Com calma e detalhes, a Rainha relatou o encontro de Enrique com o Lorde de Moolna, no qual ele condicionara a geração do herdeiro à vinda de Sarah para a superfície. Alek sabia que tinha acontecido, mas nunca recebera detalhes. Por respeito à Linhagem, tampouco os pedira. Carl se oferecera para eliminar o companheiro de Sarah e Durina não aceitara, contando que o Palácio se encarregaria. Mas a força do príncipe dos Antigos bloqueara o poder de Durina, deixando a questão nas mãos da Linhagem. A Rainha detivera o Rei, argumentando que Sarah o amava muito e ainda havia esperanças. Agora não consideravam mais esperança como uma, bem, esperança. Sarah compreendera que outro companheiro era a única forma de perpetuar a Linhagem, mas...

– Matar Enrique a destruiria, Alek, e ela não teria filhos, nem mesmo por dever de Linhagem. Se não posso ter um neto, quero ao menos manter minha única filha. A Linhagem vai sobreviver. Ela sempre sobrevive.

– Eu... agradeço a confiança, senhora. Mas não é uma situação... lógica, por tudo que aprendi de Linhagens e Palácios. Durina deveria... manter Sarah em condições até a geração do herdeiro.

– Talvez. Houve vezes em que isso aconteceu. Em outras, falhou.

– A força desse superficiano precisa ser gigantesca, se deteve o Palácio.

– Ela é. Ele teria sido um grande Rei para Durina e um acréscimo inestimável para a Linhagem. O que falta a Enrique é caráter.

– Compreendo. As alternativas se resumem ao superficiano mudar de postura, o que é improvável. A Sarah se desvincular emocionalmente dele, o que também me parece improvável. À bolha de ilusão funcionar e o herdeiro ser gerado enquanto eles estão fora da realidade. Ou ao superficiano sofrer um acidente legítimo, sem interferências externas, liberando Sarah para escolher outro.

– Está correto. Como pode verificar, a ilusão é nossa melhor chance, ou talvez a única.

***

SAMUEL LANG entrou no escritório tentando não pensar, mesmo porque não sabia mais o que pensar. Haviam sido cerca de trinta horas naquela casa, com o pessoal de Carl Janson. Tinha procurado colaborar, e sua ajuda havia sido aceita de forma natural, sem questionamentos. Havia até saído com o próprio doutor Janson para ir até a oficina que sabotara o carro do doutor Mello. Não estava formalmente detido, mas a verdade é que não tentara sair, e assim não descobrira o que aconteceria se tentasse. Ajudar do jeito que pudesse e até quando pudesse era a única maneira de compensar seu erro, embora a vida do doutor Mello fosse um erro sem compensação possível.

Nos últimos trinta minutos, a equipe começara a recolher o material espalhado pela casa, preparando-se para partir. Aquele havia sido um posto provisório determinado pela necessidade de investigações em Morau.

E o senhor Lang fora avisado de que o doutor Carl o aguardava no escritório.

Fechou a porta após entrar com o silêncio e a discrição que eram parte de sua personalidade.

– Pois não, doutor Janson.

Ele estava sentado atrás da escrivaninha com aspecto tranquilo e descansado, mas Lang sabia que o psicólogo não havia dormido nas últimas trinta horas. Pelo que ouvira da equipe, ele não tinha dormido desde o acidente do doutor Mello, três dias atrás.

– Sente-se, Lang. – Ele atendeu. – De acordo com meu pessoal, você parece com receio de não sobreviver ao final de nosso trabalho.

O homenzinho não esperava uma abordagem tão direta e empalideceu. Falar do assunto o tornava muito mais real... e próximo.

– Eu... sei que tenho visto e ouvido demais, doutor. Com uma liberdade que só se torna razoável se, no final dela, eu não puder passar as informações adiante.

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