A última música • Raphael Veiga

um último beijo

Faz um tempinho que cheguei em casa, viagem longa e cansativa com o Palmeiras e estava tomando um banho pra jantar porque hoje a preguiça foi maior e eu pedi comida. Ouvi a campainha tocar e assim que abri dei de cara com Lavínia, ela carregava Joaquim no colo que já me reconhecia e gargalhava pra mim.

- Oi vizinho. - ela disse enquanto o pequeno brincava com a minha mão.

- Oi, aconteceu algo? - perguntei sorrindo pra ele.

- Queria te pedir um favor, juro que em breve não vou te incomodar mais. - ela disse me encarando.

- Pode pedir. - eu disse.

- Preciso ir na farmácia aqui embaixo e como o tempo tá frio eu não queria levar ele, tenho que comprar umas coisas dele que acabaram e queria saber se pode tomar conta dele rapidinho? - perguntou.

Confesso que estremeci.

- Claro, posso sim. - sorri amarelo.

Não seria dificil cuidar de um bebê quietinho por alguns minutos né?

Ela me entregou Joaquim com uma bolsinha e chamou o elevador, coloquei o pequeno no tapetinho que costumo fazer exercícios em casa e não sabia exatamente o que fazer então peguei uma bola e lhe dei.

- Você gosta? - perguntei ao vê-lo brincando e sorrindo.

Fiquei observando ele e imaginando como seria ter um filho assim com Melissa, poder brincar com ele, ter esses momentos depois de chegar do trabalho e ter esse sentimento de que a melhor coisa do mundo é ser pai. Despertei dos meus devaneios quando a campainha tocou e era o porteiro com a minha entrega, coloquei meu jantar na cozinha e Joaquim começou a chorar.

- O que foi? - perguntei o pegando no colo.

- Você tá com fome né amigão? Vem, vamos fazer o que fazemos de melhor. - eu disse o levando pra cozinha.

Na bolsa dele haviam algumas frutas e suco, peguei as frutinhas e baseado num video da internet eu raspei tudo transformando em papinha e coloquei ele no tapete da sala com o potinho e a mamadeira com suco. Peguei meu jantar e liguei a TV colocando um desenho infantil pra ele que comia e gargalhava do meu lado, foi meu momento mais em paz desde tudo.

Lavínia estava demorando então eu peguei Joaquim e lhe dei um banho no chuveiro mesmo, ele estava completamente sujo de frutas. Nós nos divertimos muito durante o banho e depois eu troquei sua fralda e coloquei uma roupa nova e confesso que me senti muito orgulhoso pela forma que cuidei dele, ele estava no meu colo enquanto olhávamos a rua pela janela quando sua cabeça repousou no meu ombro e ele adormeceu.

Tremi por dentro mas não deixei transparecer vendo o pequeno amolecer no meu braço totalmente exausto, o deitei na minha cama e enchi de travesseiros o protegendo o máximo que pude e fiquei observando ele sentado ao seu lado. Os fios de cabelo loirinho, as bochechas gordinhas e rosadas, a pele cor de papel e a chupeta redonda que o deixava muito fofo.

É complicado viver coisas que não são minhas, situações que também não são e não parar de pensar um segundo em como seria estar assim. A campainha tocou e eu fui correndo abrir encontrando Lavínia, ela estava cheia de sacolas e eu a ajudei.

- Ele te deu muito trabalho? - ela perguntou olhando ao redor.

- Imagina. Vem ver. - a puxei até meu quarto.

- Meu Deus, como você fez ele dormir a essa hora? - perguntou escorada na porta.

- Ele é tranquilo, nós nos divertimos muito no jantar e no banho. - eu disse fazendo ela sorrir.

- Obrigada Rapha, de verdade, eu demorei porque precisei ir em uma farmácia mais distante. - ela disse.

- Tá tudo bem, eu adorei passar um tempo com ele. - eu disse sorrindo.