pós trauma.

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A cabeça de Raphael rodava tanto quanto a sirene da ambulância a caminho do Hospital, Melissa estava desacordada porém ainda respirando e essa era a única coisa que mantinha a esperança em Rapha. No carro atrás da ambulância havia os pais de ambos e o carro de Scarpa também estava na cola com Sarah desolada no banco da frente. Era tudo muito chocante pra todo mundo o que havia acontecido naquela festa de aniversário que era pra ser o dia mais feliz da vida de Melissa, assim que adentrou o Hospital com urgência ela foi imediatamente atendida mas o que ninguém sabia era que ela já estava morta. Fazia alguns segundos que ela não tinha mais vida.

Na sala de espera Raphael andava de um lado pro outro transtornado enquanto a mãe de Melissa chorava abraçada ao marido, existia uma pontinha de esperança de todos eles que aquilo fosse uma coisa passageira e que logo surgiria um médico pra dizer que estava tudo bem com ela e que o susto já havia passado.

Mas aí Dr. Tadeu apareceu.

Ninguém o conhecia, mas ele conhecia todos.

– Raphael Veiga? – ele disse fazendo o jogador levantar a cabeça.

– Sou eu. – ele respondeu confuso.

– Me acompanhe por favor. – ele pediu.

Todos se entreolharam sem entender o que estava acontecendo mas Raphael seguiu o doutor até uma sala vazia, se ele achava que receberia uma boa notícia teria a maior decepção de sua vida porque o que o Dr. Tadeu tinha pra dizer faria o jogador sofrer a pior dor da sua vida. Assim que sentaram à mesa o oncologista abriu uma pasta com vários exames de Melissa, incluindo tomografias e laudos que particularmente Raphael sequer entendia.

– Olha doutor, eu não sei o que está acontecendo e sou leigo nesse tipo de coisa. – Raphael foi sincero.

– Eu conheci a sua esposa a alguns meses atrás quando descobri que ela tinha uma doença, foram longas semanas de exames pra descobrir de fato o que ela tinha até chegarmos num linfoma de Hodgkin. – ele disse.

Linfoma? – perguntou sem entender.

– Raphael, a sua mulher tem câncer. Os sintomas são silenciosos por um tempo então quando ela começou a sentir de fato alguma coisa, o câncer já havia se espalhado pelo seu organismo. – ele disse.

Dr. Tadeu procurava as melhores palavras pra chegar na parte em que quebraria o coração de Raphael em mil pedaços. Mas não haviam palavras que confortariam Raphael depois do diagnóstico de tempo.

E ela só tinha seis meses de vida. – ele disse.

Não se explicaria em palavras o que ele sentiu naquele momento, a boca de Raphael tremia e os olhos se encheram de lágrimas e sua voz parecia ter sumido.

– Ela não queria que você soubesse pra não estragar a sua vida, isso são palavras dela. Eu até aconselhei ela a contar a você pra ter apoio pra passar pela doença. Mas ela preferiu ficar em silêncio e eu não poderia interferir. – ele disse e Raphael levantou da cadeira.

– O senhor está dizendo que a minha mulher tem um câncer terminal? – perguntou, seus olhos assustados passeavam pela sala completamente perdidos.

– E ela recentemente tinha descoberto que estava grávida, pouco menos de um mês de gravidez. – ele disse, pra piorar.

Meu Deus... – as palavras tinham a mais forte entonação de dor.

– Eu sinto muito, Raphael. – Dr. Tadeu disse.

– Eu quero vê-la. – ele disse abrindo a porta da sala com verocidade.

Andava pelos corredores completamente alucinado até voltar a sala de espera onde se deparou com a sua sogra no chão se desmanchando em lágrimas e Sarah sendo amparada por Scarpa, havia um médico no local e Raphael olhou pra ele com o olhar mais triste já visto no mundo. No fundo seu coração estava lhe avisando que havia algo muito errado.

– Cadê a Melissa? – perguntou.

– Eu sinto muito, sua esposa veio a falecer. – ele disse.

Raphael sentiu suas pernas perderem as forças e cambaleou para trás mas foi amparado por Dr. Tadeu que estava atrás dele, se tivessem lhe dado um soco no estômago teria doído muito menos do que saber que o amor da sua vida não tinha mais chances. Seu pai lhe abraçou e pela primeira vez Raphael fez o que estava entalado em sua garganta e gritou como se suas cordas vocais fossem estourar, sua garganta ardia e seu rosto estava vermelho.

– Eu quero ver ela, pelo amor de Deus! – ele suplicava

A dor de saber que ela estava morta só não foi mais forte do que vê-la sem vida, o corpo estava frio e ainda assim ela estava linda. O choro de Raphael foi ensurdecedor e incontrolável diante o corpo da única mulher que teve seu coração de verdade, da única que ele amou mais do que qualquer coisa no mundo. Quando ele foi retirado da sala estava exausto e atordoado, sequer ouvia o que falavam ao seu redor e Scarpa foi quem o tirou do chão.

– Eu fico pra resolver as coisas, é melhor vocês levarem a Márcia pra casa. – o pai de Raphael se referia a sogra do filho.

– Nós levamos. – sua mulher respondeu concordando, era outra que não parava de chorar.

– O Rapha também precisa ir pra casa. – seu irmão Gabriel disse.

– Eu e a Sarah ficamos com ele. — Scarpa se pronunciou.

Raphael não fazia um movimento sequer sozinho e parecia estar completamente absorto, Scarpa e Sarah levaram ele pro seu apartamento e ele apenas andava com as próprias pernas mas não falava e nem tinha expressão.

Era como se estivesse vazio. E estava.

Scarpa ajudou seu amigo a tomar um banho e o colocou na cama, ele mal falava e quando tentava começava a chorar novamente. Era doído demais vê-lo daquela forma, ninguém nunca havia visto Raphael assim.

– Você precisa descansar, amigo. – Scarpa disse colocando um copo d'água e um remédio pra dormir nas mãos dele.

E ele negou com a cabeça.

– Só um pouco, Rapha. É pra você descansar. – Sarah disse calmamente e ele a encarou.

– Não me deixem sozinho, por favor. – ele pediu como uma criança. Era a primeira vez que ele falava algo desde o Hospital.

– Nós vamos ficar aqui parça, no quarto ao lado e se você precisar de qualquer coisa é só chamar. – Scarpa disse e ele assentiu.

Sarah entrou no quarto de hóspedes e deixou suas fraquezas surgirem diante os olhos de seu marido, ela carregava consigo a bolsa de Melissa e só de ver o objeto que lhe remetia a sua amiga e ela desabava novamente. Ela começou a desabafar com Scarpa sobre como ela descobriu o que aconteceu com Melissa e assim como Raphael ela também precisou de um remédio pra dormir.

Na manhã seguinte Raphael abriu os olhos e sentiu o cheiro de Melissa na cama, ficou um tempo deitado olhando a foto com ela na mesinha de cabeceira e parecia que a ficha jamais cairía. Sua cabeça não conseguia processar que horas atrás ele estava dançando com ela e agora ele não a tem mais. Ele se colocou sentado na cama e percebeu que havia uma mala na frente da sua cama e Sarah estava parada na porta do quarto, ele a encarou e voltou a encarar a mala.

– Ela queria que eu te entregasse essa mala. – ela disse.

– O que tem aqui? – perguntou.

– Coisas deixadas pra você nunca se esquecer dela. – ela disse e ele pegou a mala. Sarah fechou a porta para deixá-lo sozinho.

Esse momento era dele.

Colocou-a em cima da cama e a abriu, a primeira coisa que ele viu foi um diário com uma foto dos dois colada na capa. As outras coisas se tornaram segundo plano quando ele viu as letras de Melissa no papel e passou os dedos por elas... aquilo era pra ele e ele teria que ter coragem pra começar a primeira folha.

"Para o amor da minha vida..."

A última música • Raphael VeigaOnde histórias criam vida. Descubra agora