14 Poder

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Tempo demais

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Tempo demais. Passou-se tempo demais e ninguém falou com Beatrice. Estava na segunda garrafa de tequila, e sabem os deuses quantas outras de gim e conhaque tomou antes disso. As pessoas dançavam, transavam, bebiam, saltavam, caíam pelo corredor escuro. O ar vaporoso, quase irrespirável. O corpo sacolejando pela vibração da musica eletrônica. E ninguém a abordou. Ninguém interessado em seduzi-la, sintomático sem dúvida, ainda mais na Sunshine, onde as pessoas transariam com absolutamente qualquer coisa. O moço dançando com a coluna da parede e a moça rebolando no tamborete eram significativos, figuravam a verdade universal. Balançou a cabeça em concordância e entornou a tequila.

Havia tensão no ar, indiscutível. Íons negativos e positivos se formavam na atmosfera como resultado da tensão e radioatividade. Tóxico. Se Bia se esforçasse um pouco mais, veria minúsculos raios de eletricidade e estática. Discrição, qualidade pela qual os bruxos não podiam se vangloriar, e faltaram dedos nas mãos e nos pés para contar quantos passaram a encarando e ainda assim não a abordaram. O que estavam esperando? Kael chegar? O sorriso de Beatrice se abriu, todos a resistiam, porém não ele, não Cassius.

— Outra tequila. — Jogou a comanda sobre o balcão. E o encarou com o olhar mais sedutor e maligno do seu arsenal de sedução. Cassius tinha lá seu charme embora bruxos não trouxessem boas recordações, todavia depois de várias bebidas quem se importava com memórias?

— Não importa o quanto tente, jamais saberei o que esperar de você — Cassius sussurrou no ouvido e o roçar de seus lábios produziu uma onda de calafrios em Beatrice.

Talvez o bruxo não pudesse, não obstante Beatrice sabia e a noite não seria nada fácil. Não, não seria. A palidez e a beleza sobrenatural o denunciavam. Acompanhando Cassius como guarda-costas, Hugo Theodoro, vampiro antigo e bem conhecido, definitivamente não devia estar ali. Desde quando os Maier estavam andando com os sanguessugas? Não trouxe nenhuma arma contra vampiros, nunca precisou, sempre andou na linha com os sobrenaturais, na medida do possível, claro. Pegou a garrafa cheia e apertou o celular no bolso, melhor se certificar de estar à mão, nunca se sabe quando é necessário pedir por resgate.

— Desculpe te fazer esperar. Estou tendo uma noite cheia.

— Muitos problemas?

— Sim, muitos. E você é o único problema ao qual não gostaria de ter essa noite.

— Eu não vim causar confusão, Cassius.

— Você é o prenúncio do caos, Beatrice. Sempre achei graça quando me falavam isso, porém com o tempo fui obrigado a concordar.

Beatrice tirou a pequena ânfora da bolsa e mostrou para Cassius. Delicada e antiquíssima, em ouro envelhecido com rubis cravejados nas alças. As letras do alfabeto árabe transcorriam nas pupilas dilatadas do bruxo, cada uma das quais estavam inscritas no corpo bojudo do objeto brilhante. Moveu o vaso, mostrando o símbolo incrustado em lápis-lazúli e fios de ouro na tampa. Sorriu, deleitosa, quando o bruxo esticou a mão para agarrá-lo, fisgado e fascinado, e afastou a peça. Cassius fechou o punho no ar e entreolharam-se. Item raro e valiosíssimo, especialmente para bruxos. O Maier queria. Ah se queria! Reconhecia o desejo nos olhos dos homens como ao próprio rosto no espelho. Febril, incômodo, urgente. O cheiro do desejo ardente. Implorando para ser saciado.

E o Verbo Se Fez Carne  ⚠️Completo⚠️Where stories live. Discover now