-Ei! Você quebra patrimônio alheio e ainda xinga mulheres? Que escroto! - Carol deu as costas ao homem, mas foi impedida de continuar ao ouvir sua voz.

-Você não sabe quem é a pessoa que você está defendendo. - JC continuou.

-E você sabe? - Carol perguntou em tom de deboche.

-Bom, mais do que você. Pelo menos eu sei que... Espera. Quem é você? Não nos apresentamos. Sou JC. - O homem estendeu a mão a mulher.

-Só vou te responder por educação. Carol. Eu me chamo Carol.

-E eu posso saber de onde você conhece a incrível Beatrice? - O homem perguntou com um sorriso no rosto, como se tivesse vencido uma batalha.

-Não. Não pode, porque não é da sua conta! - Carol respondeu com um sorriso seco no rosto e tornou a dar as costas para JC.

-Você é difícil, não é? Mas eu vou tirar essa sua marra. - Segurou forte no braço de Carol e puxou seu corpo de encontro ao dele. - Você vai falar tudo que eu te perguntar.

-Me solta, senão eu grito. - Carol não se deixou amedrontar pelas palavras ameaçadoras de JC, que a soltou quando viu que ela não estava brincando.

JC a observou se afastar com passos firmes, pisando forte no chão para esconder o temor que sentiu.

Avatrice - Assassina De Aluguel Where stories live. Discover now