11 - Um Outro Dia na Vida

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O delegado não parecia interessado embora fosse desconcertante o modo como o homem parado ao lado do investigador a encarava

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O delegado não parecia interessado embora fosse desconcertante o modo como o homem parado ao lado do investigador a encarava. O final de semana a deixara paranoica. Depois de tantas informações e vivências malucas, impossível fitar o policial e não questionar se era humano ou não. Entretanto estava aborrecida pelo descaso com o qual a morte de Mirela estava sendo tratada. Culpavam a vítima. A frase trivial, porém, não menos revoltante. "A mulher que se mete numa cidade abandonada procurando por provas do paranormal só pode desejar ser assassinada." Ou ainda, "Procurou por isso." Claro, eram profissionais, as palavras usadas, dissimuladas, todavia significavam a mesma coisa.

Ayla estava chateada. Tamborilava os dedos na mesa cinza tão feia quanto todos os móveis metálicos e cinzentos do gabinete. Formou-se o nó na garganta, pois mentir de que Mirela a deixou em casa antes de seguir sozinha para a cidade abandonada a deixava desconfortável. Sequer desconfiaram. Não estavam interessados. Queriam acabar com o caso logo e arquivá-lo. Algum ladrão ou usuário de drogas fora o responsável, diziam, costumavam frequentar tais locais para se esconder ou se drogar. O delegado focou o atestado médico e analisou sua aparência, apático. Devolveu os documentos e a permitiu partir.

E o que esperar da polícia? Santa Fé, uma cidade grande do Sudeste brasileiro. Quanto mais negros, homossexuais, mulheres e pobres mortos, melhor. Ninguém se importava. Seguia-se o plano à risca, a educação precária culminava com a cultura de questionar muito pouco, em especial as autoridades. As pessoas precisavam viver na miséria para ocupar-se integralmente em sobreviver e não ter tempo para pensar. Porque pensar por si mesmo era perigoso. O indivíduo questionador é um câncer para o sistema. A massa precisa de controle férreo. Não pensar e não viver. Sobreviver. O lugar perfeito para os seres do Submundo, nada funcionava como deveria. Os bruxos e sobrenaturais tinham vida mansa ali. Não, não havia melhor região no mundo para eles.

Evitou ao calçadão, como chamavam a rua larga e ladrilhada ladeada por comércios e abarrotada de gente desde o raiar do dia. Esgueirou-se pelas ruas paralelas, algumas amplas, outras estreitas. As pessoas trotavam nervosamente atrás dela. A apatia do final da manhã, o dissabor da morte e a loucura do final de semana a carregavam para o estado letárgico. Os transeuntes não se importavam com isso, carregados com pastas de documentos, tinham compromissos a cumprir, de modo que não havia razão de olhares amistosos para Ayla. Depois de observar o tráfego por um minuto ou dois, atravessou em meio a rápida passagem dos automóveis.

Sentou-se no banco da praça. Sob a sombra protetiva da aroeira. A manhã estava fria, porém o sol morno. Idosos caminhavam ao redor, jogando migalhas para os pombos. Pombo preto ali, outro cinza acolá, ainda outro com uma mancha azul brilhante sob o olho. Arrulhos competiam com o som dos motores e buzinas. Carros seguiam velozes pela avenida, os prédios a bloquear o horizonte com suas vidraças brilhantes e círculos cinzentos de poluição diluíam-se no ar. E a espera, pois Diogo conseguiria trazer tranquilidade e rotina à sua vida, logo faria a pausa para o almoço e a encontraria.

E o Verbo Se Fez Carne  ⚠️Completo⚠️Unde poveștirile trăiesc. Descoperă acum