Encontro com o passado - MADELL

Aí eu bebo

Concordei com a cabeça, enquanto ele saía do quarto e fechava a porta, nos deixando sozinhas.

- Você passou mal? - minha irmã franziu o cenho, cruzando os braços, se encostando na cômoda mais próxima e me olhando, séria, enquanto eu me jogava de costas na cama, os braços abertos, encarando o teto.

- Vomitei de nervoso. Eu mal comi hoje - falei, sem emoção.

Maiara ficou em silêncio alguns segundos, claramente ponderando as palavras que usaria a seguir.

- Você vai me contar quem caralho é essa tal de Luísa e como ela virou a noiva do Wendell em menos de duas semanas?

Dei uma gargalhada rouca, começando a sentir que algumas lágrimas voltavam a brotar nos meus olhos. Impulsionei meu corpo para frente, sentando na cama, dando alguns tapinhas no colchão, sinalizando para que Maiara sentasse do meu lado, o que ela atendeu prontamente.

- Eu nunca te contei o motivo da minha briga com Wendell semanas atrás. Não foi por estarmos indo rápido demais.

Nos minutos seguintes, entreguei o jogo para a Maiara, contando detalhes de como eu descobrira que Wendell, na verdade, tinha uma namorada que estava de férias em Miami. Minha gêmea escutou toda a história, sem emitir um comentário sequer, o que era um milagre vindo da Maiara, que vivia me interrompendo em qualquer história que eu contasse. Quando eu terminei, ela ficou alguns segundos em silêncio, aparentando ter dificuldade para processar o que acabara de ouvir.

- Wendell saiu mais de uma semana com você, não contou que tinha namorada, você descobriu e vazou. Mesmo assim ele procurou você com um buquê de flores, viu você com o Hugo, sumiu do mapa e agora pede a namorada em casamento no meio de um show nosso? - ela resumiu, a sobrancelha franzida, como se precisasse verbalizar toda aquela loucura para acreditar.

Concordei com a cabeça, quase rindo de nervoso de como essa história ficava ainda mais idiota quando contada de forma simples e em voz alta.

- Em poucas palavras, é isso.

- Maraisa... Não pode ser. O Wendell não faria isso. Tem algo muito errado nessa história.

Eu ri, levantando da cama.

- Irmã... Eu sei que você gosta dele. Eu também gosto - senti as lágrimas voltando a correr, enquanto eu me encostava na janela, olhando as árvores mexerem com o vento naquela noite escura - amo - corrigi, as lágrimas aumentando - amava. Não sei - solucei, tapando o rosto com as duas mãos.

Maiara levantou, me envolvendo novamente em um abraço.

- Vocês precisam conversar.

Me desvencilhei dos braços dela, irritada.

- Maiara! Não tem o que conversar. Ele escolheu ela. Eles estão noivos. E é isso. Eu vou lidar com isso do meu jeito. Esquecer. Já esqueci ele uma vez - quase ri com essa última frase. A verdade é que as semanas anteriores haviam me provado que eu nunca esquecera ele.

Minha gêmea ameaçou falar alguma coisa, mas preferiu ficar em silêncio, recuando, apenas concordando com a cabeça. Ela claramente não estava conformada com o que havia acontecido, e eu tinha a certeza que Maiara havia sentido o mesmo clima tenso no comportamento do Wendell que eu também sentira. Como se simplesmente não fosse ele em cima daquele palco.

Mas eu havia decidido que não ia me agarrar nisso. Afinal, era inocência da minha parte, até mesmo burrice, continuar justificando as atitudes dele e tentar encontrar uma forma de explicar aquele golpe baixo que ele havia me dado. A explicação era uma só. Eu tinha sido usada e ele escolhera ficar com a namorada. Eu fora a amante. E amante, de fato, não tem lar.