31 - Magia

275 32 11
                                    

Momentos antes

Oops! This image does not follow our content guidelines. To continue publishing, please remove it or upload a different image.

Momentos antes...

Gar aguardava por Andras na calçada, recostado à parede do comércio. Pessoas e barracas se aglomeravam na praça principal da pequena cidade, os sinos dobravam na única torre da igreja no centro da praça. A noite engolia ao mundo com sua boca imensa contrastando com as bandeirolas coloridas e farfalhantes as quais adornavam a praça.

O andar arrastado do homem abatido como se acabasse de saber de uma grande desgraça trombando com outro corpulento devorando um pedaço de bolo, misturavam-se as crianças que puxavam as saias das mães apontando para brinquedos dependurados nas barracas, um casal se beijava sob a copa desnuda da árvore. Deu o último trago no cigarro e jogou a bituca que ao bater contra a calçada imunda o moveu para um estado de sonho. E outro mundo se sobrepôs sobre a cidadezinha. E como se tivesse apertado o botão de uma bomba nuclear, a onda de choque passou pela cidade, estourando vidros, transformando as pessoas em pó, deixando um rastro de destruição e o vazio da desolação.

O céu enrubesceu, nuvens densas de fuligem rodopiaram velozes. O som de cascos de cavalos e as trombetas como um prenúncio da chegada dos cavaleiros do apocalipse. Houve o primeiro som, abafado, como uma gota grossa e pesada a bater contra uma garrafa plástica, depois outro som e uma chuva de pássaros despencou sobre a cidade, todos mortos, criando um tapete emplumado e sinistro.

O som da freada brusca, os pneus queimaram no asfalto e encheu o ar com o fedor da borracha. O estrondo das madeiras se despedaçando misturava-se à gritaria histérica. E a desolação do mundo sobreposto ao dos homens mesclou-se na algazarra da praça. Pessoas ensanguentadas e feridas dependuradas nos ombros daqueles aos quais conseguiram se livrar do acidente, possíveis cadáveres amontoados sobre os gravemente feridos, crianças chorando, mulheres gritando. Não apenas um carro esteve envolvido no acidente, e sim três. E o zunido peculiar como do vento soprando num tronco oco.

— Gar, tem alguma coisa errada acontecendo! — Andras anunciou ao deixar a loja.

Saber não se tratar de premonição não o deixou mais calmo. E enquanto caminhava em passos rápidos em direção ao carro, a certeza de que Beatrice tinha algo a ver com aquilo o atingia feito soco no estômago. A porta do automóvel se fechou num estrépito abafadiço. E angustiou-se ao pensar nos Nigba, na possibilidade do fenômeno ser percebido ao redor do globo e tornarem-se conscientes de que sua princesa estava viva. A magia de Bia sempre tão devastadora e barulhenta.

Sobrepor mundos era uma façanha dificílima, impossível para a maioria. Visionários como ele seriam capazes de observar o novo mundo, para todos os outros tudo permaneceria o mesmo, exceto pelas mudanças sutis nos pensamentos e sentimentos, aumentos de crimes, loucuras e desvarios. Assombrações, aparições, doenças. Hospitais cheios, delegacias lotadas, acidentes em todas as áreas. O mais trivial resultando em erro gravíssimo. Doentio e, ainda assim, imperceptível.

E os Nigba. Trazer outra dimensão para justapor o mundo físico era crime. E dado a complexidade e poder necessário, a lista de suspeitos seria diminuta. E pelo odor de confusão e o tom desértico da magia, sua princesa estava envolvida. Andras dirigiu em alta velocidade e Gar inquietou-se ao não ver o próprio carro estacionado diante da residência.

E o Verbo Se Fez Carne  ⚠️Completo⚠️Where stories live. Discover now