42 - Consequências

346 28 7
                                    

Obrigava-se a contemplar o verde tedioso em vez do próprio reflexo na janela, apegar-se a maciez do banco e o conforto do carro silencioso não afastava os pensamentos obsessivos os quais contavam e recontavam todos os eventos responsáveis por aque...

Йой! Нажаль, це зображення не відповідає нашим правилам. Щоб продовжити публікацію, будь ласка, видаліть його або завантажте інше.

Obrigava-se a contemplar o verde tedioso em vez do próprio reflexo na janela, apegar-se a maciez do banco e o conforto do carro silencioso não afastava os pensamentos obsessivos os quais contavam e recontavam todos os eventos responsáveis por aquele desfecho, quieta e ensimesmada no banco de trás, questionava sobre o que fazer da própria vida ao retornar para Santa Fé.

Não queria considerar nada dito por Gabriel no encontro fatídico que mudou todo o rumo, roubando de Ayla a fantasia efêmera de conviver com Andras. Ou devesse chamá-lo de Lúcifer? Muito do que antes não tinha capacidade de compreender tornava-se claro, o sol surgia entre as nuvens negras do céu da própria mente. Teve por obsessão na adolescência a figura de Lúcifer.

A avó religiosa a obrigava ir à igreja protestante e mencionado com certa regularidade, aventurou-se em procurar a respeito do anjo caído, o mais belo e perfeito entre todos os anjos. Seus motivos nunca foram lúcidos, mesmo ali no banco do carro em direção ao aeroporto, não conseguia enumerar o que a levou acreditar que pudesse compreendê-lo, talvez a rebeldia e autonomia as quais faltaram a ela, sempre tão dedicada a empurrar tudo com a barriga.

E quando abandonou a igreja e se envolveu com o ocultismo, realizou vários rituais para contatar Lúcifer. Assim a encontrou. Andras de certa forma era o próprio pai, como ela era Gabriel. E por mais que a essência sussurrasse em sua mente, mostrando em sons, aromas e imagens o que necessitava fazer, onde se encontravam os filhos de Rafael, Uriel e Mikael, havia a Ayla a qual estava tão apegada que não queria deixar partir. Aspirava uma vida comum entre os humanos, um casamento, o playground para as crianças no quintal.

— Se importa se eu ligar o rádio?

O motorista, um homem jovem de sobrancelhas fartas e semblante risonho como nada no mundo fosse capaz de o preocupar, parecia uma coruja e piscou algumas vezes enquanto a encarava entre os bancos dianteiros aguardando por sua resposta. Não soube dizer o que a fez hesitar, se tratava de um mero taxista. Balançou a cabeça.

— Vou apreciar ouvir musica — respondeu, desconcertada.

— Me chamo Samyaza, mas pode me chamar de Samy.

Quem se importava? Podia se chamar Judas, não fazia a menor diferença, não quando a tristeza corroía o coração. No instante em que a vida se mostrava cruel. Andras nem quis acompanhá-la, no dia anterior embarcou para outro país sem qualquer promessa de se verem de novo. E odiava-se por sentir mais pesar pelo desprezo do amado do que pela morte de Beatrice. Devia festejar por estar viva?

Sem dizer palavra Samy desviou da rodovia para o acostamento e estacionou.

— Por que paramos? — Ayla perguntou.

E a resposta veio em instantes, tão logo as portas se abriram. Um desconhecido e Haniel a espremeram no meio do banco, enquanto outro homem sentou-se no assento dianteiro antes vago.

— Haniel? Como veio parar aqui?

Estava desconfortada, todos os instintos alardeavam o perigo, contudo conhecia Haniel e jamais esperaria qualquer maldade vinda do anjo protetor enviado por seu pai. O rapaz ao lado esticou a mão para o cumprimento, os olhos eram como a imensidão do mar, como se de fato contemplasse a rebentação das ondas contra as falésias no semblante plácido.

E o Verbo Se Fez Carne  ⚠️Completo⚠️Where stories live. Discover now