Caminhos Quebrados

Capítulo 67

— Me leve para a casa de Matteo Bianchi. — pedi calma.

Teríamos que agir o mais depressa possível, antes que o pior aconteça. Matteo havia comprado uma residência pelos arredores logo após descobrir que seria pai. Ele viajava poucas vezes para resolver os problemas da família, mas passava boa parte do tempo aqui, principalmente agora na reta final da gestação.

Assim que o carro parou, desci rapidamente e entrei com as chaves reserva. Matteo estava na cozinha, preparando alguma coisa e levou o maior susto quando me viu.

— Você quer me matar antes do nosso filho nascer? — respirou fundo.

— Desculpe, não tenho tempo para cordialidade. — forcei um sorriso e me aproximei dele, assim ficaria melhor para conversarmos.

— Aconteceu alguma coisa? Sabe que não pode ficar andando de um lado para o outro, não é? Ordens médicas!

Revirei os olhos. Matteo se preocupava demais, sempre estava me rondando para ver o que eu estava fazendo. Peguei até livros de maternidade dentro do carro dele.

— Emily Wilson está desaparecida.

— Emily? A melhor amiga da Olívia?

— Sim. Eu tenho quase certeza de que os homens de Rafael a pegaram. — suspirei. — As boates reabriram, novas garotas estão chegando... Olívia me falou que ela estava conversando com um fake antes do sumiço, creio que se trata de Rafael.

— Aquela Emily Wilson? Nunca que ela cairia em um golpe desses, Monique. — cruzou os braços.

— Aparentemente ela não estava bem, então deve ter caído em qualquer papo sem graça desse fake. Estou pensando em pedir favores para o Sr. Montês, aquele que nos ajudou com informações sobre Rafael. Olívia devolveu a jóia que ele pediu, o homem está grato pelo resto da vida.

— Não! Não! E não! — soltou tudo o que estava fazendo e veio até a mim. — Luigi está prestes a nascer, Monique! Pense no nosso filho, por favor.

— Já que você não ter mete-lo nesse assunto, então me acompanhe até Menaggio. — esbocei um sorriso.

— O que quer fazer nesse lugar, Monique? O que está aprontando? — me olhou desconfiado.

— A esposa do juíz Xavier mora nesse lugar, Matteo. Ela pode nos ajudar com provas sobre esse carrasco, assim mataremos dois coelhos em uma cajadada só. — expliquei como se fosse óbvio.

— Ok, você fica em casa, na segurança do seu lar e eu vou até a casa dessa senhora. Tenho ótimos métodos para ela falar. — mostrou a arma em sua cintura e eu revirei os olhos.

— E vai assustá-la pro resto da vida, idiota. Nós vamos até lá, tentarei trazê-la para o nosso lado. Temos pouquíssimo tempo, você sabe muito bem como são os clientes que frequentam as boates.

Mesmo não gostando da ideia, Matteo aceitou prontamente. Ele sabia que caso não fosse, eu acabaria indo sozinha e resolvendo toda a situação como sempre fiz. Dispensei meu motorista e fomos no carro de Matteo, durante o percurso, ele ficou quieto, observando as ruas e o movimento delas. No fundo, Matteo tinha medo por nós, aquela vida era perigosa e qualquer passo em falso era fatal.

Antes, quando éramos sozinhos pelo mundo, não tínhamos medo de nada, fazíamos coisas absurdas sem medo do retorno, mas agora, uma criança inocente estava prestes a vir ao mundo.

Nós pedimos essa vida, a criança não. De qualquer forma, eu não pretendia continuar na cidade. Minha única vontade é de recuperar os bens de minha família e devolvê-los para Olívia. Assim que eu conseguir, farei questão de desaparecer com o meu filho e cria-lo longe de todos os problemas que meu sobrenome me causava.

Menaggio era uma comuna italiana, não era muito grande, tinha cerca de três mil habitantes. O juíz realmente faz questão de esconde-la e isso era um ato cruel aos meus olhos. O lugar era bonito, localizava-se a beira do Lago de Como, perto da divisa com a suíça.

Eu já estive aqui algumas vezes, minha mãe adorava ir à Igreja Santo Estêvão. Pedi que Matteo parasse nela, fiz questão de rezar brevemente, para que meu parto seja bom e que meu filho nascesse com saúde. Depois das preces, voltamos ao nosso percurso e logo chegamos na residência do endereço indicado. Era uma casa simples, mas aparentemente confortável.

— Acha que vai conseguir alguma coisa dessa mulher? — Matteo questionou a olhar a casa.

— Tenho que tentar. — abri a porta do carro. — Fique aqui, qualquer coisa eu chamo.

— Monique...

Não dei ouvidos, continuei andando até a porta. Toquei a campainha e alguns minutos depois uma mulher me atendeu. Ela era bonita, mas estava desarrumada, com um semblante triste que me partiu o peito — malditos hormônios.

— Posso ajudá-la?

— Rosa Gonzalez? — perguntei e ela assentiu. — Temos muito a conversar.

— Eu a conheço?

— Sou Monique, muitíssimo prazer.

— Prazer...

— Tenho um assunto sobre o seu marido, o juiz Xavier.

Ela estremeceu ao escutar o nome do homem, senti medo de sua parte.

— Não tenho nada a falar... — tentou fechar a porta, mas a impedi.

— Rosa, eu quero ajudar você, sei o que passa nas mãos dele... Por favor, me escute! Irei explicar tudo.

Ela pensou por alguns minutos e logo a porta abriu novamente. Entrei na casa a pedido dela e olhei cada detalhe, tudo era limpo e organizado.

— Como conhece o meu marido? — perguntou aflita.

— Ele julgou o meu caso... Mas tenho a sensação de que foi comprado. — cruzei os braços. — Rosa, seu marido não presta! Ele reabriu a boate de prostituição.

— A boate? — disse incrédula. — M-mas ele me garantiu que não iria mais abri-la e...

— Ele mentiu. — afirmei, encarando seus belos olhos azuis. — Ele me prejudicou, Rosa. E sei que foi comprado... Estou aqui, porque sei que você se importa... Preste atenção, se o juíz Xavier continuar fazendo o que está fazendo ele morrerá, não pelas minhas mãos, mas de outras pessoas. Precisamos retirá-lo do cargo de juiz, sei que ele tem podres, porém precisamos de provas.

— E o que me garante que não é uma armação sua? — me olhou acusadora.

— Pelo simples fato de que vou ser mãe muito em breve. Meu filho é o meu maior tesouro, Rosa! Eu não estaria aqui senão fosse... Eu perdi tudo porque o seu marido decidiu se virar contra mim. — ela olhou para a minha barriga e seus olhos encheram-se de lágrimas. — Preciso da sua ajuda.