Correntes e cadeados

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Porém, de uma coisa eu tinha certeza: eu estava amarrada nele. Presa por correntes e cadeados que eu mesma criara, mesmo quando estávamos longe um do outro. E, agora, eu tinha um elo forte que nos ligaria para sempre, querendo ou não: nosso filho.

Ter escutado a versão dos fatos do Wendell, apesar de eu ter a certeza de que faria diferente, fez com que eu pelo menos entendesse um pouco o que tinha acontecido. Eu era obrigada a admitir que ele não estava de todo errado: eu jamais deixaria aquela história ter chego tão longe e com certeza teria assumido a responsabilidade de um erro que não era meu.

Mas aquilo era superável. O que importava era que, independente do que acontecesse, mesmo se eu não tivesse um marido, meu filho teria um pai.

Estiquei meu braço em direção ao meio da cama, segura de que ele esbarraria no corpo quente do Wendell, deitado ao meu lado. Mas, para minha surpresa, minha mão encontrou diretamente o colchão e um emaranhado de lençóis.

Abri os olhos e sentei na cama, encarando o lugar vazio ao meu lado, quase dando uma risada de nervoso.

Ele não estava ali.

"Otária" - pensei, passando a mão pelos cabelos e pelo meu rosto, antes de levantar e vestir um roupão que estava jogado na borda da jacuzzi vazia.

Não consegui esconder a frustração e a irritação em saber que ele tinha ido embora. A decepção só aumentou depois que dei uma volta pelo quarto e percebi que ele não tinha deixado nenhum bilhete, como costumávamos a fazer.

Abri a cortina totalmente e me encostei na janela grande do quarto, observando o movimento das ruas de São Paulo, desbloqueando o celular pela primeira vez desde que acordara. Meu WhatsApp estava bombando, mas eu abri uma única conversa: a do Wendell. E, novamente, só recebi o silêncio. Não tinha nenhuma mensagem dele.

"Otária" - repeti, largando o telefone na bancada.

No instante seguinte, três batidas suaves na porta me tiraram dos meus devaneios e fizeram meu coração acelerar. Tentei disfarçar a ansiedade e o sorriso que brotou no meu rosto, caminhando devagar, mas não me contive: acelerei o passo, na ânsia de abri-la.

Não consegui esconder a decepção quando enxerguei o visitante.

- Meu deus, Maraisa - Bruno torceu o nariz, enquanto eu dava um passo para o lado para que ele entrasse - você nem disfarçou o desgosto em me ver...

Fiz que não com a cabeça, fechando a porta, observando o Bruno se jogar na cama desarrumada.

- Desculpa - falei, sentando na poltrona do quarto - é que...

- Você queria que fosse o Wendell - ele riu, ainda deitado.

Não respondi, mas meu silêncio foi o suficiente para entregar minha resposta.

- Vocês não se falaram ontem? Brigaram?

Dei uma risada anasalada, deixando um sorrisinho involuntário aparecer nos lábios.

- A gente se falou sim - respondi, o sorriso aumentando.

Bruno levantou a cabeça e me encarou, curioso, por alguns segundos. Em seguida, pulou da cama, passando as mãos pelo corpo.

- Puta que pariu, Maraisa! Você nem pra me falar que tinha transado com ele nessa cama e mandar eu parar de me esfregar nesse lençol! Eu tô contaminado agora!

Caí na gargalhada, enquanto Bruno continuava a se esfregar, de pé. Antes que eu fizesse menção de responder algo, novas batidas na porta me interromperam. Levantei, apressada, tentando, novamente, fingir despreocupação, enquanto sentia minha respiração acelerar a cada passo que eu dava.

Encontro com o passado - MADELLOnde as histórias ganham vida. Descobre agora