22. O Guardião

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Faltava pouco para o amanhecer

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Faltava pouco para o amanhecer. A madrugada fria trouxe os primeiros flocos de neve que caíram na grama molhada, logo coberta por uma camada fina e branca de gelo. As paredes e até mesmo o teto da Casa dos Gritos parecia protestar sob o vento que uivava do lado de fora. A bruxa desceu a escada espiral que dava para a cozinha, no subsolo. Ela procurou uma caneca para a infusão diária de ervas. Sua líder insistia em que a casa era a única entrada clandestina para o castelo de Hogwarts.

E lá estava. Arabella Lambert. Uma bruxa de quase 500 anos presa em um corpo jovem, porém cansado. E com a missão infinita de evitar o fim do mundo.

Eu quero morrer.

A bruxa soprou de leve a água dentro da caneca. A magia fez uma fumaça espiralada sair instantaneamente, aquecendo-a. Sua expressão estava tensa quando colocou algumas folhas e inalou o aroma de funcho e hortelã. Bebeu um gole imaginando como seriam os próximos anos ali.

Anos. Nunca me acostumarei com o peso do tempo.

Pensou em Aberforth Dumbledore. Talvez ele tenha feito a escolha certa ao recusar o cálice da imortalidade. Ela disfarçou o choque na noite anterior, ao perceber nele as pálpebras caídas e a pele marcada por manchas do tempo e rugas. Apesar das marcas inquestionáveis da velhice, ele ainda era um belo homem. Ela sabia que o bruxo não havia se arrependido da escolha. Em um futuro próximo, Aberforth seria apenas um corpo sem vida sob uma lápide. Ele a deixaria. Era isso que Arabella não conseguia suportar. Ou perdoar.

Eu quero morrer.

Ainda perdida em pensamentos, ergueu os olhos e enxergou duas figuras humanas. Um barulho de vidro quebrando encheu o espaço. Não se importou que o chá derramado tivesse queimado seus pés quando reconheceu Alvo Dumbledore e Severo Snape parados lado a lado. Imediatamente conjurou uma corrente de fogo que serpenteou de sua varinha em direção aos dois bruxos. Snape fez um gesto rápido e lançou um protego maxima. No mesmo instante, a corrente se voltou contra a bruxa em forma de poeira. Ela ficou atordoada e recuou, enquanto pratos e copos caíram no chão, tinindo e estourando.

Dumbledore combinou seu feitiço com o de Severo e no mesmo instante havia uma barreira de proteção entre eles e a bruxa. Ela se tornou em uma névoa cinzenta e enlouquecida, rodopiando até perto do limite traçado. Lambert golpeava o escudo com violência ainda na forma de sombras. Mesas e cadeiras se juntaram à pilha de vidros quebrados no piso de madeira. Trovões ecoaram. E depois, o nada.

Raios iluminavam como flashes de luz e Snape reconheceu aquele maldito quarto no fim do corredor. Ele não estava mais na Casa dos Gritos. Um vento gelado e entorpecente atingiu sua pele ao visualizar a porta quebrada no chão e muitas lascas de madeira em volta. Uma luz no interior oscilava.

Quando atravessou o espaço e parou no batente da porta, viu o corpo inerte de Lilian Evans em sua frente. Cacos do abajur estavam em volta de seu corpo caído. A luz fraca iluminava o belo rosto lívido com olhos vítreos e opacos. Lilian olhava eternamente para o berço no canto do quarto em direção ao menino que chorava de forma convulsiva em plena agonia. Uma marca pulsava na testa da criança, tão viva e forte como se tivesse acabado de ser feita.

As Bruxas da Noite  🌖🌘Where stories live. Discover now