Capítulo 1

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Uma cidadezinha normal, localizada perto de uma grande floresta, um lugar onde nada de interessante acontece, é um bom lugar para morar.

Me mudei para essa cidade faz pouco tempo, quase um mês. Vim à procura de sossego, um lugar onde eu possa fincar as minhas raízes.

Arrumei um emprego em um jornal, Fihan é o nome, que tem como principal objetivo levar aos leitores a mais pura verdade. Só é uma pena que todos os jornais daqui sejam locais, então tudo o que acontece nessa cidade, fica nessa cidade.

Aluguei uma casa bem bonitinha e aconchegante, pertinho do meu emprego. A casa tem dois andares e uma garagem, no primeiro andar tem a sala, a lavanderia, a cozinha. No segundo andar há um escritório, um banheiro e dois quartos. O proprietário, Charles Prestes, estava cobrando um preço razoável, um homem apelidado pelos vizinhos de "Charles o louco". Inicialmente pensei que era um apelido muito cruel, principalmente porque ele se mostrou tão sã quando fechamos o negócio, mas depois de passar algumas noites em claro, por culpa de suas preces sem sentido, percebi o quanto ele faz jus ao apelido e o quanto eu amo dormir. Pelo menos eu tenho o meu trabalho para aliviar a situação, e café para me acordar durante o dia.

Charles Prestes é um homem pouco sociável, devido às suas paranóias de que todas as histórias de terror e de contos de fadas são reais, dizem que ele começou a ficar louco depois que sua mãe morreu há dois anos, ela morava na casa ao lado, ou seja, a casa que aluguei. O Sr. Prestes tem um metro e setenta e poucos, deve ter entre quarenta a quarenta e cinco anos, tem cabelos loiros escuros, apesar de muitos confundirem com castanhos. Nunca se casou. Só sai de casa durante o dia, depois das nove da manhã e volta antes de anoitecer, volta praticamente correndo como se alguém o estivesse perseguindo. Bem, é o que me disseram, já que só volto para casa perto das oito da noite.

Enfim, lá estava eu ​​em minha adorável casinha, em uma de minhas noites em claro escrevendo um artigo que, alguns anos atrás me daria sono só de pensar em escrever, mas, ultimamente, não tenho me arriscado tanto, preferindo ficar na minha zona de conforto, a mesma zona que antes eu detestava.

Assim que terminei o artigo, salvei e enviei ao meu chefe, Daniel Diaz, e fui dormir perto das três da manhã, já que Charles finalmente havia terminado suas orações.

Peguei no sono depressa. Havia uma mulher correndo em um beco assustada, com medo de alguém. Até parecia um filme de terror, em que a mulher era a protagonista e eu a câmera que a perseguia pelo beco. Tudo no momento parecia normal, como mais um sonho doido em minha vida, até que ela cai no chão, se vira, olha para mim e grita bem alto. Um grito ensurdecedor que me fez acordar assustada com dor nos ouvidos, o que me fez pensar se o grito era somente de meu sonho ou se era real. Virei meu rosto para o lado, em direção ao relógio e só haviam se passado pouco mais de meia-hora, fiquei desanimada, pois estava com sono e para piorar a situação, meu caro vizinho também acordou e começou a rezar novamente, geralmente ele dá uma pausa de duas horas a cada reza e não meia-hora, o que me deixou bem irritada.

Ah, mais que saco, será que não posso mais passar uma noite tranquila, dormindo sem que esse louco reze?! – Disse a mim mesma, com muita raiva. – Peraí, então isso significa que o grito foi real e a uma pouca distância daqui?

Assim que terminei de refletir sobre esse fato um tanto estranho, concluindo que devia ser coisa da minha cabeça. Charles apenas resolveu continuar suas preces mais cedo hoje. É, foi isso. Me ajeitei na cama, tentando dormir novamente e para a minha felicidade, consegui dormir o resto da noite tranquilamente, com um travesseiro e algodão tampando meus ouvidos, sem nenhum grito ou oração para me acordar.

No outro dia, quero dizer, quando eu acordei, estava quase atrasada para o meu trabalho, eram oito e dez da manhã e eu entrava daqui a vinte minutos. Levantei num pulo, me vesti depressa, peguei minhas coisas e corri para o jornal. No caminho, parei para comprar um café na cafeteria Café Express. Marcos, o dono de lá, já me conhecia tão bem que o meu pedido de sempre já estava pronto. Ele é assim, gentil com seus clientes e olha que eu nem o conheço bem.

Perdoe o PassadoWhere stories live. Discover now