ferida aberta.

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Hoje era um jogo importante pro Palmeiras pois estávamos tentando e querendo muito ficar entre os primeiros do Campeonato Brasileiro, meu tão amado Brasileirão, antes do segundo turno que é no mês que vem. Nós estávamos confiantes pra iniciar a rodada com vitória em cima de um rival direto paulista. Jogar contra o Corinthians é sempre uma decisão não importa em qual circunstância seja, Melissa veio comigo e está na arquibancada na fila que antecede a lateral esqueda do campo.

Faz alguns meses desde que ela apareceu pra mim e eu não contei isso a ninguém, estava no túnel que antecedia o campo pronto pra entrar pro jogo e pude vê-la sorrindo pra mim com um aceno gracioso e usando a minha camisa. Sorri como um besta e quase parei de andar mas fui levemente empurrado por Scarpa que estava atrás de mim e voltei a focar na entrada ao campo, ela me deixava assim todo desconcentrado.

Eu sei que isso é uma loucura das grandes mas eu não posso fingir que não tem me feito bem tê-la de novo, eu não me sinto mais sozinho em casa pois conversamos o tempo todo e as vezes eu até a beijo... é estranho pelo fato de que ela não é real mas ao mesmo tempo é também. Mas ter sua companhia, tê-la deitada em meus braços pra dormir, acordar ao lado dela compensa qualquer falta de beijo ou toque mais íntimo.

O jogo começou pegado e o Corinthians estava com licença para bater, levei uma solada no pé logo no começo do jogo e fiquei alguns minutos no chão mas me levantei melhor. O primeiro tempo foi bem disputado mas a nossa bola parecia não querer entrar de jeito nenhum e isso nos levou completamente frustrados pro vestiário no intervalo.

— Cara, não é possível... eu acertei duas bolas na trave. — comentei com Piquerez.

— Acerta na próxima, pelo amor de deus. — ele disse rindo e me fazendo rir também.

— Rapha, o que tanto olha a arquibancada? — Scarpa perguntou.

— Nada, é só a festa da mancha verde. — sorri amarelo.

Voltamos pro segundo tempo e Melissa cantava e pulava na arquibancada, eu me divertia ora ou outra vendo ela completamente animada. Voltamos com sangue nos olhos e aos 15 minutos Gabriel Menino cravou o primeiro gol levando a torcida a loucura, alguns minutos depois sofri uma falta dura e quando fui reclamar o jogador do Corinthians tentou me peitar em campo e ele já havia feito algumas faltas duras em mim sem ter levado nada mais do que uma simples advertência, dessa vez eu cansei.

— Qual é? — encarei-o.

— Eu não encostei em você. — ele disse já me empurrando e eu o empurrei de volta.

Estava começando uma confusão.

— Vê se para de chorar e joga futebol. — ele disse.

— Como é que é? — eu perguntei, Scarpa e Rony tentavam me tirar da briga.

— Vai jogar que nem homem ou ainda tá chorando a morte da mulherzinha? — perguntou com uma risada.

Eu quis voar em cima dele mas ninguém deixou, senti a raiva me tomar todo o corpo e eu fiquei cego de ódio. Acertei pelo menos uma solada em sua canela e isso me custou um cartão amarelo que também foi dado a ele. Ninguém falava de Melissa, ele não tinha esse direito.

— Amor, olha pra mim, eu estou bem aqui. — ouvi sua voz em meu ouvido e olhei pra arquibancada.

E ela estava lá.
Pelo menos só para os meus olhos.

A falta foi cobrada e a bola que bateu na barreira voltou nos meus pés me dando a oportunidade de chutar forte no canto contrário do goleiro marcando um gol. Corri pro lado contrário de onde eu estava e passando pelo jogador que ousou me provocar só pra xinga-lo antes de ir até a lateral da arquibancada e fazer um coração na direção da minha mulher, ela sorriu e eu pude ler em seus lábios um eu te amo.

A última música • Raphael VeigaWhere stories live. Discover now