𝗜𝗻𝘁𝗲𝗻𝘀𝗲 𝗹𝗼𝗼𝗸𝘀 - 𝗣𝗮𝗯𝗹𝗼 𝗚𝗮𝘃𝗶¹

001| 𝙲 𝙷 𝙰 𝙿 𝚃 𝙴 𝚁 𝙾 𝙽 𝙴

𝙲 𝙷 𝙰 𝙿 𝚃 𝙴 𝚁 𝙾 𝙽 𝙴

O vento fresco fez meus cabelos balançarem assim que coloquei meu pé direito para fora do avião. A noite estrelada da lua que se preparava para daqui alguns dias se tornar crescente, assistia o meu cansaço de ficar em um avião por onze horas. Lembro-me que ainda eram exatas sete da manhã no horário de Brasília quando embarquei. Sendo agora dez da noite no horário de Barcelona. Provavelmente o último desembarque da noite. Assim que peguei minha única bagagem fiz de tudo para sair o mais rápido possível daquele aeroporto. Tinha poucas pessoas dentro do local, provavelmente esperando os familiares. Tudo que eu queria era uma cama para passar a noite. Lá fora, olhei para todos os cantos na procura de um único homem. Meu pai. Claramente a esperança era pouca, mas ainda existia. Ele tinha prometido estar aqui. E certamente quando se tratava do meu pai, era difícil ele prometer alguma coisa. Eu acreditei. Mas ele tem um ótimo histórico de me decepcionar.

Meu celular seguiu os passos do meu pai, me abandonando em frente aquele aeroporto. Sem no mínimo poder chamar um Uber, pelo pior que podia ser. Meu apartamento fica aproximadamente uns 30 minutos daqui, de carro, obviamente. Mas a pé é aproximadamente umas 3 horas, e para piorar minha situação, eu estou de salto. Eu vou matar o meu pai! E mesmo que eu fosse à pé, estou sem a chave dele. Foi meu pai que o comprou na semana passada, certamente a chave esta com ele. Suspirei exausta caminhando em direção a rua. Por Deus, tenha algum táxi por aqui. Já estava me irritando esperar um táxi. Ver aqueles carros passarem me deixava cada vez mais irritada e cansada. Quando finalmente um táxi parou para que eu entrasse, dei glórias a Jesus Cristo.

━━━ Bairro: Sant Gervasi - la Bonanova, rua: Carrer de lá palma de Sant Genis. Por favor. ━━ Meu sutaque Catalanes está mais enferrujado do que ferro velho. O moço que estava no volante me olhou por cima do ombro desentendido. Nem a pau que eu vou repetir. Ele anuou e deu partida. Definitivamente necessito praticar mais minha segunda língua.

O caminho silêncioso me causou calafrios trazendo memórias indesejadas. Coloquei fones via Bluetooth, apenas para abafar o som do carro, o mínimo que desse. Porque musica eu não podia escutar, meu celular estava descarregado. As luzes dos postes iluminava as ruas da cidade, possibilitando a vista de lojas, prédios e pequenos detalhes da cidade. Por mais que estivesse noite, se estiver bem contratada, podemos ver coisas que de não conseguimos. E isso é fascinante, conseguindo me deixar hipnotizada a procura de detalhes mínimos, em tão pouco tempo que consigo enxergar um só ponto específico, por conta do movimento do carro.

Como eu esperava, a tática de procurar detalhes mínimos em poucos segundos, me ajudou a não perceber quanto tempo demoramos para chegar em frente a casa do meu pai. Paguei o homem e desci do carro. O desconhecido me ajudou tirar minha única mala do porta-malas. Tirei meus fones e os guardei no bolso. Respirei fundo antes de ar o primeiro passo em direção a porta da mansão ridiculamente exagerada. Toquei a campainha e esperei alguém atender. Toquei novamente e esperei por alguns segundos. Dei menção de tocá-la novamente quando finalmente alguém atendeu a maldita porta. Era uma mulher de cabelos escuros e de pele clara, quase pálida. Olhos azuis quase cinza, nariz fino, boca de lábios grossos, que estavam levemente pintados de vermelho. Vestida com um pijama de cetim rosa, expondo suas coxas e braços, nos pés uma pantufa rosa no formato de um flamingo. Seu corpo é mais largo e arredondado. Ela colocou a mão direita no quadril e a outra mão na porta. Inclinou a cabeça levemente para o lado direito e me encarou.