Sem segredos

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No quarto ao lado de Santana, seus pais acordaram no susto com o grito da filha e até assimilar que era uma declaração de amor e não um sequestro, senhora Carmem Lopez quase caiu da cama. Senhor Ramón Lopez colocou a mão no coração que batia acelerado.


- Díos mío. O que essa menina ta pensando? - Sr Ramón falou enquanto via a esposa se levantar e vestir um robe de seda preto, passando a mão nos cabelos pouco grisalhos devido a idade.


- Eu já volto, amore mio - Seus lábios juntaram no do marido rapidamente e ela seguiu para o quarto da filha abrindo a porta sem bater, atitude que nunca fez devido a privacidade de cada um que ambos respeitavam dentro do lar. - ¿QUE DIABLOS ES ESO? - A mulher mais velha deu de cara com a filha debruçada na janela e a sobrinha tentando puxá-la para dentro. As garotas a olharam estateladas, sem darem um pio e agora só se ouvia o barulho da respiração dos três corpos que ali estavam.


- Tia - Rachel de branca ficou transparente, via-se gotas de suor começando a brotar em sua testa e seus lábios tremiam. Como explicar a tia que Santana gritou Eu te amo as 6:00h da manhã e não foi para um garoto? Sua tia sempre descobria quando ela mentia, não daria certo. Seus olhos foram direto para a prima que respirava fundo e permanecia imóvel, como se congelassem seus pés no chão.


- Estou esperando. O que está acontecendo? - Cruzou os braços e parou no meio do quarto. Santana sentia o medo correr por suas veias e baterem dentro do seu coração. Estar exposta sem nenhum preparo para contar a verdade a mãe, fez um nó se formar em sua garganta e seu estômago está sofreu uma queda para longe do seu corpo. - Eu quero ouvir de você, Santana. - FO-DEU. O castanho de seus olhos ganharam uma nuvem de lágrimas e ela as secou com a ponta dos dedos antes mesmo que saísse de seus olhos. Respirou fundo.


- Mãe - Apertou as mãos em frente ao corpo. Seus pensamentos gritavam: Calma, conte logo de uma vez, como um band aid sobre o machucado. Sua voz sumia a cada segundo ali.


- Para quem você gritou a essa hora, Santana?


- Eu gritei para a Brittany - Sua frase saiu entre dentes, seus olhos não conseguiam encarar os de sua mãe, e assim, permaneceu com a cabeça baixa e suas mãos fechadas sentindo suas unhas marcarem a carne.


- O que você disse? Santana, mal deu para ouvir. Para quem você gritou? - A menina encheu os pulmões de ar e falou de uma só vez.


- Mamá, eu... - A coragem que agarrou segundos atrás parecia lhe fugir entre os dedos, ou fosse dos olhos sérios de sua mãe a encarando - Eu amo garotas, da forma que eu deveria amar garotos. É algo que sempre esteve dentro de mim e... E não quero mais esconder de você porque a amo muito. Essa é quem eu realmente sou - Os olhos castanhos voltaram a encher-se d'água - Quando estou com Brittany - Seus lábios sorriram com as lembranças do relacionamento - finalmente entendo o que as pessoas querem dizer quando falam de amor. Tentei lutar contra esse sentimento e trancá-lo dentro de mim, mas cada dia parece uma guerra. Ando por aí com raiva de todo mundo, mas estou é lutando comigo mesma. Não quero mais lutar. Estou muito cansada. Preciso ser quem sou - Foi incrível o alívio que sentiu quando disse o que seu coração estava transbordando. Agora, era encarar as consequências que poderiam vir ou não. Rachel continuou como estátua no quarto, mas ficou orgulhosa da prima ao ouví-la dizer o quão grande era seu sentimento por Brittany.


- Santana - Sra Carmem se aproximou e sentou na cama de frente para a menina - Eu sei. Sempre soube, só estava esperando que tivesse vontade de me contar. - Os queixos das meninas caíram ao mesmo tempo e seus olhos arregalaram - Ora, não me olhem assim. - A mulher sorriu - O prédio tem câmeras e eu estou sempre de olho. - Hija, gracias por ter me contado seu segredo. Mesmo que tenha sido dessa forma, um tanto forçada - As duas sorriram - Eu te amo, independente de sua sexualidade, isso só importa a você. Mas por favor - Suas mãos pegaram as da filha, a puxando para sentar ao seu lado - Tome cuidado. O mundo é cruel com pessoas que eles denominam diferentes, mas aqui em casa, eu to fechada com você. - O abraço que recebeu foi uma surpresa e muito bom. Reconfortante e aliviador - Agora, sem gritos pela janela, nós podemos receber multa do condomínio por isso. - Andou até a porta e antes de sair, virou-se admirando a filha e sobrinha. Independente da idade, sempre seriam seus bebês. - A propósito Rachel, seus pais também sabem - Sorriu e piscou, deixando a menina com cara de taxo e recebendo uma almofadada da prima na sequência.


- Não fica assim, anã - Santana deitou de um lado da cama a olhando - Não é tão difícil falar, ainda mais com você sendo um papagaio de pirata, que não cala a boca.


- Cala a boca. Estamos com problemas maiores aqui - Suspirou jogando-se na cama - Acho que a mãe da Brittany descobriu e não levou tão na boa assim como a tia.


- É, provavelmente não. O que nós podemos fazer?


- Como assim nós?


- Vai me deixar sozinha nessa? - Rachel sabia que aquilo era problema. O que elas poderiam fazer? Sabe-se lá o que a mãe de Brittany faria e como agiria.


- Não é isso, só não sei o que poderíamos fazer.


- Vamos pensar em algo depois. Quero ver se Brittany irá para o colégio amanhã e como será. Já vi que hoje não irei conversar com ela - Os lábios carnudos formaram-se em um biquinho de dar pena e Rachel revirou os olhos.


- Você apaixonada é uma besta.


- E você é uma besta sempre - O som de sua risada saiu estridente.- Sem graça.

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⏰ Last updated: Jan 11, 2023 ⏰

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