Se olha no espelho

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- Você tá com dor - ele afirmou, sem rodeios, colocando a mão na minha barriga.

Não respondi, apenas bebi um gole longo do copo de água que estava na mesa na minha frente. Não adiantava eu tentar mentir para o Wendell. Ele já estava nos acompanhando nos shows antes mesmo da nossa viagem para Orlando. Se tinha uma coisa que ele sabia, era quando eu estava bem ou não.

- Maraisa... - ele começou, quase em tom de súplica - eu posso ligar para a médica, ela vem te examinar aqui...

Fiz que não com a cabeça, irritada.

- Nem pensar. Vai dar o maior alarde se você chamar um médico aqui agora. A última coisa que eu quero é chamar atenção.

Wendell concordou com a cabeça, mas estava visivelmente contrariado. Se dependesse dele, sem dúvidas, o show já estava cancelado e estaríamos no caminho do hospital mais próximo.

- Maiara e Maraisa, cinco minutos no palco! - um dos produtores soltou, apenas colocando a cabeça para dentro do camarim e fechando a porta novamente em seguida.

Entreguei o pote da minha janta na mão do Wendell e levantei do sofá. Para minha sorte, ele estava tão preocupado em reclamar que eu não havia comido tudo que sequer percebeu que eu dera uma leve desequilibrada na hora que fiquei de pé.

"Nada demais. Você está enjoada e levantou muito rápido", pensei, respirando fundo, colocando, involuntariamente, a mão na barriga, como se estivesse protegendo a bebê do que eu estava sentindo.

- Bom show, minhas meninas - Wendell se aproximou, me envolvendo com os dois braços - se cuidem. Estarei aqui esperando vocês para irmos direto para o hotel descansar. Sem discussão.

Eu sorri, um sorriso genuíno, que fez eu esquecer, por um momento, todas as dores que eu estava sentindo, deixando um beijo calmo e suave nos lábios dele. Uma das coisas que eu mais gostava era ouvir ele falando tudo no plural, como se eu e a bebê já não fôssemos mais a mesma pessoa.

E eu era obrigada a admitir que eu me fazia de durona, muitas vezes. Apesar de resmungar e reclamar do instinto protetor do Wendell comigo e com a bebê, me tratando quase como se eu fosse um vaso de cristal delicado que podia quebrar a qualquer toque leve, o sorriso bobo que ele dava toda vez que me olhava, cheio de preocupação e cuidado, fazia eu me sentir a pessoa mais especial que caminhava sob a terra.

E isso fazia eu me sentir de uma forma que há tempo não me sentia: completa. Em todos os âmbitos da minha vida.

- Eita que você tá mais branca que papel - Maiara soltou, apressando o passo para caminhar do meu lado pelos corredores do backstage, em direção ao palco, me trazendo de volta à realidade - tá tudo bem?

- Você também? - resmunguei, sem diminuir o passo - Wendell tá pagando você para ser minha babá?

- Eita que ela tá mal humorada hoje - Maiara retrucou, torcendo o nariz.

Respirei fundo, arrependida pela resposta direta e ríspida que eu dera.

- Desculpa - mordi o lábio, enquanto me encostava na coxia do palco - estou um tanto enjoada e com um pouco de cólica...

- De novo? - minha gêmea constatou, parando na minha frente, de braços cruzados - você reclamou da mesma coisa antes de embarcar de volta para o Brasil...

- É da viagem - respondi, cortando minha irmã - não dormi muito bem no voo da volta...

- Desde quando você virou a Dra. Maraisa, formada em medicina e com especialidade em obstetrícia? - Maiara soou um pouco irritada - você tem que ver um médico, Maraisa... Não é mais só sobre você, é sobre a sua filha também...

Encontro com o passado - MADELLWhere stories live. Discover now