Oi sumido

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Acordei irrequieta, me remexendo na cama. No momento que abri um dos olhos, vi que o sol já estava entrando pela fresta da cortina parcialmente fechada. Depois de uma longa espreguiçada, levantei e caminhei até o closet, procurando alguma roupa para vestir.

Encarei meu reflexo no espelho de corpo todo em uma das portas do armário, usando só a lingerie. Apesar dos meus seios, pernas e bunda chamarem atenção, tinha algo ali que saltava nos meus olhos.

Uma marca que entregava a idiotice que eu havia feito duas noites atrás.

Ali, entre meu seio direito e o pescoço, uma marca roxa enorme repousava.

Passei a mão em cima do machucado, sem conseguir esconder um sorriso travesso. Apesar daquela marca significar a maior recaída da minha vida, eu não podia negar que a noite com ele havia sido maravilhosa.

Terminei de me vestir, sem conseguir mais tirar o sorriso do rosto. Peguei um pouco de base dentro da gaveta do banheiro e passei por cima da mancha, tentando disfarçar um pouco o roxo. Não que eu devesse satisfação de algo para alguém, mas não queria deixar exposta aquela marca. Talvez eu quisesse escondê-la até de mim mesma, para não ter que lidar com as consequências que poderiam vir.

Desci até o andar de baixo, meus pés descalços tocando o piso frio, sentindo o cheio de café vindo da cozinha.

- Achei que você já tinha ido - falei, encostada no batente da porta. O homem forte e alto que estava na cozinha, de imediato, virou e sorriu para mim.

Não era novidade que eu e Henrique transávamos esporadicamente. Não era nada sério, por motivos óbvios, mas nós tínhamos uma química fora do normal.

Eu não era o tipo de mulher que saía com homem comprometido. Mas o lance com o Henrique era algo que fugia totalmente do nosso controle. Ele era meu melhor amigo há anos, a pessoa que eu sempre recorria quando algo acontecia.

Eu também não era o tipo de mulher que tinha recaída com ex... Mesmo assim, duas noites atrás, eu estava na cama com quem não devia.

"É para você morder a língua, Maraisa" - pensei, suspirando.

- Resolvi fazer um café - Henrique disse, se justificando - já que a Maiara está fora e a Amanda foi viajar, pensei até em fazer um almoço pra gente hoje...

Me encostei na bancada, pegando a xícara de café que ele me oferecia. Maiara sabia dos meus casos esporádicos com o Henrique, mas, apesar de evitar verbalizar qualquer coisa sobre o assunto, eu tinha certeza que ela achava aquilo completamente errado.

E era. Henrique já era casado com a Amanda há quase três anos. Quando ele havia casado, decidimos parar de passar as noites na cama um do outro. Mas, há mais de um mês, eles passavam por uma fase complicada. E era na minha cama que Henrique vinha procurar consolo.

Ele se aproximou de mim pelas costas, mordendo minha nuca.

- Você está séria hoje. Desde ontem, na verdade. Aconteceu alguma coisa?

Fiz que não com a cabeça.

- Só cansada. A semana foi cheia... - respondi, bebendo um gole do café quente, mas sem convencê-lo.

Ele sorriu, se encostando no balcão do meu lado.

- Eu conheço você, Maraisa. Há anos. Quando você me ligou ontem de noite, me chamando para vir aqui, eu já sabia que tinha algo errado só pelo seu tom de voz.

Dei um suspiro longo, em sinal de derrota. Tirando a Maiara, Henrique era a pessoa no mundo que mais conseguia ler meus comportamentos. E eu sabia que não era fácil conseguir me interpretar.

Encontro com o passado - MADELLOnde as histórias ganham vida. Descobre agora