um sonho que morre

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Faz quase duas semanas que estamos em Maresias e nesse período eu estou intercalando entre me sentir bem e me sentir mal, tenho me esforçado em parecer estar me sentindo bem para que ninguém perceba nada. Algumas pessoas já foram embora por compromissos pessoais e a casa ficou um pouco mais silenciosa, acordei cedo porque iríamos à praia e Rapha estava no banho enquanto eu terminava de me arrumar.

Sou sempre eu quem tomo banho primeiro desde sempre e Rapha nunca mudou esse costume, acho até engraçado. Coloquei um boné dele e desci pra tomar café encontrando meus pais conversando, sentei ao lado deles e hoje eu estava com uma fome daquelas. Faz alguns dias que estou me sentindo meio esquisita, não sei exatamente o que é e se é por conta da doença.

— Quem vê você comendo assim acha até que está grávida. — minha mãe disse rindo.

Meu sistema travou.

— O que foi filha? — perguntou vendo minha cara de espanto.

— Eu acabei de lembrar que meu protetor solar acabou, eu vou comprar na farmácia aqui perto. — eu disse.

— A gente compra quando estiver indo pra praia. — ela disse e eu levantei com uma fatia de pão na boca.

— Não se preocupe, eu volto já. — eu disse pegando minha bolsa no sofá.

Fui até a farmácia que ficava pertinho de casa e aquela frase da minha mãe estava ecoando na minha cabeça, eu sei que era impossível uma gravidez já que meu corpo não teria condições de gerar uma criança e eu também não teria tempo pra isso.

Mas eu sentia uma pontinha de esperança de que houvesse um milagre, comprei um teste e fiz no banheiro mesmo completamente trêmula e desesperada, confesso que não parava de andar de um lado para o outro daquele banheiro contando os minutos pela tela do celular.

Positivo... — sussurrei ao pegar.

— Meu Deus... positivo. — eu disse apavorada.

Não sei como eu consegui ligar pro meu médico naquele instante pra contar o que houve e também não sei como ele me entendeu se eu gaguejava tanto, ele me pediu pra ir ao consultório dele assim que voltasse das férias porque uma gravidez no meu estado era um perigo. Saí daquele banheiro secando as lágrimas e caminhei de volta pra casa com aquele teste na bolsa, subi direto pro quarto pelos fundos e escondi a bolsa antes de voltar a sala onde Raphael estava conversando com os meus pais.

— Comprou? — ele perguntou.

— O que? — perguntei sem entender.

— O protetor solar que você falou. — minha mãe disse.

— Ah, é, não tinha. — eu disse lembrando do que eu havia dito.

Nós fomos a praia logo depois e eu estava deitada na areia na sombra observando os meninos jogando altinha, aquele teste não saía da minha cabeça então comecei a pesquisar sobre uma gravidez na minha condição e a maioria das respostas eram negativas. Se eu já estivesse grávida e só descobrisse a doença depois, talvez eu pudesse começar o tratamento depois... mas eu já era um estado terminal e não dava mais tempo de tentar outras opções.

Aquilo me entristeceu profundamente porque quando eu pensei na possibilidade da gravidez por um milésimo de segundo pensei que merecia essa alegria, Rapha merecia, mas infelizmente tenho que me contentar com as felicidades possíveis porque estou perto do fim. Fiquei tanto tempo lendo que só saí do meu transe quando Rapha agachou na minha frente me convidando pro mar, nós ficamos nadando um pouco e jogamos altinha juntos apesar da minha total falta de habilidade.

Fomos pra casa no fim da tarde e Rapha recebeu uma ligação do Palmeiras, ele teria que voltar para São Paulo amanhã pela manhã para que ele pudesse resolver o que lhe pediram.

A última música • Raphael VeigaOnde histórias criam vida. Descubra agora