Coração infectado

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Minha gêmea se esticou no banco e me abraçou, segundos antes do piloto anunciar que iria começar os procedimentos de pouso.

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- Quer que eu faça uma maquiagem rapidinho em você, cantora? - Bruno disse, enquanto me ajudava a colocar as malas para dentro do meu quarto.

Fiz que não com a cabeça, sem pensar duas vezes.

- É só um churrasco entre amigos... - consultei o relógio, apressada: já passava das duas da tarde - vou só tomar um banho, trocar de roupa e ir... Você vai aproveitar seus dois dias de folga aqui em Goiânia, com a sua família, sem se preocupar comigo.

Ele sorriu, visivelmente aliviado, mas perguntou, antes de sair:

- Tá tudo bem mesmo? Wendell não mandou...

- Tudo certo - eu disse, interrompendo-o, enquanto entrava no banheiro.

- Qualquer coisa, me liga - Bruno disse, dando uma piscadela e saindo do quarto.

Suspirei, ligando o chuveiro, tirando a roupa e entrando no box. Não estava tudo bem. Eu ainda estava desorientada, tentando processar o tamanho da decepção amorosa que eu estava sentindo.

Deixei a água quente escorrer pelo meu corpo, enquanto pensava em como lidar com a situação. Era óbvio que Wendell iria me procurar, cedo ou tarde, para tentar se explicar. E eu precisava, primeiro, decidir se queria, de fato, escutar a explicação dele.

Não que eu já não soubesse o que ele iria dizer.

Eu havia pesquisado o nome da suposta namorada do Wendell. Bastou um minuto no Google para que eu descobrisse que Luísa Lima era filha de um dos empresários do agronegócio mais ricos de Goiânia. Encontrei, com facilidade, o perfil dela no Instagram, que, para a alegria dos fofoqueiros, era aberto.

Luísa era alta, magérrima, com longos cabelos loiros e olhos azuis. Quando vi as fotos no feed, admito que fiquei surpresa. Não que ela não fosse bonita, muito pelo contrário. Mas era a típica mulher de quase trinta anos que viaja, faz compras, posta foto fazendo pose em restaurantes caros e em carros de luxo, usufruindo de tudo que o dinheiro podia comprar.

Ela, de fato, não fazia o tipo do Wendell. Pelo menos não do Wendell que eu pensava conhecer.

"Talvez seja isso" - pensei, tirando o shampoo dos cabelos - "ele não é mais quem eu conheci".

Porém, nos últimos dias com ele, eu havia tido exatamente a impressão contrária: para mim, o Wendell de 2017 ainda estava ali. Simples, prático, direto, misterioso, sexy.

Respirei fundo e desliguei o chuveiro, me enrolando na toalha e secando o cabelo, com pressa. Em seguida, fui até o closet e vesti o que a Maiara costumava chamar de "combo Maraisa": uma blusa branca, um shorts jeans, um tênis branco e meu boné laranja favorito na cabeça.

- Tá pronta? - escutei a voz da minha irmã vindo de trás de mim. Me virei e vi que ela estava encostada no batente da porta, me encarando, os longos cabelos ruivos amarrados em um rabo de cavalo alto e o corpo emoldurado por um vestido floral - você não tem outra roupa não? - ela completou, rindo.

Dei de ombros, revirando os olhos.

- É um churrasco, não uma festa. E, ao contrário de você, não estou indo lá encontrar meu crush - dei um sorrisinho, passando por ela e pegando meu celular em cima da cama.

Escutei Maiara bufar.

- Gustavo não é meu crush! - ela saiu atrás de mim, batendo os braços, como uma criança birrenta, enquanto descíamos as escadas em direção à sala.

Encontro com o passado - MADELLWhere stories live. Discover now