Capítulo 36

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A chuva continuava a cair forte do lado de fora das paredes de Nevermore, enquanto na enfermaria, deitada sobre uma das macas, estava Larissa com um curativo na testa devido ao impacto que levou, olhos fechados e respirando profundamente e calmamente, dormindo por quase 3 horas, sem sinal de que iria acordar, e ao seu lado estava Mortícia, ainda tentando entender o que a fez sentir tanta raiva, pois, sabia que era por culpa dela, mas isso pareceu a sugar e trazer uma Larissa que não existia, cruel e capaz de matar uma pessoa, pois nem em seu estado mais ruim, ela foi capaz de fazer algo do tipo.

A convivência de Mortícia com sua colega de quarto, lhe provava a anos que ela era uma mulher doce, que cuidava do que amava, e por mais que aparenta ser séria, fria, determinada e calculista em alguns momentos, era apenas uma armadura para chegar onde chegou ao comando de Nevermore, a escola de excluídos de 200 anos e cuidar de seus alunos, mas no fundo, Larissa Weems era a mulher mais simples e delicada que a fria e sombria, Mortícia Frumps, na época, conhecia e não importava os anos, ela continuava sendo a velha adolescente que a menina de cabelos longos e negros via caminhando pelo jardim e cuidando das flores, enquanto ela cortava as pétalas, deixando apenas os caules.

A matriarca olhou pela janela e percebia a madrugada maravilhosa que estava tendo a sorte de ter, enquanto, sem perceber, segurou as mãos de Larissa, se dando conta somente quando voltou suas atenções a ela, notando seus dedos entrelaçados nos largos e quentes dedos de Weems, adormecida serena e mais bela.

Assim que iria tocar uma das mãos no rosto da mesma, o som da porta se abrindo foi ouvido pela mulher, que recuou delicadamente sua mão, soltando Larissa, virando e vendo seu marido entrando lentamente, mas parando um passo após a porta.

- Ela está bem?

- Sim! Só vai acordar amanhã pelo que a enfermeira disse - falou, começando a caminhar até ele e parando em sua frente - Nossa filha mostrará seu quarto, que será o meu.

- Você não vai descansar, Tish?

- Não posso! A Larissa possuía várias coisas para resolver - se afastou, quando sentiu que ele iria tocar em seu rosto - Preciso adiantar o máximo, porque se ela acordar vai querer fazer! - começou a sair da sala - E como vice-diretora, é minha obrigação fazer isso - virou em direção a ele e sorriu discretamente.

- Está bem - se aproximou para um selinho - Se precisar de ajuda com qualquer coisa, me chame.

- Tudo bem.

Gomez começou a se afastar de Mortícia, que antes de seguir o que havia falado a ele, olhou para dentro da enfermaria e mirando em Larissa, que virou lentamente sua cabeça para a direita e para a esquerda, como se estivesse tendo uma espécie de pesadelo, e isso lhe chamou a atenção, voltando para o interior da mesma, fechando a porta e caminhando até o lado da maca e tocando novamente em uma das mãos da mulher.

Mortícia sentiu que seus olhos arregalaram ao invés de fechar e sua cabeça foi com força para trás, e quando voltou a abri-los, sentiu o calor das chamas, o cheiro de enxofre, dor exalando no ar, além de gritos apavorantes para muitos, mas que para ela eram razoáveis, mas quando virou para olhar ao redor de onde estava, viu rachaduras no chão que expelia lavas que poderiam queimar em milésimos de segundos a pele humana, rochas negras e o céu em vermelho sangue, mas o que realmente lhe chamou a atenção estava em uma imensa estrutura com grades em chamas e bem acima um nome em QUIRGIZ

"жер астындагы дүйнөнүн падышалыгы", e por conhecer várias línguas e idiomas extintos ou não, ela leu em voz alta:

- O Reino do Submundo?

Mortícia virou rapidamente quando ouviu os gritos de Larissa ecoarem de algum lugar, e por mais que fosse apenas um sonho, ela poderia estar em perigo e se tratando do que muitos conhecem como inferno, poderia de tudo acontecer.

Assim que virou o corpo para um ponto em especial, viu a mulher correndo de algo que não não conseguia ver, então começou a correr até ela, levantando a bainha de seu vestido para ganhar mais rapidez para pará-la e lhe avisar que não havia nada a perseguindo.

Quando a virou depois de correr bastante atrás da mulher que usava um vestido branco e longo, viu em seus olhos o pavor que nunca viu, além de a mesma a abraçar tão forte que sentiu seus braços lhe apertando.

- Ele tá aqui! - se afastou lentamente, olhando fixamente e segurando o choro.

Mortícia sentiu a respiração quente em sua nuca, virando lentamente e começando a sentir o calor, e assim que virou completamente viu um monstro enorme com a pele vermelha, olhos negros e dois cifres na cabeça, dedos largos e usando uma espécie de vestimenta fúnebre, além das unhas gigante e asas negras que arrastavam no chão, e naquele momento estava sabendo como era Yotyaf, o demônio que hospedou sua alma e a de Elijah, causando os seus piores momentos e descobertas.

Quando deu um passo para trás, tropeçou em uma pedra, caindo de costas no chão ao senti-lo se aproximando, mas sentiu o toque de Larissa a puxando com força, a levantando e ambas começaram a correr o mais rápido que seu corpo lhe permitiam, passando ao lado de abismos sem fim e rios quentes e em chamas, e assim que olhou para trás, Mortícia viu o enorme demônio levantando voo e o som de suas asas era tão alto, que elas correram ainda mais, entrando em uma estreita caverna com uma fissura quase impossível para ambas, mais o medo as possibilitou essa chance.

Assim que entraram ouviram o som das asas se aproximando e os passos, além da risada sombria e segundos depois silêncio.

A mulher de vestido preto, virou para Larissa que estava respirando aceleradamente e segurou em seu rosto, puxando para perto e lhe dizendo:

- Calma!

- Eu tô com medo, Mortícia! - a envolveu em um abraço, que a fez se deitar em seu colo e todo o tamanho em 1.91m, se encolheu como uma criança assustada.

- É só um sonho que você não vai acordar tão cedo! - a apertou em um abraço, a comprovando que estava protegida até que ela acordasse na maca onde estava e entre as paredes de Nevermore - Eu vou ficar com você e não vou deixá-lo lhe machucar.

O sol nascia por de trás das árvores e a escola voltava a renascer com seus alunos e professores, mas na enfermaria, Larissa abria lentamente os olhos, ainda tendo dificuldade com a claridade, pois havia passado cerca de 10 horas dormindo e até se acostumar novamente, iria demorar muito, mas algo lhe chamou a atenção, lhe fazendo sentir formigamento em uma das mãos, e quando virou, viu Mortícia deitada ao seu lado na maca e segurando sua mão, abrindo os olhos lentamente e encontrando os dela, começando a falar:

- Você é bastante desejada, sabia? - sorriu maliciosamente e discretamente ao se referir às horas em que passou ao lado da mulher alta em seu sonho, fugindo de demônios e de Yotyaf, as tornando ainda mais próximas.

- Obrigada, e... desculpa? Eu não sei o que aconteceu - olhou para o teto, recordando apenas de chegar e a segurar fortemente pelo pescoço, a tirando do chão - Eu machuquei você? - virou para ela novamente.

- Não! Mas eu lhe devo um pelo machucado na testa - sorriu, enquanto ouvia a porta ser aberta e Wandinha às olhando com a testa franzida e paralisada - É uma longa história, filhinha! - se levantou com cuidado, pois o espaço era pequeno demais para as duas mulheres - Mas... - saiu da cama, ficando de pé e olhando para sua filha -... tenho informações que você irá gostar bastante! - sorriu maliciosamente.

O Rei do SubmundoWhere stories live. Discover now