Capítulo 5

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O dia estava amanhecendo, e eu precisava me abrir com alguém, conversar sobre tudo o que aconteceu comigo, resolvi ligar para Isabela.

Devolvi o colar à bolsa, e a mesma no sofá, fui até a poltrona, pegar meu celular no casaco, e para meu espanto não estava ali, então me lembrei de que estava em cima do sofá, antes de tudo. Acho que os sequestradores o pegaram para xeretar em busca da localização do colar.

O pior é que eu não faço ideia de que horas são agora para ir na casa dela, eles quebraram até o meu despertador, e eu não tenho um relógio de parede, porque sempre achei uma bobagem ter um, sendo que vivo parte do tempo na frente de uma tela e ainda fico fora de casa o dia inteiro.

Não quero acabar acordando-a umas quatro da manhã, ela tem sono pesado – pensei, me desanimando. Isso sem tirar que, pelo o que aconteceu ontem, ela provavelmente deve estar na casa de sua namorada que, para ajudar, eu não sei onde é.

Em meio ao meu desânimo, me lembrei de um amigo que voltou a alguns dias de viagem, do enterro de seu pai, ele mora perto e não se incomoda de ser acordado de madrugada, é um amigo que está aí pra tudo. Embora estejamos sem nos falar por um tempo, estamos meio brigados. Ele é um bom policial e um bom ouvinte. Então decidi que iria vê-lo.

Tomei um banho rápido antes de sair, minha mão ardeu bastante quando entrou em contato com a água quente e o sabonete. Depois vesti uma blusa verde esmeralda de manga comprida, para cobrir a marca da corda dos meus pulsos, a famosa calça jeans, meu tênis preto e por fim uma jaqueta, também preta. Assim que me troquei, peguei minha bolsa marrom, enrolei o colar em um pano e coloquei na bolsa, junto ao resto que tirei da outra bolsa, que estava suja com o sangue de Joaquim. Joguei esta no lixo. Minha mão direita, que estava cortada, começou a sangrar novamente, o que me fez enrolar uma toalha de louça meio úmida na mão. Saí de casa, deixando parte do primeiro andar, desarrumado, do jeito que estava.

Fui andando depressa até a casa de Louis, que não é tão longe assim da minha. Ele é um homem um pouco mais alto que eu, moreno, de olhos castanhos escuros, sempre de cabelo curto. Nós nos conhecemos em uma cafeteria, pouco antes de eu começar a faculdade.

Em uma noite eu pedi uma pizza e quando o entregador chegou, vi que era ele. Imagine o meu espanto quando eu abri a porta e vi Louis com a minha pizza em suas mãos. Eu até o acusei de me seguir.

Naquela mesma noite ele sugeriu que saíssemos juntos algum dia, que o destino estava dizendo alguma coisa. Eu achei bobo, mas aceitei, trocamos número de celular e foi isso, eu o paguei e ele foi embora - e eu comi a minha pizza de bacon.

Quando saímos juntos, no nosso primeiro encontro, descobri que ele também era adotado e que ficamos no mesmo orfanato. Mas como éramos pequenos na época, não lembramos um do outro.

Louis foi para um casal que não podiam ter filhos, se chamavam Cristian e Lívia Andrews. Seu novo pai era um advogado, que conheceu Lívia em um caso, se apaixonaram e se casaram, Cristian queria que seu filho seguisse seus passos, mas praticamente o desertou quando descobriu que Louis não queria isso.

Já eu, fui adotada por um casal super simpático, Bruce e Brigitte Gonçalves Becker, os dois eram professores universitários, Bruce, doutorado em línguas; e Brigitte estava cursando história. Eles sempre me deram muito apoio quando decidi seguir a carreira jornalística.

Saímos juntos mais algumas vezes, ficamos amigos até ele me beijar. Foi um único beijo e eu me afastei, deixei claro que não estava interessada nele da mesma forma, e que o via apenas como um amigo.

Fiquei triste por magoá-lo, mas ele aceitou isso, sermos apenas amigos.

Depois de um tempo, ele disse que me considerava como uma irmãzinha - confesso que por essa eu não esperava.

Perdoe o PassadoWhere stories live. Discover now