loucura.

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O enterro de Melissa foi a coisa mais triste do mundo e Raphael mal se aguentava em pé, por vezes Scarpa e seu irmão Gabriel seguravam seu corpo que parecia que desabaria a qualquer momento no chão. Os pais de Melissa também estavam na mesma situação vendo o caixão cheio de flores descer em sua cova, era cruel demais assistir toda aquela cena. O jogador não conseguia parar de chorar e balançar a cabeça em negação, aquilo era demais pra ele.

A morte nunca é algo aceitável em qualquer circustância mas aquela em específico era demais, a sensação de nunca mais ver uma pessoa que está indo para debaixo da terra sem nenhuma possibilidade de surgir novamente é desesperador. Quando Raphael saiu daquele cemitério ele estava abraçado a sua sogra que ainda chorava, o choro dele havia cessado sobressaindo a sensação de vazio que não o largaria nunca mais. Depois de deixá-los em casa e esperar as coisas acalmarem levemente, os pais de Raphael decidiram acompanhá-lo.

Eles foram pro apartamento de Raphael mesmo contra a vontade dele, ele não queria que vissem o estrago que seu coração partido fez mas ao abrirem a porta tudo estava no lugar, limpo e sem vestígios de que tudo tinha sido quebrado na noite anterior. O jogador olhou para Scarpa sem entender o que havia acontecido e o amigo apenas lhe deu um tapinha nas costas como quem diz: está tudo bem.

Sarah e Scarpa se encarregaram de que quando voltassem do enterro tudo estivesse limpo, não queriam que Raphael lembrasse do que aconteceu. Foi um sacrifício tirá-lo do apartamento pela manhã e eles sabiam que o amigo precisava disso, de um pouco de paz quando voltasse.

– Filho, você pode ficar lá em casa com a gente. Não queríamos te deixar sozinho aqui. – Márcia disse.

– Tá tudo bem mãe, eu preciso ficar aqui. É a minha casa. – ele disse afagando o cabelo dela e ela assentiu.

– A gente vai estar sempre de olho nele, tia. – Scarpa disse.

– Obrigada por tudo que vocês estão fazendo pelo meu filho, eu não tenho nem palavras. – ela disse sendo abraçada pelo jogador e logo em seguida por Sarah.

– Filho, você recebeu algumas mensagens da Leila, sei que não é hora pra falar disso mas você tem reapresentação. – Rubens começou a dizer.

– É na segunda? – Raphael perguntou.

– Você volta na sexta. – ele disse aliviando Raphael.

– Bom, nós já vamos tá? Se precisar de qualquer coisa liga pra gente. – seu pai lhe abraçou forte.

– Obrigada pai, eu só preciso descansar. Não dormi nada noite passada. – ele disse sendo abraçado pela sua mãe em seguida.

– Se cuida filho, estamos com você. – ela beijou a testa dele.

– Rapha, nós também estamos com você viu? Qualquer problema não hesite em ligar pra nós, a gente vem a qualquer momento. – Sarah disse abraçando ele.

– Obrigada, de verdade. Vocês são minha família pô, nunca vou esquecer o que estão fazendo por mim e por ela. – ele respondeu beijando a bochecha dela.

– Parça, se cuida viu? Come alguma coisa e tenta descansar... depois nós conversamos viu? Tô contigo sempre. – Scarpa o abraçou afagando suas costas.

– Você é meu melhor amigo. – Raphael disse.

– E eu vou ser pra sempre. – ele disse antes de ir.

Rapha havia esquecido até mesmo de seus compromissos profissionais e ficou mais aliviado por ter mais uns dias sozinho, depois que todos foram embora ele preparou algo pra comer e voltou ao quarto puxando a mala e abrindo-a em cima da cama. Quando a gente sabe que uma pessoa vai morrer a gente prepara o psicológico pra entender que não há o que se fazer e se a pessoa estiver sofrendo é mais humano aceitar que ela precisa descansar, mas quando alguém morre de repente você não está com o psicológico pronto e o choque pode desequilibrar a sua mente.

Raphael abriu o diário para entender mais uma página.

"Oi meu amor, hoje eu não acordei passando muito bem... o médico me receitou um remédio pra quando eu estiver enjoada e eu acabei de tomar pra que nada atrapalhe o nosso diq. Hoje é o nosso casamento e eu quero que tudo esteja perfeito porque sonhamos com isso a nove anos.

Daqui a pouco eu começo a me arrumar pra ir até a igreja e eu confesso que estou ansiosa, me sinto como quando nos conhecemos em que o frio na barriga tomava conta de mim toda vez que eu sabia que iria te ver. É claro que eu estou me segurando pra não chorar só de imaginar que essa vai ser a primeira e última vez que vou me casar com você, Rapha, eu me casaria com você todos os dias da minha vida se pudesse.

Eu queria poder dizer que não estou com medo mas estou, não sei o que fazer na maioria das vezes em que penso no fim e minha vontade é só de deitar no seu colo e chorar. Mas eu sei que nunca fui de desistir das coisas e arregar pros problemas, nós já enfrentamos tantos né? Acho que consigo sim passar por esse caminhando devagar e ao seu lado mesmo que você não saiba.

Eu já volto.

Rapha eu estou pronta! Larguei o diário por uma hora e aqui estou eu só esperando o meu pai me buscar, eu me olho no espelho e nem acredito que sou eu nesse vestido lindo de noiva a poucos minutos de você e eu acho que você vai ter um troço quando me vir. Eu mal posso esperar pra entrar na igreja e me casar com você...

Hoje é o dia mais lindo da minha vida e eu estou usando o terço que você me deu, sei que a proteção divina cercará nosso casamento e seremos tão felizes enquanto pudermos.

Tenho que ir, seu sogro chegou e nós precisamos descer... nos vemos na igreja futuro marido. Eu te amo muito, além dessa vida."

Raphael sentiu o peso das últimas palavras daquela página e sua memória começou a resgatar o dia do seu casamento, memórias de Melissa entrando na igreja toda de branco o deixando paralisado no altar o fizeram sorrir pela primeira vez nesses últimos dois dias.

Ele lembra que chorou no exato momento que a marcha cerimonial começou a tocar e ele viu Melissa entrar, com os olhos brilhando tanto quanto o sorriso e os olhos azuis dela olhando diretamente pra ele. Foi um dia tão especial e que ele nunca esqueceria, o dia em que ele se tornou o marido que ele sempre foi pra Melissa e que só se oficializou com a cerimônia.

Ele sempre soube que era o marido dela.

A saudade apertou forte o peito e ele pegou o celular discando o número da amada, era loucura mas ele só queria sentir que poderia falar com ela outra vez. Na hora da confusão o celular dela se perdeu pelo caminho e ninguém o encontrou

Alô? – a voz dela preencheu seu ouvido.

Por um milésimo de segundo Raphael se permitiu ir à loucura.

– Amor? – sua voz saiu chorosa.

– Você ligou pra Melissa mas eu não posso atender no momento, deixe seu recado e eu retorno assim que puder. – a frase completou o fazendo fechar os olhos e suspirar pesado.

– Eu só queria dizer que eu estou com saudades de você e que nada aqui vai ser a mesma coisa sem você, eu... eu só preciso sentir que de alguma forma eu posso falar com você. Eu te amo tanto. – ele sussurrou antes de tirar o aparelho da orelha.

Raphael retirou as coisas da cama e deitou abraçando o travesseiro de Melissa, o cheiro do perfume dela ainda estava ali e olhando a lua pela janela o jogador adormeceu.

Assim.

Com o coração machucado.

E absolutamente sozinho.

A última música • Raphael VeigaWhere stories live. Discover now